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Ex-goleiro do Cruzeiro revela surpresa após diretor assumir compra de juiz

Vítor foi goleiro do Cruzeiro por 15 anos, como na temporada de 1983 - Reprodução Terceiro Tempo
Vítor foi goleiro do Cruzeiro por 15 anos, como na temporada de 1983 Imagem: Reprodução Terceiro Tempo

Victor Martins

Do UOL, em Belo Horizonte

12/01/2016 15h51

É produzindo cachaça na pacata Fortuna de Minas e também trabalhando como marchand que o ex-goleiro Vítor Braga leva a vida. Jogador do Cruzeiro por mais de 15 anos, entre 1969 e 1984, a tranquilidade do interior de minas, de uma cidade com cerca de três mil habitantes e cerca de 100 quilômetros distante de Belo Horizonte, foi interrompida por uma série de telefonemas nas últimas horas. Tudo por causa da revelação de Benecy Queiroz. O supervisor do Cruzeiro assumiu que já comprou um juiz e citou Vitor como o goleiro do jogo.

Foi assim, por telefone, que Vítor ficou sabendo da entrevista de Benecy Queiroz, na qual revela ter comprado um juiz e cita o ex-goleiro, segundo ele o camisa 1 do Cruzeiro na partida em questão. E a pergunta mais feita a Vítor nas últimas horas, por amigos e pela imprensa, foi se ele lembra do jogo.

“Sinceramente eu passei muito tempo pensando, relembrando toda a minha história no Cruzeiro. Desde o juvenil ao profissional, como reserva, depois titular e depois com o Raul reassumindo o gol novamente. Mas não lembrei de nenhuma situação parecida. E tenho ótima memorização. Também trabalho com artes, sou capaz de entrar na sua casa e ver um quadro e lembrar de tudo uns três anos depois, por exemplo. E guardo muitas histórias do futebol, meus amigos ficam impressionados como lembro de cada detalhe, mas não lembro de nada parecido com o que falou o Benecy”, contou o ex-goleiro ao UOL Esporte.

O ex-goleiro acredita que Benecy se confundiu ao tentar contar em uma história um pouco do que viveu nas muitas décadas dedicadas ao clube. O primeiro exemplo usado é a confusão de nomes. Vítor e Ênio Andrade, treinador citado na entrevista, jamais trabalharam juntos.

“Acho que o Benecy não está raciocinando bem. Quando o Ênio chegou ao Cruzeiro eu já não era jogador há três anos. Eu trabalhei com o Benecy por 15 anos. Passei por quase tudo com ele no futebol. Se for preciso fico aqui contando quase duas horas de histórias dele. Desde medo com tremor de terra ou do jogo que ele foi o técnico do Garrincha e eu era o goleiro. Assim como algumas bobagens nos Estados Unidos. Mas ele não precisava inventar estória com E, ele tem muitas histórias com H, coisas de verdade”, disse Vítor, que cobra uma rápida correção de Benecy.

“Ele vai ter de vir a público e assumir que se confundiu. Infelizmente ele colocou uma suspeita sobre uma entidade como é o Cruzeiro e um homem único e sério que foi o ‘Seu’ Ênio Andrade”.

No entanto, Vítor Braga acredita que existe compra de árbitros no futebol. Sem medo algum de processo, o ex-goleiro lembra de um episódio marcante na história do Cruzeiro. Mas nesse caso, o time celeste acabou bastante prejudicado por Armando Marques, na final do Campeonato Brasileiro de 1974. O Cruzeiro perdeu para o Vasco por 2 a 1 e até hoje os cruzeirenses lembram da péssima arbitragem do falecido juiz.

“Era uma coisa que sempre combatemos, coisa que sofremos muito. O Armando Marques chegou a dizer que me processaria. O Carlos Alberto Cavaleiro era supervisor do Vasco e na Copa de 1978 ele admitiu para o Nelinho que o Armando Marques estava comprado naquele jogo. O Nelinho não dava entrevista sobre isso, mas eu não tinha medo de falar e sempre disse que aquele jogo estava comprado pelo Vasco. O Armando nunca aceitou e sempre disse que me processaria, aquela coisa toda, mas nunca fez nada. Nós é que sempre combatemos e agora temos de ouvir isso”, lembrou Vítor, que já é alvo de brincadeiras por partes dos amigos, em função da revelação de Benecy.

Vítor afirma que, na sua época, era impossível pensar no Cruzeiro envolvido em pagamento ilegal para arbitragem. "Era um Cruzeiro grande que conheci. Se aconteceu alguma coisa, passou batido pelos jogadores. Só se foi depois que eu deixei o clube, pois enquanto eu estive lá não teve nada", conta o ex-goleiro, que acredita também na inocência de Benecy Queiroz.

"Convivi com ele a vida inteira, era incapaz de fazer isso. A não ser que ele tenha mudado bastante, às vezes mudou o comportamento, ao contrário ele não seria capaz de fazer isso. Acredito mesmo que ele tentou contar uma história para mostrar que passou por tudo no Cruzeiro, tentou fazer parecer hilário, mas acabou se confundindo".