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Novo xodó do SP vive sonho do pai e teve de "driblar" ciúme de namorada

Lucas Fernandes e a namorada - Reprodução/Instagram - Reprodução/Instagram
Lucas Fernandes e a namorada Dayane: namoro desde a escola
Imagem: Reprodução/Instagram

Juliana Alencar e Vanderlei Lima

Do UOL, em São Paulo

27/05/2016 06h00

Aos 18 anos, o meia são-paulino Lucas Fernandes tem a timidez que é muito comum na idade. Fala baixo, desvia o olhar do interlocutor. A falta de traquejo em frente às câmeras, no entanto, não lhe parece um problema quando a bola está no pé. Revelação de Cotia o garoto tem sido uma das apostas de Edgardo Bauza desde que o técnico decidiu inscrevê-lo para a fase eliminatória da Copa Libertadores.

Lucas havia sido um dos destaques da versão sub-20 da competição e, com um gol na final, ajudou o São Paulo a conquistar o título. Já no profissional, o menino que cresceu em São José dos Campos, foi aproveitado pelo argentino em partidas do Paulista e do Brasileirão. No torceio nacional, fez o gol da vitória sobre o Botafogo na estreia do clube e a assistência para o gol de Lugano na derrota por 2 a 1 para o Internacional. 

Em entrevista ao UOL Esporte, Lucas Fernandes prefere não entrar no oba-oba da torcida, que o elegeu como um dos seus xodós, e diz ainda estar se adaptando à vida no futebol profissional, iniciada nesse ano. Desde que foi promovido, teve que aprender a driblar o ciúme da namorada e o aparecimento de "falsos parças". 

Em campo, a adaptação é mais tranquila. "Eu só observo. Vejo as atitudes dos mais experientes e tento guardar na minha cabeça para quando eu estiver dentro do campo poder exercê-las", avalia. "Não me considero um cara totalmente maduro, tem que buscar pouco a pouco. Sei que tenho muito que aprender ainda, para conquistar mais autoridade".
 
INCENTIVO DE BAUZA
"Como o professor disse, não tem que ter pressa. Tem que trabalhar bastante, e eu trabalho no dia a dia para isso. Sempre trabalho forte porque eu sei que a qualquer momento ele pode precisar de mim. No vestiário, antes da partida contra o Atlético-MG, disse para jogar com o coração. Independentemente se estiver num dia ruim tecnicamente, taticamente, é com o coração que o grupo consegue as coisas".
 
TOQUES DE PH GANSO
"Já disse que sou um fã do futebol dele, é um jogador fora do normal. Ele vê coisas que nem todo mundo (vê). Me inspiro nele, vejo o que ele faz, como se movimenta, Sendo da minha posição,é importante. Pergunto algumas coisas para ele. É saber o momento de tocar, de ir para cima, de tentar uma jogada mais arriscada. Na base, a gente costumava ganhar umas jogadas que aqui, como os atletas são mais fortes, a gente perde. Essas coisas assim que a gente vai pegando experiência. Tenho a humildade de saber que eles estão num nível acima, bem acima". 
 
Lucas Fernandes - Reprodução/Instagram - Reprodução/Instagram
Lucas Fernandes levanta a taça da Libertadores sub-20: chance de repetir no profissional
Imagem: Reprodução/Instagram
 
XODÓ DA TORCIDA
"O carinho da torcida tem muito a ver com o meu trabalho dentro de campo. Consegui exercer um bom trabalho na base, saí com títulos. Mesmo com o carinho deles a gente tem que manter o pé no chão porque é o professor quem decide quem joga".
 
APOIO DOS PAIS
"Meu pai sempre foi bem presente, foi ele quem começou tudo. O sonho dele ser jogador, não conseguiu. Ele passou esse sonho para mim, desde criança. Às vezes, minha mãe achava meio ruim porque ele me levava em duas, três escolinhas, para treinar ao mesmo tempo. Era muito esforço, minha mãe tinha medo que eu me machucasse. Tinha aquela preocupação de mãe. Mas ela sempre apoiou, só não consegue ir muito ao estádio por causa da pressão alta. Meu pai está sempre presente, vai aos jogos".
 
PAI TEVE CARREIRA FRUSTRADA
"Ele participou de uma peneira na Portuguesa, mas era muito moleque, disse que não conseguia jogar, nem pegou na bola. Vinha do futebol de salão, tentou jogar no campo como meia. Os amigos dele sempre me disseram que ele era um craque. Mas eu não cheguei a ver, né? Tem alguns vídeos em casa, dá para ver que ele passou para mim o jeito para o futebol. Até hoje brinca. Trata bem a bola, só fica nervoso às vezes porque alguns não tratam tão bem (risos)"
 
CHEGADA DO LUIZ CUNHA AO FUTEBOL 
"Depois que ele assumiu o cargo no profissional acho que ficou um pouco mais fácil para os garotos da base. Ele via nosso trabalho de perto lá, ajuda a indicar quem vem treinar aqui. Alguns vem, ficam 15 dias, depois vem outros. O fato de ele já conhecer o nosso trabalho passa a confiança para a comissão técnica. A mentalidade do São Paulo sempre foi ter uma base forte".
 
SONHOS DE CONSUMO
"Quando eu cheguei aqui o único dinheiro que eu ganhava era do meu pai. Eu que pedia dinheiro para ele quando queria comprar alguma coisa. Mudou depois que eu comecei a receber meu salário. Meu pai sempre me ajudou a ter uma cabeça boa. Me dizia para me preocupar em jogar que o dinheiro viria naturalmente, uma consequência. Foi importante esse apoio dele, alguns não têm a presença do pai tão perto. Acho que todo menino quando começa a trabalhar quer comprar um carro. Eu peguei um Golf. Fui guardando dinheiro, não sou de gastar". 
 
BI-LIBERTADORES?
"É muito legal saber que eu posso fazer parte da história do São Paulo ganhando duas Libertadores no mesmo ano. Mas é ter calma, né? Fiquei feliz, lógico, de saber disso, mas primeiro quero estar bem aqui, ajudar minha equipe. Ganhar do Atlético-MG foi importante para gente chegar com força na semifinal. Mas o importante é focar na competição e depois pensar na história".
 
NAMORADA TEVE CIÚMES
"A gente se conheceu na escola, quando eu era lá de Cotia ainda. Faz dois anos que eu namoro, faz um tempinho. No começo foi tranquilo, não era conhecido. Agora, no começo do profissional, ela sentiu o assédio de fãs, que ela não conhecia, né? Ficou um pouco com ciúmes, nervosa, querendo responder as meninas que mandavam mensagem no Instagram. Falei: "não, é normal, se for ligar para isso vai perder tempo, não é alguma coisa que atrapalhe nosso relacionamento". Hoje está um pouco mais tranquila, fez amizades com algumas do fã-clube. Ela está entendendo que vida de jogador profissional é corrida, se viaja bastante, se vê pouco tempo. Vai ser difícil, mas mais para frente vai ser bom. Vamos morar bem, comer bem, é importante trabalhar bastante. Ainda não pensamos em nos casar, mas acho que não vou embora tão cedo do país. Ela está fazendo faculdade, engenharia civil". 
 
 
SONHO PROFISSIONAL
"Meu maior sonho é chegar na seleção brasileira, jogar uma Copa do Mundo. Mas tenho vários outros, como fazer uma história aqui no São Paulo. Sempre foi meu sonho jogar aqui, desde pequeno. Não penso em sair tão cedo. Acho que foi um clube que abriu as portas para mim e quero corresponder isso. Ganhar títulos, fazer meu nome, para depois pensar em sair para a Europa".   
 
MIRANDO CASEMIRO
"Fiz parte de uma escolinha em São José dos Campos que o Casemiro jogou também. Tivemos um encontro rápido, um treino, quando ele foi visitar. Quando eu o vejo no Real Madrid hoje, fazendo o trabalho lá, penso que estou no caminho certo. Se ele saiu de onde eu saí, passou por aqui e hoje está lá penso que estou seguindo os mesmo passos."
 
NA CONCENTRAÇÃO
"Gosto de jogar videogame com os moleques, o Caramelo, o Kelvin, o Lyanco. Acho que os mais velhos têm, é outro papo, né?  Eu estou jogando do lado do Lugano, que jogou uma Copa, o Michel [Bastos] jogou a Champions... e eu o Paulista (risos). São papos diferentes, mas é bom para trocar ideia, experiência. Eles brincam comigo, assim vamos conversando, vamos pegando mais intimidade". 
 
FALSOS PARÇAS
"Tem um pouco de gente interesseira, gente querendo se aproveitar da situação, mas isso a gente não dá muita bola. Às vezes eu nem conheço e o cara diz: 'ah, eu estudei com você', 'ah, já joguei com você'. Sou tranquilo, respondo, fico na boa, não trato ninguém mal. Mas a gente sabe quem são os de verdade, que está sempre com a gente". 
 
Fim da conversa no bate-papo