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Hotel, universidade e plano de carreira: como Grêmio mantém suas promessas

Everton e Luan são exemplos de jogadores contratados pela captação do Grêmio - LUCAS UEBEL/GREMIO FBPA
Everton e Luan são exemplos de jogadores contratados pela captação do Grêmio Imagem: LUCAS UEBEL/GREMIO FBPA

Marinho Saldanha

Do UOL, em Porto Alegre

07/07/2016 06h00

O Grêmio vê a captação de talentos como principal alternativa para equilíbrio financeiro do clube. Com Luan e Walace avaliados juntos em R$ 140 milhões, o clube acredita que poderá se sustentar basicamente com a contratação e manutenção de jogadores deste perfil. E o processo de busca e permanência tem por base o olhar clínico do departamento de futebol e a melhor estrutura aos meninos. 

Hotel que serve de alojamentos a jogadores da base do Grêmio - Divulgação/Grêmio - Divulgação/Grêmio
Imagem: Divulgação/Grêmio

Não basta apenas encontrar os melhores atletas, o Tricolor procurou condições para a permanência deles. Trocou os alojamentos, antes debaixo das arquibancadas do estádio Olímpico, por uma estrutura bem mais confortável. Comprou um hotel antigo na cidade de Eldorado do Sul, na região metropolitana de Porto Alegre, reformou e passou a utilizar como moradia para os atletas. Hoje, todos os quartos têm ar-condicionado e os meninos são divididos por faixa etária com atividades acompanhadas também fora do período de treinos. Eles têm estudos acompanhados até concluírem o ensino médio. E do hotel, os jogadores vão no ônibus do clube aos treinamentos, no CT Hélio Dourado - que fica na mesma cidade e abriga jogos e treinamentos dos times inferiores. 

Firmou, ainda, uma parceria com a Unilassale para garantir uma alternativa de universidade aos atletas. É opcional, nem todos fazem, mas o clube quer que, se o jogador não conseguir a carreira como jogador, tenha uma alternativa. Do elenco principal, Pedro Rocha, Araújo e Iago estão matriculados na universidade. 

Empréstimos com custo baixo e 'plano de carreira'

Quando implantou o atual processo de captação, o Grêmio percebeu que tinha um grupo desequilibrado na formação. A maioria dos atletas que mostrava potencial no início das categorias de base, acabava se perdendo sem completar o aprimoramento ideal de qualidades. Passou, então, a investir em atletas pré-prontos, com idades entre 17 e 20 anos. E neste molde já teve sucesso com nomes como Ramiro, Pedro Rocha, Jaílson, Everton, Batista, Tontini e principalmente Luan - que o Tricolor só aceita negociar por valor acima de R$ 100 milhões - e Walace, avaliado pelo mercado internacional em R$ 40 milhões. 

O molde para contratação foi estabelecido previamente. O clube paga um valor baixo por empréstimo de um ano (Walace, por exemplo, chegou em contrapartida pela liberação do meia Marquinhos ao Avaí) e durante este período avalia melhor as capacidades do atleta. Se der resultado, efetiva a compra ao fim do período, negociando uma parte dos direitos econômicos com o clube original, que pode sair ganhando no futuro. "Assim todos ganham", garante o diretor executivo de futebol do clube, Júnior Chávare. 
 
E para manter todos interessados, o Grêmio promove um processo de aumentos salariais por objetivos alcançados. O jogador chega com um nível de remuneração inferior, conforme cresce no elenco passa a ganhar mais. Uma vez no elenco principal recebe outro aumento e caso tenha atuações regulares eleva seus rendimentos ainda mais. O 'plano de carreira' está sempre previsto nos vínculos . Pedro Rocha e Walace, por exemplo, ganharam aumentos espontâneos (sem renovação de contrato) no fim do ano passado por conta disso. 
 

Paciência com atleta para 'salvar' o clube

Para a direção do Grêmio, o processo de captação e permanência com os jogadores é a principal alternativa para recuperação das finanças do clube. A equação: contratação a custo baixo, valorização e revenda é vista como melhor forma de lucro. E para isso é necessário ter paciência com o crescimento de cada um. 
 
"Será, certamente, a mola propulsora do equilíbrio do clube. O jogador quando sobe é remunerado como jogador de base, depois ganha um aumento ao ir para o profissional. Muitas vezes quando se traz um atleta de fora, o padrão salarial precisa ser mais alto. Com o crescimento dos que temos aqui, podemos ter um nível de salário menor com qualidade até superior", disse Chávare. "É um processo de crescimento natural. Há jogadores que sobem naturalmente aos 17 anos e precisam do profissional para lhes dar um desafio. Já outros precisam, ainda aos 20, ter um processo de crescimento maior", acrescentou. 
 
Talvez o principal caso de acerto só se firmou aos 21 anos. Luan chegou ao Grêmio em janeiro de 2013, só virou titular do time de base em agosto daquele ano, no início de 2014, com 20, jogava no time B. E em 2015 se estabilizou como destaque da equipe, já em uma idade que muitos consideram avançada.