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Seleção volta a ser sombra para estabilidade de Tite no Corinthians

Dassler Marques

Do UOL, em São Paulo

31/03/2016 08h04

Líder de seu grupo da Copa Libertadores e com a primeira posição geral assegurada no Campeonato Paulista, o Corinthians vive clima de tranquilidade no que diz respeito ao futebol. Mas, depois de ver sua equipe vencer a Ponte Preta por 2 a 1 na quarta-feira, Tite voltou a ser constantemente abordado quanto à seleção brasileira. E expôs incômodo.

Com sinais de desgaste na relação com a CBF e a pior classificação do Brasil na história das Eliminatórias, Dunga voltou a ter seu cargo ameaçado. A interferência disso é direta no Corinthians, que tem em seu treinador o favorito destacado em caso de uma mudança de comando na seleção. Não é a primeira vez que isso ocorre.

Às vésperas da disputa do Mundial de Clubes em 2012, com a saída de Mano Menezes da seleção, o Corinthians conviveu com a perspectiva de perder o treinador, que permaneceu para a conquista do título. Dois anos depois, Tite preferiu o desemprego a convites sedutores como do futebol chinês e do Atlético-MG e apostou todas as fichas em suceder Luiz Felipe Scolari após o Mundial de 2014. Já na temporada passada, os momentos de instabilidade de Dunga com a Copa América e com as Eliminatórias resgataram rumores em torno de Tite mais uma vez.

Dirigir a seleção brasileira ainda é o principal objetivo profissional do treinador do Corinthians para a carreira. Mas, nos últimos tempos, ele foi alertado por dirigentes do clube de que o momento conturbado da CBF indicava instabilidade. Tite também mantém uma posição pública de respeito à sequência para Dunga até a próxima Copa do Mundo, o que tem relação com suas expectativas.

Em 2014, o treinador ficou profundamente decepcionado por ter sido preterido na escolha para a seleção brasileira. Tite conviveu com a perspectiva de que seria o sucessor de Felipão e, a partir dessa frustração, delineou um novo plano de carreira. Por isso, assinou com o Corinthians um contrato peculiar para a realidade do futebol brasileiro, válido até dezembro de 2017, e com patamar salarial inclusive abaixo do que recebia no clube até 2013.

Não à toa, o vínculo definido por Tite e pelo Corinthians se encerra justamente a seis meses da Copa da Rússia, o que permitiria a ele novamente esperar, desempregado, por uma nova oportunidade. Mas, há um detalhe: não existe multa para rescisão do contrato. "Ele tem contrato de três anos, mas isso não tem controle. Você não pode impedir ninguém de ser o treinador da seleção brasileira, que é o auge da carreira, onde todo mundo quer chegar. É uma decisão exclusiva do Tite", chegou a dizer ao SporTV, em novembro, o presidente corintiano Roberto de Andrade.

Na quarta-feira, em meio a várias respostas em que se esquivou do assunto seleção brasileira e até disse ter dormido durante o jogo com o Paraguai, Tite mostrou uma posição clara. Com Copa Libertadores em meio a compromissos importantes da CBF (Copa América e Olimpíada), disse ser impossível manter dois cargos. De acordo com o meia Rodriguinho, os próprios jogadores têm tratado a respeito dessa perspectiva para o chefe.

Por ora, a contribuição de Tite à seleção brasileira se dá por meio do Corinthians. Só para o time principal, além do preparador físico Fábio Mahseredjian e do analista de desempenho Fernando Lázaro, cinco jogadores foram cedidos a Dunga nos últimos meses (Cássio, Gil, Felipe, Elias e Renato Augusto). Nenhum técnico teve tamanha influência no ciclo.