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Presidente desvenda máfia de aposta: "Dinheiro vivo, placar e tempo do gol"

Danilo Lavieri

Do UOL, em São Paulo

09/03/2016 17h00

A Máfia das Apostas no futebol funciona praticamente como uma empresa. Tem jeito de agir, condições de pagamento e seus representantes oficiais, que já são conhecidos no interior do Estado. As práticas se repetem sempre de forma orquestrada e já estão sob investigação do Ministério Público, Polícia Civil e Tribunal de Justiça Desportiva de São Paulo.

As atitudes foram relatadas ao UOL Esporte por diversas pessoas que já estiveram envolvidas em situações como essa. Entre eles, apenas José Carlos Pereira Neto, presidente do América de Rio Preto, da quarta divisão do Estado de São Paulo, topou falar sem a condição do anonimato. Todos os outros relataram situações parecidas, mas não quiseram aparecer na reportagem.

O Sindicato dos Atletas de São Paulo também recebeu denúncias e acionou a Polícia Federal e até a Interpol para investigação no caso. A FPF (Federação Paulista de Futebol) trata as apostas como um problema global. A entidade conta com uma parceria com a  SportRadar, que faz uma varredura para identificar movimentos suspeitos em casas de apostas. Por enquanto, além do América de Rio de Preto, Catanduvense, São José e Assisense já tiveram seus nomes ligados ao escândalo, como mostraram os jornais Folha de S. Paulo e Diário de S. Paulo.  

1 – APROXIMAÇÃO
“Chegou um representante dizendo que era empresário de jogador, se identificou apenas como Edmilson ou Ednílson, não lembro o nome. Na época, se interessaram por um jogador nosso que agora foi para o Bragantino. Foi aí que eu recebi ele na minha sala. Resolvi conversar para ver se saia de negócio”, explicou o presidente.

2 – A PROPOSTA
“Depois que a gente esteve na sala, ele abriu o jogo. Disse que o forte dele era representar as apostas, quase sempre de gente da Ásia. Disse que falaria comigo, mas que faria questão de falar com os jogadores. Na maioria das vezes, aliás, eles falam direto com o jogador. E já de cara avisa: estão com todo o dinheiro vivo, no porta-malas do carro, em euro, dólar, não sei. Pagam na hora mesmo se o pessoal topar”, completou.

3 – CONDIÇÕES DA PROPOSTA
“Ele topou pagar R$ 160 mil para que perdêssemos de 4 a 0. O jogo era bem decisivo, eu não poderia perder, não tinha como. Então, logo recusei. Ele insistiu, eu fui sendo educado com ele, mas sempre dizendo que não queria. Ele me passou os detalhes: precisávamos não só perder de 4 a 0, mas também tinha os gols certinho de quando fazer. Era sempre por faixa de minuto. De 20 a 25 era o favorito deles”, explicou.

NOTA DA REDAÇÃO: Em casas de azar, os jogadores podem não só escolher o resultado, mas podem também fazer outros tipos de apostas. Você pode apostar no total de gols do jogo, quando e como os gols serão feitos e em alguns casos até em quantos escanteios, faltas e expulsões acontecerão.

4 – A DENÚNCIA
“Eu não fui o primeiro a denunciar. Eu gosto de deixar isso claro, porque depois vão querer me matar aqui. E eu não fiz nada. Estava em uma reunião do Conselho Técnico da FPF (Federação Paulista de Futebol) e eles já tinham uma investigação sobre isso, nos apresentaram. E eu levantei a mão para falar que sabia daquilo, que realmente acontecia. Meu caso já está no Ministério Público, no TJD, na Polícia e em todo o caso. Tenho dado depoimentos a todo momento para falar disso. Isso foi em julho, mas nunca nem contei para ninguém”, ponderou o dirigente.

5 – MÁFIA NO INTERIOR
“Eu tenho lido e vi a bela reportagem que falaram do caso do Barueri. E tem Catanduvense, tem Assisense, São José também. Apesar de todos esses times estarem precisando bastante de dinheiro, eu acho muito difícil que eles tenham topado. Sinceramente, conheço os caras. Tem outros times que devem aparecer também. É só ficarem de olho nessas condições. Gols de 20 a 25 são sempre um indício.