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"Estou curado do que aconteceu", diz Willian, dois anos após 7 a 1

Willian é um dos destaques da seleção brasileira nos Estados Unidos - Rafael Ribeiro/CBF
Willian é um dos destaques da seleção brasileira nos Estados Unidos Imagem: Rafael Ribeiro/CBF

Danilo Lavieri e Guilherme Palenzuela

Do UOL, em Los Angeles (EUA)

24/05/2016 06h00

Foram só 23 minutos de participação no segundo tempo daquele jogo de 8 de julho de 2014, no Mineirão, que se marcaria como o maior vexame da história do futebol brasileiro. Willian entrou no lugar do vaiadíssimo Fred durante o segundo tempo, quando o placar já marcava 6 a 0 e já havia "virado passeio", como eternizou Galvão Bueno. Hoje, protagonista da seleção na Copa América sem Neymar, Willian se diz curado do pesadelo do 7 a 1.

Em entrevista exclusiva ao UOL Esporte dias antes de chegar a Los Angeles, nos Estados Unidos, onde a seleção brasileira realiza os treinos de preparação para a competição no país, Willian falou que Dunga é durão só na aparência, comentou sobre a conduta de Neymar e os vetos a David Luiz, Thiago Silva e Marcelo, e disse o que a Copa América de 2016 representa para uma seleção em xeque.

Eleito melhor jogador de um irreconhecível Chelsea na última temporada, o meia disse que o título inglês do Leicester faz bem ao futebol e contou sobre os momentos de Alexandre Pato ao seu lado no clube.

UOL Esporte: Hoje, dois anos depois, como você lida com o 7 a 1? Ainda procura tentar rever e entender o que aconteceu naquele dia? Como isso ainda pesa para você?
Willian:
Hoje, para falar a verdade, estou curado do que aconteceu. É claro que é difícil você ser eliminado de uma Copa do Mundo no Brasil. O pensamento depois desse jogo foi muito difícil, tentando entender o que tinha acontecido, mas com o passar do tempo você vê que no futebol sempre tem oportunidade de dar a volta por cima. Eu particularmente coloquei isso na minha cabeça. Logo depois fui convocado e vi que tinha uma nova chance de fazer diferente. Vou continuar dando meu melhor pra fazer diferente e dar a volta por cima com a camisa da seleção.

Você se considera o principal jogador dessa seleção, especialmente por causa da ausência do Neymar?
Claro que a responsabilidade é sempre muito grande, não só para mim, mas para todos. Acho que um jogador não ganha sozinho, mas se cada jogador assumir um pouco da responsabilidade, a seleção tem grandes chances de conseguir bons resultados. O importante é um grupo forte. Consequentemente as individualidades aparecem. Eu não vou ganhar sozinho, nem outro ganhará sozinho.

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Willian, minutos após o apito final do 7 a 1, no Mineirão
Imagem: REUTERS/David Gray

Hoje você é titular absoluto da seleção e teve atuações de destaque nas eliminatórias para a Copa do Mundo. Como analisa o próprio momento?
Vivo um momento bom na seleção, sem dúvida nenhuma. Venho cada vez jogando melhor, evoluindo cada vez mais. Isso é o que eu espero. Quero continuar assim, jogando cada vez melhor. Vai ter dia que a gente não vai encontrar nosso melhor futebol, mas com certeza a vontade de vencer nunca vai faltar.

Você foi chamado pelo Dunga em todas as convocações desde que ele voltou à seleção, e foi titular em todos os jogos com ele. Como é a relação com ele?
Eu particularmente sou muito grato à comissão técnica, sempre me dando oportunidade de vestir a camisa da seleção. Procuro fazer por onde. Consequentemente conquistei a confiança dele. Trabalhar com o Dunga não é difícil, é fácil. Ele parece ser durão, mas com a gente é super gente boa. Ele procura também aprender coisas novas sempre, dá a liberdade para jogadores opinarem em reuniões e até em treinos. Para mim está sendo muito bom.

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Imagem: REUTERS/Paulo Whitaker

Qual é o peso dessa Copa América para a seleção brasileira?
Na seleção brasileira a gente sempre vai ter responsabilidade de vencer os jogos e conquistar títulos. Com certeza essa Copa América é mais um desafio para nós, chance de mostrar que a seleção tem um bom futebol, jogadores de qualidade. Podemos mostrar isso dentro de campo com resultados. Se a gente fizer um grupo forte, a gente tem chances de ter grandes resultados.

O que você sentiu pelo que houve na última Copa América? Não só pela eliminação para o Paraguai nas quartas de final, mas por toda a polêmica com a suspensão do Neymar...
A gente fica triste por ser eliminado, o objetivo é entrar na competição para vencer, chegar na final. Procurar aprender, serve de aprendizado. Espero que nessa possa ser diferente, com certeza vamos chegar com uma experiência maior.

O que você pensa sobre a postura do Neymar na última Copa América?
Acho que cada jogador tem sua postura, sua maneira. Eu não tenho nada que opinar sobre o que ele fez. Se fez errado e já pediu desculpas, é esquecer isso.

Dunga decidiu não convocar David Luiz e Marcelo, e manteve o veto a Thiago Silva nessa Copa América. O que você pensa sobre as ausências? Foi pouco comprometimento que pesou?
É difícil falar. São jogadores de muita qualidade, não precisamos nem falar, eles se destacam nos clubes. Mas a seleção brasileira tem muitos jogadores, às vezes é difícil escolher, tem muita gente. Tem que entender a cabeça do Dunga.

A ausência do Thiago Silva, pela qualidade técnica e pela liderança, incomoda?
Pra mim o Thiago Silva é um dos melhores zagueiros do mundo, que eu já joguei junto também. Infelizmente ele não vai estar com a gente, mas espero que possa continuar trabalhando forte e quem sabe um dia possa estar de volta.

A temporada do Chelsea foi horrível. O que aconteceu?
Acho que a gente começou mal na temporada, perdemos jogos em casa também. Quando inicia mal o campeonato, é difícil às vezes reverter. Correr atrás do tempo perdido é difícil. Quando as coisas não vão bem é difícil entender também. Em alguns jogos a gente até iniciava melhor que o time adversários, mas em um ataque o outro time fazia gol. É aquela frase do futebol: "Que fase!" Espero que na próxima temporada a gente possa iniciar melhor.

Apesar da temporada ruim do clube, você mais uma vez se destacou e foi dos poucos que se manteve como titular sempre durante a crise...
É difícil, quando o time não está legal, você conseguir manter uma regularidade muito boa. Nessa temporada fiz isso, vim jogando melhor a cada jogo. Claro que nem sempre é possível, mas sempre entro em campo para fazer o meu melhor. Foi uma temporada para esquecer

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Willian recebe o "Player Of The Year" como melhor do Chelsea na temporada
Imagem: Reprodução/Twitter @willianborges88

Você recebeu dos seus companheiros o prêmio de melhor jogador do Chelsea na temporada. O que representa para você?
Isso é importante. É gratificante ganhar um prêmio desse e votado pelos próprios jogadores. Nosso time tem tantos jogadores de qualidade, então fiquei muito feliz por ter ganhado.

Nos últimos dois anos você se especializou em fazer gols de falta pelo Chelsea, algo que até então não era comum na sua carreira. De onde veio isso? Passou a treinar mais cobranças?
Sim. Tenho treinado sempre, depois do treino bato umas 10 bolinhas, pego 10 bolinhas e bato, para continuar aprimorando. Tem dado certo, fiz aí alguns gols de falta nessa temporada. É importante sempre estar treinador. Uma bola parada pode decidir o jogo.

Quais jogadores você gostaria de ter ao seu lado no Chelsea?
Tem muitos jogadores bons, de qualidade. Se for falar aqui vou dar uma lista com um monte. Eu gosto de alguns jogadores, mas sonhava em jogar do lado de Ronaldo Fenômeno, Ronaldinho, Zidane...

Esses já não jogam mais. E no cenário atual, quem você gostaria de ter como companheiro?
No cenário atual não sei (risos), deixo para o Roman Abramovich [bilionário russo, dono do Chelsea].

O que achou do Leicester campeão inglês? Considera a maior zebra que já existiu?
Eles têm um time de qualidade, têm jogadores de qualidade apesar de não terem nome. Mereceram ser campeões, brigaram muito a temporada inteira para isso. Isso é bom para o futebol, mostra que camisa não ganha jogo, mostra que ganha título quem trabalha forte todo dia.

Como Alexandre Pato foi recebido no Chelsea? Como foi vê-lo de perto sem jogar tanto?
Foi recebido bem, no começo fez muitos treinamentos sozinho, ele tinha acabado de ter férias, tinha iniciado uma pré-temporada no Corinthians. Não teve muitas chances, mas foi bem na que teve. Jogou dois jogos e fez um gol. Esperava que ele tivesse mais oportunidades, infelizmente não teve.

E o que ele fala sobre ficar ou não no Chelsea?
Sem dúvida ele tem a vontade de ficar, mas ele ainda não sabe o que vai acontecer. Espero que ele possa ficar. Jogador de qualidade, que quer realmente voltar a fazer diferente na Europa, como ele fez quando esteve no Milan, quer voltar à seleção brasileira. Esse é o objetivo dele.

No último ano a China apareceu sedutora para o mercado do futebol brasileiro. Como você vê o êxodo de jogadores para lá?
Difícil falar, é a cabeça de cada jogador, cada um tem seu pensamento, forma de ver o futebol. Futebol é uma profissão, a gente depende disso para sobreviver e sustentar nossas famílias. Quando tem uma oportunidade do jogador fazer seu pé de meia... Acho que é válido, não vejo por que não ir. Não temos que fazer nenhuma crítica.

Você iria no fim da carreira para lá?
Talvez sim, acho que se tivesse uma oportunidade, vendo que seria bom para mim, bom para minha família, futuro das minhas filhas garantido, eu iria sim para jogar lá. Mas não é certeza, claro. O importante é estar feliz no lugar que você sinta bem, dinheiro não é a primeira coisa.

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Imagem: Folha Imagem

Você foi revelado pelo Corinthians e sempre falou do carinho que tem pelo clube. Faz planos para voltar?
Realmente não sei assim ao certo se eu vou encerrar a carreira no Brasil. Tenho um carinho muito grande pelo Corinthians, é o clube que fui revelado e minha família é toda corintiana. Tenho muitos amigos lá, não sei se vou encerrar no Brasil ou fora, acho que ainda não estou pensando nisso.

O que você acha que ainda precisa melhorar no futebol brasileiro?
Calendário é bem puxado no Brasil. Calendário poderia melhorar um pouco, às vezes os jogadores também acabam nem tendo os 30 dias de férias. Termina dezembro e no começo de janeiro já se apresenta pra disputar estadual. Viagens, aeroportos... Aqui na Europa é diferente. Voos fretados, só com pessoal do clube. No Brasil você vai no avião junto com quem estiver lá. Seria um ponto legal se os times pudessem fretar voos para ir jogar fora.