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Da euforia ao vexame. Derrota do Inter para o Mazembe completa 5 anos

D"Alessandro (foto) e Eduardo Sasha são os únicos remanescentes de 2010 - Vipcomm
D'Alessandro (foto) e Eduardo Sasha são os únicos remanescentes de 2010 Imagem: Vipcomm

Jeremias Wernek

Do UOL, em Porto Alegre

14/12/2015 06h00

Durante 36 anos, 14 de dezembro gerou só boas lembranças para a torcida do Internacional. Desde 2010, contudo, as memórias do primeiro título do Campeonato Brasileiro ganharam companhia. As reminiscências do jogo contra o Mazembe completam cinco anos nesta segunda-feira. A viagem, o clima eufórico, o jogo ruim. O sonho do bicampeonato deu lugar a um fracasso e mudou o clube.

Passados 1826 dias desde a derrota em Abu Dhabi, já há um diagnóstico comum entre os participantes da campanha da campanha do Inter no Mundial de Clubes de 2010: houve euforia demais e bola de menos.

“Nós erramos. Não blindamos os jogadores, a delegação toda. O que fizemos em 2006 (título mundial em cima do Barcelona) fez a gente achar que seria fácil. Se criou um otimismo muito grande e este foi o erro. Nós, da diretoria, não ajudamos a controlar”, diz Fernando Carvalho, à época vice de futebol.

Não havia sinal de salto alto, mas pequenos episódios se juntaram durante toda a viagem. As baixas de Rodrigo e Glaydson às vésperas do embarque, a escala em um aeroporto nigeriano sem ninguém à espera do Inter, treinos com atletas árabes para completar os times e contato diário, constante e intenso com os torcedores. Um ambiente muito diferente do vivido no Japão, quatro anos antes.

A viagem

Antes do embarque, os jogadores participaram da exibição do filme a cerca da conquista da Libertadores. Diante de 22 mil pessoas no Beira-Rio, o zagueiro Bolívar prometeu o título. O deslocamento até os Emirados Árabes foi feito com avião fretado e repleto de torcedores. Durante a viagem, a comitiva oficial ficou presa na Nigéria durante quatro horas – para reabastecimento e confirmação de rota. "Foi um erro fretar o avião, foi um erro de logística que atrapalhou mesmo", confessou outro dirigente da época.

Desgastado o elenco pisou em Abu Dhabi e foi recepcionado em um hotel misto. Ou seja, o QG do clube teria durante todo o tempo os funcionários da logística, do estafe como um todo, e torcedores. Muitos torcedores.

O jogo

A preparação para a estreia no torneio foi diferente também. Sem dois jogadores, um por trâmite burocrático e outro por lesão, o Inter pediu para Abel Braga enviar um jogador do seu time da época (o Al-Jazira) para completar os dois times durante os treinos.

Celso Roth trabalhou dias a fio um esquema e no jogo com o Mazembe, começou com outro. Ainda assim, o Inter começou em cima. Teve uma chance clara com Rafael Sobis nos primeiros instantes. Mas foi para o intervalo empatando por 0 a 0. Na etapa final, a ansiedade chegou e o rival africano se soltou. Kabangu e Kaluyituka marcaram os gols e transformaram o sonho em pesadelo.

“Eu falei para não fazermos várias coisas e elas foram feitas mesmo assim. Não mudaria nada (no time). Nada, nada. Fizemos a preparação como ela deveria ter sido feita, mesmo que muitos tenham dito que poderíamos ganhar o Brasileirão daquele ano. (...) Foi e sempre será a grande decepção (Inter x Mazembe). Mas olhando hoje, vejo que perdemos quatro ou cinco gols indiscutíveis”, disse Celso Roth, treinador à época, em entrevista à Rádio Gaúcha.

Depois do jogo

A marca da derrota na semifinal foi grande e dura. A frustração da torcida, a corneta dos rivais em Porto Alegre e por três anos o status de único sul-americano a ficar fora da final do Mundial (em 2013 o Atlético-MG perdeu para o Raja Casablanca e passou a fazer companhia nesta lista). Ferido, o Inter mudou em ritmos diferentes.

Celso Roth foi demitido após a primeira derrota do time em 2011. Um claro ato cheio de resquício do Mundial – e olha que ele renovou o contrato após a campanha frustrante nas arábias. O time também mudou bastante, mas precisou de mais tempo. Somente dois atletas da lista de inscritos permanecem no clube atualmente: D'Alessandro e Eduardo Sasha.

Oscar e Leandro Damião, reservas em Abu Dhabi, se tornaram peças vitais nos dois anos seguintes. Alecsandro saiu da equipe e foi negociado com o Vasco. Rafael Sobis, herói em 2006, deixou o clube magoado pela postura da diretoria em relação ao seu empréstimo.

D’Alessandro e Índio resistiram. O meia segue no Beira-Rio até hoje e o zagueiro se aposentou no final de 2014. A euforia em demasia, citada agora por dirigentes, fez o Inter aprender da pior forma. Cinco anos depois, o 14 de dezembro também virou um dia para se lembrar e reforçar as lições de Abu Dhabi.