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Três pontos determinam racha entre Perrella e atual presidente do Cruzeiro

Zezé Perrella não descarta retorno ao Cruzeiro ao término de mandato como Senador da República - Sergio Lima/Folhapress
Zezé Perrella não descarta retorno ao Cruzeiro ao término de mandato como Senador da República Imagem: Sergio Lima/Folhapress

Thiago Fernandes

Do UOL, em Belo Horizonte

26/04/2016 06h00

Os bastidores do Cruzeiro estão agitados. Não é apenas a troca de treinador – saída de Deivid – que faz com que o clube esteja em ebulição. A um ano e meio do fim do mandato, o presidente Gilvan de Pinho Tavares não tem paz e pode ganhar um concorrente à altura: o Senador da República Zezé Perrella.

O áudio em que o ex-mandatário do clube faz críticas ao trabalho de seu sucessor evidenciou o "racha" da dupla. Mas se engana quem pensa que a separação ocorreu somente devido à falta de apoio do dirigente ao parlamentar em um possível retorno à Toca da Raposa.

Obviamente a ausência de suporte de Gilvan – mesmo que implícita – desagradou o político mineiro. As divergências, porém, se estendem aos desejos do atual presidente, de acordo com o parlamentar. Zezé Perrella revela, ao UOL Esporte, que o atual mandatário do Cruzeiro pretende uma modificação estatutária no clube.

“Tenho o maior respeito ao doutor Gilvan, mas em nenhum momento ele disse explicitamente: “Não te apoio”. Eu senti que não tenho apoio dele. Na verdade, ele disse: “Temos algumas outras opções dentro do clube que gostariam de ser, nós podemos mudar o estatuto e criar essa gestão compartilhada”. Falei para ele que acho esse modelo um fracasso”, afirmou.

“O que me preocupa é um movimento em curso, que é vontade do doutor Gilvan, de mudar o estatuto para transformar o Cruzeiro em um clube com seis presidentes. No início, há uns anos, defendi esse modelo. Mas concluí que essa gestão compartilhada foi um fracasso em Bahia, Vitória e Atlético-PR. Esse negócio de seis presidentes é um absurdo, eu jamais participaria de um negócio desses. Já fui a favor dessa tese, pensava que poderia funcionar. Mas os exemplos que tivemos têm que fazer com que isso não aconteça. Foi com o regime presidencialista que o Cruzeiro se transformou no clube mais vitorioso do Século XX”, acrescentou.

O que Gilvan de Pinho propõe, de acordo com Perrella, é semelhante ao regime do América-MG – que conta com nove presidentes eleitos. O Senador da República avalia ainda que é impossível comparar o Cruzeiro ao rival de Belo Horizonte.

“É desejo do doutor Gilvan eleger seis presidentes. Eu acho que isso gera muito ciúmes e discórdia. Eu tenho muita preocupação de tentarem mudar o estatuto e criar essa gestão compartilhada com seis presidentes. O que eu defendo é que continuemos com o regime que estamos para criar um conselho consultivo, com mais seis, sete pessoas para ajudar o presidente. Mas nunca mudar um regime presidencialista e botar seis presidentes. A vaidade vai tomar conta de tudo e vai ser um fracasso total”, analisou.

“Se tentarem mudar o estatuto, eu vou me opor a isso. Há muitos conselheiros que pensam como eu. Não podemos brincar com essas coisas. Não podemos pegar o América como um modelo, com todo respeito ao América, até porque o Cruzeiro é um time do mundo. Lá funciona, mas mesmo assim sei que tem briguinhas e ciúmes. É um modelo que não gostaria de ver no Cruzeiro”, completou.

MUDANÇA NOS PRÉ-REQUISITOS PARA O PLEITO

Bruno Vicintin, vice-presidente de futebol do Cruzeiro - Wahington Alves/Light Press - Wahington Alves/Light Press
Imagem: Wahington Alves/Light Press

Outro aspecto que incomoda Zezé Perrella é a volta da flexibilidade em relação aos possíveis candidatos à presidência. Hoje, por exemplo, o vice Bruno Vicintin não atende aos pré-requisitos para se candidatar no pleito previsto para 2017. As mudanças beneficiariam o homem forte do futebol cruzeirense, o que é reprovado por Perrella.

“Mudar o estatuto de acordo com a conveniência do momento eu não vou permitir ou pelo menos vou lutar para que isso não aconteça. Eu acho o doutor Gilvan um homem do bem e honesto. Não vou entrar no mérito de a administração ser boa ou ruim, até porque cabe a nós, cruzeirenses, fazermos. Mas não vou permitir, ou pelo menos vou trabalhar para que essas mudanças estatutárias não ocorram agora”, afirmou.

O parlamentar se lembra do processo eleitoral que acarretou na primeira eleição de Gilvan de Pinho Tavares. Ele cita o que ocorreu à época – impedimento das candidaturas de Pedro Lourenço e Dimas Fonseca – por não se adequarem à atual norma do Conselho.

“Fico chateado também quando vejo alguns movimentos. Criou-se um estatuto criando a obrigatoriedade de um conselheiro nato ter dois mandatos para poder se candidatar. À época, tínhamos o doutor Gilvan, o Pedrinho (Lourenço), dos Supermercados BH, e o Dimas (Fonseca). Com essa mudança, eliminou-se o Dimas e o Pedrinho do processo, porque eles não tinham dois mandatos de conselheiro. Eu senti aquilo como uma coisa quase direcionada para que eles não fossem candidatos, com todo respeito. Mas eu nunca me meti nas coisas do conselho. Eles sempre tiveram autonomia para definir as coisas como querem”, declarou

“Quando percebi, tinham feito essas mudanças estatutárias e com isso eliminou-se essas duas possibilidades. Não estou dizendo que foi golpe nem nada. O que não posso admitir é que voltem com a regra antiga para beneficiar possíveis candidaturas. Se não pôde para Pedro e Dimas, não deve poder para ninguém. Eu sei que há algumas pessoas que querem mudar o estatuto para que qualquer conselheiro seja eleito. Isso na verdade impede candidaturas. Mas se valeu naquela época, não podemos eliminar agora para beneficiar as candidaturas que não completam esse pré-requisito”, acrescentou.

Zezé Perrella crê que a proposta é uma forma de beneficiar a candidatura de Bruno Vicintin. Embora aponte o vice-presidente como um homem capacitado para assumir o Cruzeiro, o parlamentar não esconde a insatisfação com a alteração que pode beneficiá-lo.

“O Bruno, neste momento, não se enquadra dentro do estatuto. E mudar o estatuto para beneficiar uma ou outra candidatura não é democrático. Agir de acordo com as conveniências do momento não é correto. Se não valeu para os outros, que siga não valendo. Essa mudança não tem que ser feita para o sucessor do Gilvan, temos que fazer para frente. Acho até saudável que se dê oportunidade para outras pessoas. Achei essa cláusula fechada, impede outras candidaturas, mas se valeu quando o Gilvan foi eleito, tem que valer as mesmas regras. Nada contra o Bruno Vicintin, que é totalmente preparado”, avaliou.

COMO PODE SER ALTERADO O ESTATUTO

Assembleia Geral realizada na sede social do Cruzeiro no Barro Preto - Divulgação/Cruzeiro - Divulgação/Cruzeiro
Imagem: Divulgação/Cruzeiro

Não requer muitas complicações para se alterar o Estatuto do Cruzeiro. É necessário que haja uma Assembleia Geral, conforme a ocorrida em 22 de outubro de 2015, para que regras sejam alteradas. Na reunião, é preciso que a maioria dos conselheiros aprove as mudanças sugeridas, segundo o ex-presidente.

“Basta uma reunião. Se a maioria dos conselheiros concordar com a mudança, está mudado. Uma Assembléia Geral muda isso. O sócio do Cruzeiro tem direito de opinar, mas o sócio não é muito participativo na vida político do Cruzeiro. O conselho é mais atuante. Mas não podemos pensar nisso, porque é perigoso. O que eu alerto é que os conselheiros do Cruzeiro fiquem atentos a essas mudanças, que não podem ocorrer de forma alguma”, relatou.

POSIÇÃO DO PRESIDENTE

Presidente do Cruzeiro, Gilvan de Pinho Tavares - Washington Alves/Light Press/Cruzeiro - Washington Alves/Light Press/Cruzeiro
Imagem: Washington Alves/Light Press/Cruzeiro

Após a conversa com Zezé Perrella, realizada na sexta-feira passada (22), a reportagem do UOL Esporte tentou estabelecer contato com o presidente Gilvan de Pinho Tavares, o que aconteceu somente nessa segunda-feira (25), durante evento da Primeira Liga, ocorrido no Rio de Janeiro. Questionado sobre o fato, mandatário tergiversou:

“Estatutos de clubes precisam sempre de atualização e vamos realizar uma Assembleia (Geral) para isso”, disse o dirigente, sem ratificar o que pretende sugerir ao Conselho durante a reunião, que ainda não foi marcada.