Topo

Investigados investigando o esporte; quem são os membros da CPI do Futebol

Vinícius Segalla

Do UOL, em São Paulo

24/11/2015 15h00

A CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) de Futebol no Senado, que foi instalada em junho deste ano e, no início de novembro, foi prorrogada por mais seis meses, é presidida pelo senador Romário (PSB-RJ) e composta por mais dez parlamentares que têm a missão de passar um pente fino na organização do futebol brasileiro profissional dos últimos anos, investigando possíveis crimes e atos lesivos ao esporte, seus praticantes e aficcionados.

Os senadores da comissão foram escolhidos pelos membros das bancadas de que fazem parte, em uma composição que obedece a representatividade dos grupos partidários do Senado. Entre os que atualmente investigam os mal feitos no futebol brasileiro, há aqueles que jamais tiveram qualquer ligação com o esporte, os que são ou já foram cartolas e os que têm contra si próprios processos ou investigações em curso.

Veja, abaixo, o perfil de cada um dos senadores que compõem a CPI do Futebol.


1 - Ciro Nogueira (PP-PI) e as propinas do PP

O atual presidente nacional do PP foi presidente do River Atlético Clube, da cidade de Teresina, entre 1994 e 2000. Em 2002, o STF (Supremo Tribunal Federal) recebeu Inquérito do Ministério Público Federal  em que o então deputado federal Ciro Nogueira Lima Filho (PFL-PI) era acusado de apropriação indébita por não ter pagado parcelas no valor de mais de R$ 15 mil à Previdência Social devidas pelo clube de futebol à instituição federal. O processo corre até hoje.

Já em julho de 2013, o ministro Luiz Fux, do STF, determinou a abertura de inquérito para investigar denúncias contra o senador Ciro Nogueira, que teria desviado mais de R$ 160 mil em verbas de seu gabinete a uma empresa de um amigo pessoal. A investigação segue até hoje.

Em agosto deste ano, no âmbito da Operação Lava-Jato, o senador foi apontado pelo doleiro Alberto Youssef e pelo ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa como um dos beneficiários do esquema de corrupção instalado na estatal petrolífera brasileira. Eles afirmam que Ciro era um dos políticos que decidiam a distribuição da propina entre os parlamentares do PP.

Ciro Nogueira nega todas as acusações e diz ser inocente nos três episódios.


2 - Donizeti Nogueira (PT-TO) e a luta contra CPIs

O parlamentar foi eleito em 2014 como primeiro suplente da senadora Kátia Abreu (PMDB-TO). Em 2015, assumiu a vaga, uma vez que Abreu foi anunciada como nova ministra da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Petista desde o início de sua carreira política, em 1993, é ferrenho defensor da sigla e do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Por outro lado, se notabilizou por ser crítico contumaz da cobertura política praticada pelos órgãos de imprensa do país e também do que chama de "politização das investigações do Ministério Público e da Polícia Federal".

Também é crítico da criação de comissões de inquérito no Parlamento. Em janeiro deste ano, quando tomou posse como senador, defendeu que não fosse instaurada uma CPI para investigar os casos de corrupção na Petrobras: "Eu não sou Polícia Federal nem Ministério Público. O caso está já sendo bem investigado, tem um juiz rigoroso. Não vejo necessidade de uma CPI. Perder tempo com CPI? Para quê?"


3 - Humberto Costa (PT-PE) e as delações da Lava Jato

Filiado ao PT desde a fundação do partido, em 1980, o parlamentar nunca teve qualquer relação com o mundo do esporte. Já foi vereador (Recife), deputado estadual, deputado federal e ministro da Saúde, sempre pelo PT.

Atualmente, é investigado pela Polícia Federal e pelo MPF (Ministério Público Federal) no âmbito da Operação Lava-Jato. Segundo afirmativa do ex-diretor de Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa, em um dos seus depoimentos da delação premiada, Humberto Costa recebeu R$ 1 milhão do esquema de propinas e corrupção na estatal para sua campanha ao Senado em 2010.

Costa disse que o dinheiro foi solicitado pelo empresário Mário Barbosa Beltrão, amigo de infância do petista e presidente da Associação das Empresas do Estado de Pernambuco (Assimpra). Além disso, o ex-gerente da Petrobras Carlos Alberto Ferreira disse que duas empreiteiras do cartel alvo da Lava Jato receberam R$ 14 milhões para repassar a campanha de governador em Pernambuco de Humberto Costa, em 2006. O parlamentar afirma que "repudia de forma veemente as acusações criminosas feitas contra ele, e acionou a Justiça para que elas sejam postas à prova ante as autoridades responsáveis".


4 - Zeze Perrella (PDT/MG) e o processo por improbidade

O empresário e ex-presidente da Fiemg (Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais) é conhecido cartola brasileiro. Foi presidente do Cruzeiro de 1995 a 2002 e de 2009 a 2011, totalizando quatro mandatos.

Em junho de 2010, foi eleito primeiro suplente na chapa de Itamar Franco (PMDB-MG) ao Senado. Com a morte de Itamar, Perrella foi empossado em 11 de julho de 2011 para cumprir o restante do mandato. Na época, era investigado por suspeita de lavagem de dinheiro na venda do zagueiro Luisão, em 2003, e por suposta ocultação de patrimônio. O processo segue tramitando no STF.

Já em novembro de 2013, a Polícia Federal apreendeu um helicóptero de uma empresa da família de Perrella que transportava em seu interior 445 quilos de cocaína. Tanto o senador como seus filhos (proprietários da empresa dona do helicóptero) alegaram que a culpa era do piloto, que não sabiam que a droga estava sendo transportada na aeronave. O piloto foi preso e a família Perrela não foi acusada de crime algum.

Finalmente, em julho deste ano, o Ministério Público de Minas Gerais entrou com ação por improbidade administrativa contra o senador por enriquecimento ilícito e lesão ao erário entre os anos de 2007 e 2010, quando exercia o mandato de deputado estadual. A investigação afirma que Perrella recebeu reembolsos por despesas com verba indenizatória no valor de quase R$ 1,3 milhão, mas os gastos ressarcidos não tiveram relação com a atividade parlamentar. O senador nega todas as acusações contra si.


5 - João Alberto Souza (PMDB-MA) e o governo "90% honesto"

O senador deu início a sua carreira política em 1971, quando se filiou à Arena, partido de sustentação da ditadura militar que governava ao país. Desde então, passou por PDS, PFL e PMDB, onde está até hoje.

Em 1986, foi eleito vice-governador na chapa encabeçada por Epitácio Cafeteira. Em 1988, deixou o governo para candidatar-se à prefeitura em uma cidade do interior do Maranhão. No ano seguinte, voltou à vice-governadoria, mas passou a ter seu mandato questionado judicialmente.

No ano seguinte, Cafeteira deixou o governo maranhense para concorrer a uma vaga ao Senado, e João Alberto assumiu o cargo, sob protesto da Assembleia Legislativa do Estado. Para manter-se no posto, cercou de policiais a sede do governo, ordenando que atirassem em caso de tentativa de invasão. O governador, então, dirigiu-se a seu gabinete com um revólver calibre 38 nas mãos, esperando pela invasão, que não ocorreu.

Ao terminar seu mandato, o então governador disse que tinha feito um governo "90% honesto". Atualmente, ele é presidente do Conselho de Ética do Senado.


6 - Romero Jucá (PMDB/RR) e a farra nas obras da Copa

O senador roraimense travou contato próximo com os dirigentes do futebol brasileiro durante os anos que antecederam a Copa do Mundo de 2014, com atuação fundamental na criação de leis e projetos que delinearam a preparação do país para o Mundial de futebol.

É de autoria de Jucá, por exemplo, uma norma, de 2013, que tirou dos governos estaduais e municipais a obrigação de executar dentro do prazo as obras a que se comprometeram para a Copa do Mundo de 2014. Sua resolução permitiu que todas as obras e projetos destinados à Copa que não ficassem prontos a tempo do torneio pudessem ser concluídos depois do evento, ainda assim mantendo as mesmas condições de financiamento facilitado e regras de licitação flexíveis que foram criadas exclusivamente para viabilizar a execução dentro dos projetos aprovados para o Mundial de futebol.  

O senador também é autor de emendas ao Orçamento da União que visavam destinar R$ 100 milhões de dinheiro federal para a construção de um estádio em Boa Vista, em Roraima, para que a cidade pudesse competir a sede de treino de alguma seleção que viria disputar a Copa. Nenhuma seleção foi a Roraima, mas a verba saiu, e o estádio ainda não ficou pronto.

7 -  Omar Aziz (PSD/AM) e seus estádios "Padrão Fifa"

 

O ex-governador do Amazonas é o responsável pela construção de três estádios padrão Fifa em Manaus, a um custo de mais de R$ 800 milhões, 100% custeado pelos cofres públicos. O maior e mais caro deles, a Arena Amazônia, não é utilizada pelos clubes nos campeonatos estaduais e regionais porque é muito grande e a média de público dos times do Amazonas é de menos de 1.500 torcedores por jogo. O estádio erguido por Omar Aziz dá um prejuízo de mais de R$ 500 mil por mês aos cofres do Estado.

Em março de 2014, em entrevista concedida durante a inauguração da Arena Amazônia, o governador foi questionado por um repórter da ESPN (rede internacional de televisão, cuja sede da unidade brasileira fica em São Paulo, Estado da região Sudeste do país) sobre o que seria feito do estádio construído em Manaus pelo poder público após a Copa do Mundo, considerando as baixas médias de público do futebol no Estado.

Sua resposta foi: "Isso é problema nosso, não é de vocês. Isso é problema do povo amazonense, não é teu. Não é problema da imprensa do sul (sic). É nosso o problema, deixa com a gente. Se nós tivemos competência para construir uma arena desse porte (...) nós teremos competência para dar um legado.

8 - Paulo Bauer (PSDB/SC) e os funcionários fantasmas

O senador nascido no município de Blumenau jamais teve envolvimento com o esporte. Em sua carreira política, as maiores polêmicas sempre foram ligadas à contratação de funcionários fantasmas em gabinetes legislativos.

Em uma conversa telefônica interceptada pela Polícia Federal em 2009, o então deputado federal Paulo Bauer admitiu que usou uma funcionária fantasma para repassar o salário para um correligionário no Estado. Na conversa, o deputado afirma a um ex-servidor da Casa que mandou dois assessores procurarem “uma mulher” para “emprestar o nome”. Essa é a gíria para o esquema: “emprestar o nome” significa aceitar a contratação sem ficar com o salário integralmente, de modo a que os recursos possam ser desviados. O áudio de Bauer contando o que fez pode ser ouvido aqui.

Posteriormente, o parlamentar negou que fosse verdade o que ele próprio tinha dito. As investigações seguiram por mais dois anos e acabaram arquivadas por falta de provas.

9 - Davi Alcolumbre (DEM/AP) e o posto da família

 

O senador de 38 anos acumula mais experiência e passagens polêmicas na política do que faz crer sua relativa juventude. Já foi vereador e deputado federal (de 2003 a 2015) no Amapá.

Foi quando era membro da Câmara dos Deputados que se envolveu no caso de maior repercussão de sua carreira. Dono de uma verba de gabinete para consumir gasolina de R$ 4,5 mil por mês, que deveria ser utilizada em suas locomoções tanto em Brasília quanto em sua base eleitoral (Macapá), no ano de 2013, Alcolumbre gastou 100% do valor de gasolina em um só posto de combustível: o Salomão Alcolumbre & Cia. LTDA, em Macapá.

Não é mera coincidência o nome do posto. Salomão Alcolumbre era tio do então deputado Davi Alcolumbre. Além de tio do parlamentar, era suplente do senador José Sarney (PMDB-AP). O fundador morreu em 2011, mas o posto continua sob o comando da família do agora senador.


10 - Fernando Collor (PTB-AL) e os carros de luxo apreendidos

O ex-presidente Fernando Collor de Mello dispensa maiores apresentações. Foi eleito ao cargo máximo da República em 1989, mas renunciou ao posto em 29 de dezembro de 1992, horas antes de ser condenado pelo Senado por crime de responsabilidade, o que o fez perder os direitos políticos por oito anos.

No ano passado, foi eleito senador. Em setembro deste ano, Collor foi denunciado pela Procuradoria-Geral da República por corrupção e recebimento de propina, em um dos inquéritos da Operação Lava Jato.

Investigado pela Polícia Federal, teve cinco carros de luxo apreendidos pelas autoridades em julho deste ano: um Lamborghini, um Bentley, uma Range Rover, uma Ferrari e um Porsche. No mês passado, quatro desses carros foram devolvidos a Collor, mas os documentos permaneceram retidos. Ele apenas ganhou a autorização de fazer a manutenção dos veículos, não pode utilizá-los até o fim das investigações.