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Giovanni Augusto passou fome e atrasou aluguel no caminho até o Corinthians

Giovanni Augusto será titular do Corinthians nesta quarta contra o São Bento - Daniel Augusto Jr/Agência Corinthians
Giovanni Augusto será titular do Corinthians nesta quarta contra o São Bento Imagem: Daniel Augusto Jr/Agência Corinthians

Dassler Marques

Do UOL, em São Paulo

24/02/2016 07h55

Giovanni Augusto está bem instalado em um hotel de São Paulo enquanto espera a liberação do apartamento onde irá viver com a mulher Isabel e o filho Vitório. É o camisa 17 do Corinthians, que pagou R$ 15 milhões por ele, e tem um início que impressiona positivamente o técnico Tite. Nem sempre foi assim.

Em entrevista exclusiva ao UOL Esporte, na véspera de São Bento x Corinthians que ocorre na noite desta quarta-feira (24), Giovanni relatou uma série de situações difíceis que marcaram a trajetória de jogador: falta de dinheiro, fome, aluguel atrasado, cobranças e uma acusação que considera descabida: teria apostado pelo rebaixamento do clube que defendia, o Náutico, em 2010.

Ao todo foram sete empréstimos até a afirmação como jogador importante no cenário nacional. Ele credita esta demora a outro obstáculo: noitadas e mulheres. "Estava jogando a carreira no lixo", conta. Titular em Sorocaba na partida desta quarta, Giovanni sabe: a disputa pela titularidade definitiva no Corinthians é uma dificuldade menor perto do que o futebol colocou em seu caminho.

Confira entrevista exclusiva de Giovanni Augusto ao UOL Esporte:

POR QUE SÓ DESLANCHOU AOS 24 ANOS
Foi tudo culpa minha mesmo. Tive muitas oportunidades, no Atlético mesmo, em 2011, de aparecer para o futebol. Mas era muito novo, vivia sozinho em BH e todo mundo sabe da facilidade que o jogador tem. Admito que a noite, a farra, as mulheres tiraram um pouco do meu foco e isso acabou atrapalhando o início de carreira. Deus colocou pessoas boas, minha esposa Isabel, meu filho Vitório.

TENTAÇÕES NA VIDA DO JOGADOR
O jogador passa a infância toda preso, tendo que ter muita responsabilidade. Quando consegue o primeiro carro, um pouco de visibilidade, mídia, se deslumbra um pouco e começa o erro dos atletas. Muitos acham que já está bom. Você acha que conquistou algo no futebol e se perde no meio do caminho. Quando tem alguém do lado, que quer seu bem, acabam mostrando o lado bom. Agradeço a Deus por ter colocado as pessoas certas e por ter dado tempo de dar a volta por cima, muitos quando se assustaram não tinham mais idade. O recado a quem está começando é para não perder foco, porque é tudo passageiro, é ilusão.

AS MUDANÇAS
Eles [mulher e filho] mudaram totalmente a minha vida. Eu estava jogando a minha carreira no lixo, e desde que comecei a valorizar minha família as coisas começaram a acontecer. Acordei para a vida, não queria mais aquilo para mim. Quero dar o máximo para a minha família. A partir daquele momento eu foquei e as coisas começaram a acontecer.

SETE EMPRÉSTIMOS
Passei muita dificuldade. Lembro que, no Náutico, as duas vezes tiveram muitos problemas. O clube promete uma coisa e você chega e é totalmente diferente. É um clube muito desorganizado. Em 2010, eu praticamente passei fome no clube, fui obrigado a deixar porque tinha quatro meses de salários atrasados e sem perspectiva alguma de pagamento. Eu tinha acabado de sair da base do Atlético, o salário era muito baixo e eu estava sem condições de me manter. Voltei em 2013 e continuava a mesma desorganização. O Náutico foi o clube em que mais senti dificuldade, mas faz parte do passado.

Giovanni Augusto - Simone Vilar/Site oficial do Náutico - Simone Vilar/Site oficial do Náutico
Giovanni pelo Náutico em 2013: passagens difíceis
Imagem: Simone Vilar/Site oficial do Náutico

ACUSADO DE APOSTAR NO REBAIXAMENTO DO NÁUTICO
Foi em 2010. Me lembro que começamos o Brasileiro muito bem e fomos líderes até a 13ª rodada. Aí começaram a atrasar salários, a prometer e não cumprir nada. Aqueles com mais experiência foram abandonando o clube porque sabiam que não ia se resolver nada. Eu ganhava um salário muito baixo na época, passava dificuldades no Náutico. Estava com três meses de aluguel atrasado, o proprietário me cobrando. Eu estava sem dinheiro da gasolina, sem dinheiro para almoçar e jantar, então pedi para ir embora e não quis ficar ali.

No outro dia, teve essa história que eu tinha apostado para o Náutico cair. Nada a ver, como eu iria apostar no clube que me dava oportunidade? Por aí você vê a organização do clube. Quiseram passar a responsabilidade deles para os jogadores. Não houve nada disso que falaram, tanto que voltei em 2013.

O COLEGA DE QUARTO NO CORINTHIANS
O André é uma grande pessoa, de coração muito bom, que só traz alegria. Está sempre sorrindo, brincando, é muito bom para o grupo. Como jogador eu sou suspeito, ele sempre demonstrou muita qualidade. É um artilheiro, foi assim em todos os clubes que passou. Hoje, vejo ele com um outro pensamento, vejo o André realmente com um nível de concentração muito alto, com certeza do que quer para a vida. Tem tudo para entrar na história do clube.

FUNK COM FORRÓ
No Atlético eu me concentrava com outro, mas é até bom porque a gente ouve bastante música, faz muita brincadeira. Nós passamos as horas vagas ouvindo música ou descansando, dormindo. Escutamos de tudo: do forró de Belém ao funk do Rio que ele gosta. Nós somos bastante ecléticos (risos).

CHEGADA A SÃO PAULO
Ainda não deu para fazer nada. Não deu para sair para jantar, para passear, porque no início de ano é muita correria. São muitos jogos, de quarta e sábado, mas vi que São Paulo é uma cidade muito boa, muito grande, com coisas boas para se fazer com a família. Eu ainda quero sair para jantar na folga, gosto de levar meu filho a um parque.

SOZINHO NA CAPITAL
Já está praticamente tudo certo para aluguel de um apartamento. A dona me pediu uns dias para retirar as coisas, então minha esposa e meu filho estão aguardando. Até semana que vem tudo se resolve, por enquanto estou vivendo em um hotel que tem parceria com o clube.

Giovanni Augusto ainda espera chegadas de esposa e filho em São Paulo - Arquivo Pessoal - Arquivo Pessoal
Giovanni Augusto ainda espera chegadas de esposa e filho em São Paulo
Imagem: Arquivo Pessoal

TRANSFERÊNCIA RELÂMPAGO
Lembro que primeiro surgiu o comentário de que o Corinthians estava interessado, mas as coisas se resolveram mesmo em dois dias. Cheguei para trabalhar, a diretoria do Atlético me chamou para conversar, falou da situação e disse que queria saber de mim o que eu achava. Falei que era óbvio que eu tinha muito interesse, sendo o Corinthians um dos maiores clubes do nosso país e vi que seria bom para mim e para o Atlético, pois viriam a ganhar um bom dinheiro. Foi um clube que sempre deu toda estrutura para um jogador profissional trabalhar, é merecedor de tudo na transação.

FUTEBOL COLETIVO DO CORINTHIANS
Tem que elogiar bastante o Tite, que é um grande treinador, um cara que vive 100% o clube e o futebol, o que acaba nos ajudando bastante. Ele sempre chega com informações novas. Um dos principais fatores que me conquistou é o Tite com o conhecimento dele. Em segundo lugar, os jogadores com comprometimento abraçam a ideia e procuram colocar em campo tudo o que ele passa e você vê que faz a diferença. São dois fatores muito importantes no Corinthians.

TITE PEDIU A REFORÇOS QUE CONQUISTEM A POSIÇÃO
Ele conversou com todo o grupo. Falou que o futebol é momento, que acredita no potencial de todo mundo e na hora certa todos terão sua chance no clube. Ele está certo, é muito justo, até porque quem está há mais tempo conquistou títulos importantes. É mais do que justo aqueles que estão há mais tempo terem mais oportunidades. A gente procura ganhar o espaço.

Obs.: O Corinthians deve enfrentar o São Bento com a seguinte formação: Matheus Vidotto; Edilson, Felipe, Balbuena e Guilherme Arana; Willians; Giovanni Augusto, Maycon, Guilherme e Romero; André.