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Alceu relembra cusparada em Lugano: "Jogo futebol normal, mas não sou bobo"

Alceu, ex-volante do Palmeiras, em ação por seu clube, Montedio Yamagata, da segunda divisão japonesa - Divulgação - Divulgação
Imagem: Divulgação

Vanderlei Lima

Do UOL, em São Paulo

27/01/2016 06h00

O volante Alceu jogou por sete anos no Palmeiras e ficou conhecido por seu temperamento explosivo e atitude aguerrida em campo. Em 2005, em jogo pela Libertadores, ele passou um pouco do ponto e acertou uma cusparada no rosto do zagueiro Diego Lugano, do São Paulo.

Hoje na segunda divisão do Japão, o volante de 31 anos explicou sua atitude e desabafou sobre outros problemas que teve durante a vida, como a infância em um orfanato e ausência do pai, descrito por ele como um “andarilho das ruas”.

UOL Esporte - Por que você deu a cusparada no Lugano?

Alceu - O Lugano estava dando cotovelada no nosso zagueiro, o Daniel, e eu tinha entrado no segundo tempo. Acabei tomando as dores do Daniel, que era um cara tranquilo, não era de briga. Eu acabei cuspindo na cara do Lugano. O futebol é assim mesmo. Quando você é pego é igual quando você rouba. Tem que pagar pelo crime, agora se ninguém vê, segue o jogo, porque futebol é assim, ainda mais no nosso Brasil, na América Latina, Libertadores, onde o bicho pega. Boa sorte pra ele na reestreia no São Paulo.

Eu jogo futebol normal, mas também não sou bobo de ninguém, não sou idiota. Não sou obrigado a ficar vendo as coisas, o cara fazendo palhaçada com o companheiro meu e eu ter que ficar quieto!

Você disse que já fez algumas coisas erradas, do que você mais se arrepende?

Quando você mora num orfanato você tem que aprender a se defender, muitas coisas que acontecem num lugar que só tem homem. Eu fui muito briguento, arrumava muita confusão. Era uma coisa de autodefesa minha. Mas hoje vejo que me atrapalhou muito. Se eu pudesse voltar no tempo e mudar isso, eu faria.

Você se acha violento? Está amadurecido?

Amadureci bastante sim, com a idade, com os erros. A gente tem que aprender com os nossos tombos. Hoje eu sou uma pessoa totalmente diferente do que eu era há 10 anos.

Alceu, volante do Palmeiras, se aquece durante treinamento em São Paulo (2005) - Fernando Santos/Folha Imagem - Fernando Santos/Folha Imagem
Imagem: Fernando Santos/Folha Imagem

O que faltou a você? Foi mal instruído?

Faltou alguém, faltou uma pessoa próxima pra poder ajudar, para poder auxiliar dando conselhos. Eu era jovem, imaturo, às vezes queria fazer tudo na base da ignorância, do jeito errado. Isso acabou atrapalhando bastante. Eu praticamente fui criado sem pai e sem mãe, morei em orfanato. Quando você tem pai e mãe você pode contar com eles.

Como foi a sua relação com os seus pais?

Eles se separaram quando eu era criança. Depois a gente ficou 18 anos sem se ver até que em 2011 eu acabei encontrando o meu pai de novo, a minha esposa foi atrás, conseguiu achar ele. Mas meu pai vive no mundo dele, ele é andarilho de rua, gosta de viver nesta vida.

E a sua mãe?

Quando a gente foi tentar achar o meu pai, a gente achou o rastro dela primeiro. Mas eu e minha irmã não queremos ver a minha mãe. Ela nos largou quando éramos crianças e acabamos ficando sozinhos com o meu pai. Éramos quatro crianças. Com um homem é mais difícil ter criação, mas é isso, vida que segue.

Onde está seu pai?

[risos] Meu pai é do mundo, eu não sei de onde ele está. Ele é andarilho de rua, não tem lugar fixo, não mora em lugar nenhum. Fica nesta vida de louco que ele gosta. Graças a Deus na minha profissão eu consegui me dar bem. Eu tenho uma chácara e falei pra ele que ele não precisava mais ir para rua. Que ele poderia ficar comigo em casa. Mas em 2011 ele ficou um mês e sumiu. Depois de um ano e pouco, o pessoal da família lá de Vassouras (RJ) ligou dizendo que ele tinha aparecido de novo. Ele veio, ficou três meses e depois foi embora de novo. Ele sai escondido e vai embora.

No Palmeiras quem mais o apoiou?

O Tite me deu bastante apoio. Quando ele chegou no Palmeiras eu até tinha pedido pra ir embora, e o Tite falou que queria me aproveitar pra jogar. Ele é muito diferenciado.

O que o Tite falava na época que você guarda até hoje?

Pra falar a verdade ele passava confiança, ele deixava a gente a vontade pra fazer o que a gente sentia melhor. Ele perguntava que posição eu ia render melhor. Isso dá confiança para o jogador. O Tite é diferente de todos que eu já trabalhei, ele é excelente.

Lembro daquele gol que você fez contra o Paraná em 2006, um golaço. Teve outros pelo Palmeiras?

Eu fiz uns 5, 6 gols pelo Palmeiras. Sobre este gol contra o Paraná, o Tite disse no ano passado, em conversa com um amigo meu, que lembra de mim com muito carinho e que nunca tinha invadido um campo na comemoração do gol. Ele invadiu o campo na hora que eu fiz o gol, até então é o gol mais bonito da minha carreira. Foi um pouquinho pra frente, uns 4 metros para frente do círculo do meio campo, chute forte com a perna direita.

Você pretende voltar ao Brasil ou ficar no Japão?

Eu pretendo continuar por aqui, porque o Brasil é difícil ? Quem sabe China, seria uma oportunidade boa. Vamos ver se a gente consegue trabalhar bem aqui pra conseguir uma brecha lá.