Seleção se fecha para líderes religiosos, mas repete engenheiro motivador
A seleção brasileira que disputa a Copa América de 2016 tem um membro que não aparece publicamente e que está por trás da estratégia de comunicação interna traçada por Dunga e pelo coordenador Gilmar Rinaldi: o engenheiro Evandro Mota, que faz trabalho motivacional. Como contraste, a CBF apertou o cerco para pastores e líderes religiosos depois de uma experiência negativa no ano passado.
Evandro Mota ficou conhecido como "engenheiro do tetra" ao ter atuado como motivador da seleção brasileira durante a Copa do Mundo de 1994, a convite de Carlos Alberto Parreira. Desde então, especializou-se em esporte, fez trabalhos em clubes e se tornou conhecido por palestras em coaching. No ano passado, foi convidado por Gilmar Rinaldi e esteve na delegação da Copa América no Chile, mas acabou criticado por alguns jogadores.
Segundo quem acompanha a delegação, Mota faz, nesta Copa América de 2016, trabalho específico com Rinaldi e Dunga, mas distante do elenco. É papel do engenheiro fazer sugestões e alinhas procedimentos de comunicação interna, do treinador e do coordenador com os jogadores, e também auxiliar o técnico na preparação de palestras à equipe.
A presença de Mota é tida por membros da delegação nos Estados Unidos como uma prestação de serviços profissionais e como algo totalmente diferente daquilo que líderes religiosos poderiam oferecer. Para esta outra vertente, a CBF se fechou.
Desde o atrito com o missionário evangélico Guilherme Batista, em concentração em Nova Jérsei, em setembro de 2015, a seleção brasileia decidiu apertar o cerco sobre o tema. Na ocasião, Batista foi convidado pelo zagueiro David Luiz e pelo meia Kaká para organizar cultos para os jogadores da seleção, mas gerou um problema: Dunga e a CBF, mais tarde, reprovaram a entrada do missionário em uma concentração e também fotos publicadas por ele em redes sociais que, segundo a entidade, poderiam indicar que ele era um membro da delegação. O episódio causou até a demissão do então chefe de segurança da seleção.
Na época, em entrevista coletiva dada em setembro de 2015, Dunga não escondeu o incômodo. "Não permiti. Nem eu, nem Gilmar, nem a seleção. Para você entender, porque dentro da seleção as coisas são feitas com transparência: lá na concentração temos uma sala onde jogadores podem receber familiares, pessoas mais próximas. Nada é proibido, mas na seleção não é local de exposição política, religiosa, temos de concentrar o que estamos fazendo que é o futebol", afirmou o treinador.
"Quanto a colocar fotografias nas redes sociais, vocês vão entender quantas dificuldades encontramos, quantas pessoas querem se aproveitar da mídia. Eu estava em São Paulo, com a comissão, e um rapaz se aproximou como torcedor normal. Não tem problema tirar foto. Para a minha surpresa, quando fui ver, ele postou a foto com a legenda "tomando café com meu chefe", como se eu fosse chefe dele. Por isso eu expliquei a todos o cuidado que eles têm de tomar, o que uma palavra mal colocada pode ocasionar", completou.
A CBF trata o caso com delicadeza para não se mostra avessa à diversidade religiosa do elenco da seleção brasileira, mas adota neste caso a mesma postura em relação aos empresários dos jogadores: pode haver encontros, desde que não seja dentro das concentrações e sem que outros indivíduos se misturem entre a delegação que está nos Estados Unidos para a competição.
A seleção brasileira está agora em Orlando, na Flórida, e se prepara para o segundo jogo na Copa América, na quarta-feira, contra o Haiti. A primeira partida terminou com empate por 0 a 0 contra o Equador e deixou o Brasil com um ponto no Grupo B.
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