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Pintado aprova parada na Libertadores e se vê importante para reação do SP

Marcello De Vico e Vanderlei Lima

Do UOL, em Santos e São Paulo

17/06/2016 06h01

Em abril de 2016, Pintado foi contratado pelo clube do qual é ídolo para trabalhar como auxiliar técnico. Bicampeão da Libertadores (1992/93) pelo São Paulo, ele chegou em um momento ainda turbulento, tanto fora como dentro de campo. Além das questões políticas, o time não vinha bem e estava perto de ser eliminado da Libertadores. Mas a história mudou desde que assumiu o novo cargo. Depois de vencer o River Plate no Morumbi e arrancar um empate heroico, contra o The Strongest, na Bolívia, a equipe embalou e hoje é semifinalista da competição sul-americana – encara o Atlético Nacional-COL no dia 6 de julho, no Morumbi.

Em entrevista ao UOL Esporte, Pintado não se intimida em dizer que foi importante para a redenção tricolor. “Vou vender meu peixe um pouquinho também, né? Acho que olhar para mim com a camisa do São Paulo, com o uniforme do São Paulo, e não lembrar, não visualizar um título de Libertadores, acho que é impossível. Eu vejo isso não só no torcedor são-paulino, mas nas pessoas que trabalham pelo futebol: ‘Poxa, o Pintado ganhou duas Libertadores’, e hoje eu volto ao São Paulo por estes títulos importantes... Então tudo isso acrescentou já a muita coisa que estava sendo bem feita”, diz o auxiliar tricolor.

Para Pintado, porém, o início da reação do São Paulo começou a acontecer ainda no ano passado, com a vaga conquistada para a Libertadores e com a despedida de Rogério Ceni, o que, segundo ele, trouxe um clima muito especial ao clube. Estas e várias outras opiniões do ídolo tricolor você confere a seguir:

Como estava o São Paulo quando Pintado chegou

Tinha um ambiente de desconfiança, um ambiente triste pelos resultados, por não estarem conseguindo sair de um turbilhão, de um vendaval. Estava todo mundo bastante incomodado e infelizmente era esse o momento que cheguei.

O São Paulo acabou derrapando administrativamente, derrapando dentro de campo, e futebol é resultado. Quando as coisas não acontecem dentro de campo parece que tudo está errado, parece que nada está certo. Um dia ensolarado fica triste, e isso dentro do São Paulo não pode acontecer. A partir da alegria de todos você constrói bons resultados.

O São Paulo não estava acostumado a viver este tipo de situação, e era um conjunto de situações que deixavam este ambiente, deixava este dia bonito, um dia triste.

O que mudou desde quando Pintado chegou

Já vinha acontecendo uma recuperação. Eu venho conversando com o São Paulo desde dezembro do ano passado, e a gente já tinha com o próprio Gustavo [Oliveira, diretor executivo de futebol] e com o presidente [Leco] várias conversas sobre essa situação, como ajudar, o que fazer, e sempre buscando as informações para que eu pudesse aprender também algo dentro da minha vida profissional. Então tudo isso foi detectado e o início dessa recuperação já vinha acontecendo lá atrás... Em dezembro aconteceu a classificação para a Libertadores, e acho que a despedida do Rogério foi um ponto muito especial, foi um clima e um momento que eu participei diretamente e eu pude sentir que o São Paulo estava de pé novamente, o São Paulo cresceu novamente, o São Paulo se posicionou  como um grande clube, e está reagindo com as dificuldades e solucionando os problemas.

Em dezembro aconteceu a classificação para a Libertadores, e acho que a despedida do Rogério foi um ponto muito especial.

É uma reconstrução, o São Paulo vem recuperando algumas situações e a mais importante é dentro de campo. Esse grupo de atletas que o São Paulo apostou, que o São Paulo confia, e sempre confiou, vem respondendo muito bem. Administrativamente a gestão do futebol no São Paulo está sendo muito bem direcionada, muito bem administrada. Acho que o presidente hoje tem a mão em cima de tudo isso, direcionando as pessoas, cobrando, exigindo de todos os profissionais aqui dentro um posicionamento, isso é a força do São Paulo hoje.

Existe hoje uma conexão da comissão técnica com os jogadores. Eu, que vivo o dia a dia, vejo o respeito que os jogadores têm com a comissão técnica, a credibilidade que essa comissão técnica tem com os jogadores, o apoio, a força... A confiança que a comissão técnica e a diretoria têm nesse grupo de jogadores.

Relação com a diretoria

Minha relação com o Gustavo cresce muito quando existe a possibilidade de eu voltar a trabalhar no São Paulo. Acho que isso me deixou muito satisfeito porque eu nunca tive uma intimidade com o Gustavo... Sempre fui muito amigo do Raí, do Raimar [irmão de Raí], mas nunca do Gustavo diretamente, e a gente se aproximou muito nestes últimos meses, depois de novembro, dezembro... A gente se aproximou muito trabalhando dentro do futebol, que é o nosso dia a dia. Hoje a gente tem uma parceria muito interessante aqui dentro. Hierarquicamente ele está acima de mim, ele e o Rene Weber também. Nós somos especificamente do futebol, a gente discute situações que são relacionadas ao futebol, nada administrativo, nada na parte financeira, é sempre relacionado ao futebol: o que necessita, quais as nossas dificuldades, o que a gente está fazendo de bom, o que a diretoria precisa fazer para que a nossa equipe melhore... o próprio Patón [Edgardo Bauza, técnico] sempre participa com a gente, não tem nada escondido, não tem nenhuma informação que todos não saibam aqui dentro e isso vem surtindo muito resultados.

Não tem nenhuma informação que todos não saibam aqui dentro e isso vem surtindo muito resultados.

Hoje o São Paulo não é dependente de nenhuma pessoa individual. O próprio Luiz Cunha [ex-diretor de futebol] sempre pediu isso pra gente, sempre administrou explicando que o mais importante aqui é o São Paulo, não é nenhuma pessoa, não é o estádio, não é nenhuma situação, é o São Paulo Futebol Clube.

Saída de Luiz Cunha, diretor de futebol

A gente perde um amigo, perde um profissional muito sério, mas o São Paulo continua, essa vida tem que seguir, os bons resultados vão continuar, até porque esse bom momento que a gente vive... E a categoria de base nos ajudando, nos apoiando, acho que o São Paulo nunca teve tanto jovem da categoria de base fazendo parte da primeira equipe... Terminar contra o Cruzeiro com cinco jogadores formados na base, acho que tudo isso é sinal de que as coisas estão conectadas e vão para um bom caminho.

Eu fiquei muito surpreso, ainda não entendi muito bem o porquê disso [saída de Luiz Cunha]

Eu fiquei muito surpreso, ainda não entendi muito bem o porquê disso, mas o Luiz é um cara muito consciente e sabe o porquê está tomando uma decisão como essa, eu só respeito e sinto por estar perdendo uma pessoa de um caráter muito forte.

Parada na Libertadores

Eu acho que essa parada é muito positiva para todos nós aqui. A gente vai ter o grupo 100% preparado, o São Paulo vai estar mais forte para esses jogos finais da Libertadores, eu não tenho dúvida disso.

O São Paulo vai estar mais forte para esses jogos finais da Libertadores.

Para o São Paulo foi benéfica, com certeza, mas quando a bola rola é que a gente vai poder ver o que está certo e o que está errado. O São Paulo tem um caminho que é buscar este título da Libertadores, que é um sonho pra todos nós.

Técnico do São Paulo

Eu estou feliz por trabalhar pelo São Paulo, isso para mim é o mais importante. Eu sou um funcionário do São Paulo Futebol Clube, não de nenhuma outra comissão técnica. Eu não penso em longo prazo, eu vivo muito o momento. Estou feliz, acho que temos muito a melhorar, o São Paulo vem crescendo justo no momento que eu chego, e isso para mim é uma satisfação muito maior do que qualquer cargo ou qualquer outra posição.

Influência de Pintado na campanha da Libertadores

Agora eu vou vender meu peixe um pouquinho também... Acho que olhar para mim com a camisa do São Paulo, com o uniforme do São Paulo, e não lembrar, não visualizar um título de Libertadores, acho que é impossível, porque eu tenho vivido isso depois de vinte e tantos anos que nós ganhamos duas Libertadores. Eu vejo isso não só no torcedor são-paulino, mas nas pessoas que trabalham pelo futebol: ‘Poxa, o Pintado ganhou duas Libertadores’, e hoje eu volto ao São Paulo por estes títulos importantes...

Eu tento a cada dia mostrar para os jogadores o quanto é importante, o quanto é valioso a conquista de uma Libertadores. 

Então tudo isso acrescentou já a muita coisa que estava sendo bem feita, o jogador do São Paulo, se andar aqui dentro do CT, ele vai ver que tem fotos minhas de uma equipe que saiu campeã da Libertadores, e eu tento a cada dia mostrar para eles o quanto é importante, o quanto é valioso a conquista de uma Libertadores. Eu acho que isso eu consegui despertar junto com a comissão técnica, e o próprio Patón  sabe o que é ganhar Libertadores, e a gente tem profissionais aqui hoje que simbolizam grandes conquistas, então eu faço parte disso e fico muito contente.

Pintado: figurinha para os jogadores?

“Essa é uma brincadeira que sempre acontece: ‘Poxa, Pintado, eu bati muito na sua cara’, e eu falei: ‘ah é?’. E eles: ‘é, mas quando era figurinha’, para fazer aquela brincadeira que todo mundo faz no interior, chama de bafo, e existem outras brincadeiras que fazem, e eu acho isso muito legal, cara, para mim não tem preço, é uma recompensa muito importante que eu tenho certeza que esses jogadores vão ter, porque vão ganhar uma Libertadores. Os mais jovens, principalmente que cresceram aqui dentro do São Paulo, sempre estão lembrando desses bons momentos.

Técnico estrangeiro

É muito importante essa troca de conhecimento, isso faz parte no mundo, o Brasil ficou um pouco no tempo porque fechou as portas para esse tipo de intercâmbio de informação. Esse profissional tem que ser muito bem assessorado, muito bem apoiado, porque a nossa realidade no Brasil, de calendário, de treinamento, dos próprios costumes, é muito diferente. O profissional que vem de fora pode conhecer muito, mas se ele não tiver o apoio, se ele não tiver a estrutura que hoje o São Paulo oferece, é muito difícil que ele consiga todo o resultado que ele possa oferecer.

Bauza consegue transmitir o que ele quer para esse grupo. É um cara muito sério, muito competitivo.

Bauza consegue transmitir o que ele quer para esse grupo. É um cara muito sério, muito competitivo, isso nos acrescenta muito. Com a competividade do argentino e a qualidade do brasileiro, o futebol brasileiro se tornaria imbatível praticamente, e o São Paulo está conseguindo unir essas duas forças. O Patón, pela inteligência, pela maturidade, pela seriedade, está dando uma cara muito forte para o São Paulo.

Jogadores protegidos e mimados?

Eu acho que tem que ser. Hoje o atleta é uma mercadoria, a gente não pode esquecer disso, e ele tem que ter uma administração por trás, porque ele é uma empresa. Esse atleta gera muito recurso para o clube, para ele próprio, para família, para os torcedores, então ele tem que ser defendido, mas sempre com direitos e deveres. Não podem ser mais direitos e menos deveres ou mais deveres e menos direitos. Esse equilíbrio tem que existir.

O futebol está chato?

Eu não consigo enxergar o futebol como chato. Nós estamos fazendo o futebol chato. O esporte é muito agradável, é muito emocionante, essa discussão de boteco depois do jogo, do juiz, ou um gol perdido, acho que isso é muito saudável, o brasileiro gosta muito disso. Nós profissionais do futebol acabamos exagerando um pouco nessa distância com o torcedor, distância de informação. A gente pode ser mais aberto, até porque ninguém tem nada a esconder, isso é muito importante. O futebol é uma alegria sempre.

Se a gente conseguisse fazer com que o nosso torcedor, ou as pessoas que não vivem o dia a dia com a gente, compreendessem, vivenciassem isso um pouco mais de perto, talvez a exigência não seria tão grande. Até a raiva a gente vê exagerada, às vezes do torcedor com o jogador, com a diretoria... Talvez se a imprensa estivesse mais próxima, a gente abrisse um pouco mais, e a imprensa com inteligência soubesse também informar melhor, a gente teria um futebol mais alegre, mas entendo também que nenhuma empresa é tão aberta assim pra que você passe todas as informações. Agora, de qualquer maneira, eu acho o futebol o esporte mais alegre do mundo.