Topo

Boiadeiro diz que foi queimado na seleção por pênalti e crítica de Galvão

Marco Antonio Boiadeiro ajuda jogadores a terem espaço no futebol  - Reprodução/Facebook - Reprodução/Facebook
Marco Antonio Boiadeiro ajuda jogadores a terem espaço no futebol
Imagem: Reprodução/Facebook

Rodrigo Garcia e Vanderlei Lima

Do UOL, em São Paulo

07/01/2016 06h00

A tarde de 27 de junho de 1993 tem um sabor amargo para o ex-jogador Marco Antônio Boiadeiro. Na ocasião, o atleta do Cruzeiro defendia a seleção brasileira na Copa América de 1993, que era disputada no Equador. No estádio Monumental, em Guayaquil, a disputa das quartas de final contra a Argentina terminou empatada em 1 a 1 no tempo normal, levando a partida para a decisão por cobranças de pênalti.

Após todos os jogadores converterem as cinco penalidades de cada time, a disputa foi para as cobranças alternadas. Foi aí que começou o fim do sonho de Boiadeiro de disputar uma Copa do Mundo. Responsável por realizar a sexta cobrança, o jogador acabou batendo mal e viu Goycochea defender o chute. No instante seguinte, Jorge Borelli marcou e decretou a eliminação brasileira, mudando para sempre a vida de Boiadeiro.

“Foi o pior momento da minha vida, porque, independentemente de você ser convocado ou não, mesmo sendo o pior momento da minha carreira no futebol, eu não deixei de bater o pênalti. Teve gente que falou não, disse que não estava bem. Como eu nunca tinha ido para a seleção, penso que eu fui bem (nos jogos), se me dessem uma chance a mais eu poderia ter permanecido e disputado até a Copa de 94”, contou o ex-jogador em entrevista ao UOL Esporte.

Além de sentir o peso da eliminação, Boiadeiro teve que passar a conviver com outra preocupação: o julgamento das pessoas. Muitos torcedores acharam que o ex-jogador foi displicente em sua cobrança, facilitando o trabalho de Goycochea. Porém, a crítica que mais magoou o jogador foi feita pelo narrador da Rede Globo, Galvão Bueno. Durante a transmissão, o narrador chegou a dizer que Boiadeiro foi com “displicência” e com as “meias arriadas, telegrafando o canto” para o goleiro rival (ouça narração no vídeo acima da matéria).

“Eu estava com os meiões arriados, mas eu sempre joguei assim. Ele narrou à vida inteira e nunca viu isso. Depois eu nem fiquei vendo o lance, essas coisas, eu me afastei de tudo isso. Eu tenho autocrítica, e a minha consciência é que eu sempre fiz tudo bem feito. Agora, se errei não foi por causa disso ou daquilo, só quem bate é que sabe. Displicente? O cara não sabe da situação que o cara está ali. Eu não voltei mais para a seleção depois disso, a bola tem muita política. Eu merecia mais uma chance, mas acho que aproveitaram o que aconteceu para não me convocarem mais, já tinham os jogadores que iam para a Copa de 94. Nunca mais fui convocado, nem passei perto disso”, desabafou Boiadeiro.

Amizade com Ronaldo Fenômeno surgiu a partir do “tráfico de comida”

Ex-jogador Marco Antonio Boiadeiro durante treino pelo Corinthians - Arquivo/Folha Imagem - Arquivo/Folha Imagem
Ex-jogador Marco Antonio Boiadeiro durante treino pelo Corinthians
Imagem: Arquivo/Folha Imagem

No mesmo período em que Boiadeiro passou pela desagradável situação pela seleção brasileira, uma boa amizade surgia durante sua passagem pelo Cruzeiro com um pequeno e talentoso atacante das categorias de base: Ronaldo Fenômeno. Boiadeiro era uma das referências do time e mais queridos atletas pela torcida.

“Eu vi surgir o Ronaldo. Ele era do juvenil, passou para o juniores e então começou a treinar com a gente no profissional. Só puxaram o Ronaldo porque os outros atacantes não renovaram o contrato, então foi forçado. Nas categorias de base, tem que ter coragem para lançar os jogadores, perdemos muitos jogadores por causa disso. Eu sentava com o Ronaldo, nessa época eu era ídolo, e falava para ele ficar tranquilo”, detalhou Boiadeiro.

Porém, engana-se quem pensa que a relação entre Boiadeiro e Ronaldo começou apenas quando o garoto foi integrado ao elenco profissional do Cruzeiro. Segundo o ex-jogador, ele e Ronaldo já se conheciam desde o tempo em que o ex-atacante apenas disputava partidas pelas divisões inferiores. O motivo: refeições de melhor qualidade.

“Na época de juvenil eu dava muita força para ele. Dizia para ele ir para cima dos marcadores mesmo, dizia coisas que ele não deveria fazer quando treinasse com os profissionais. Na concentração tinha a Toca (centro de treinamento dos profissionais) e a Toquinha (centro de treinamento dos jogadores da base), não podia misturar. Os nossos lanches eram muito bons, então o Ronaldo falava: ‘Você que é gente boa, tem moral, será que não tem como trazer um lanche de vocês pra gente?’. Eu enchia uma sacola com lanche, iogurte e outras coisas, mas não foi só ele que conseguiu, eu fazia com os outros também”, divertiu-se Boiadeiro.

Boiadeiro segue ajudando a revelar talentos do futebol brasileiro

Com a experiência de quem superou muitas dificuldades para triunfar nos gramados, Boiadeiro aproveita seus dias de descanso dedicando-se a ajudar outros garotos que sonham tornarem-se jogadores de futebol, mas esbarram na falta de oportunidades. No entanto, o paulistano descarta envolver-se diretamente com clubes de futebol.

“Não pretendo voltar ao futebol. Tenho um bom relacionamento no Cruzeiro, por exemplo, e caso eu veja algum menino muito bom, eu indico. Mas não sou empresário, se precisar eu ajudo algum menino a tentar ser profissional, mas só ajudo”, declarou Boiadeiro, que ainda explicou o que o afasta das funções mais diretamente ligadas ao esporte.

“Eu teria capacidade para ser treinador, mas eu não tenho interesse. Por ter vivido muito no meio do futebol, às vezes existem algumas imposições, como ter que colocar esse (jogador), tirar aquele, e isso eu não iria aceitar. Influência eu não aceito, então acho que eu seria mandado embora toda semana”, concluiu Boiadeiro.