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'Corinthians deve por seu estádio, já o Palmeiras só recebe', diz Belluzzo

Belluzzo foi o responsável assinar o contrato para a construção do Allianz Parque - Paula Almeida/UOL Esporte
Belluzzo foi o responsável assinar o contrato para a construção do Allianz Parque Imagem: Paula Almeida/UOL Esporte

José Edgar de Matos

Do UOL, em São Paulo

15/07/2016 06h00

Ao mesmo tempo em que convive com desavenças com a WTorre, o Palmeiras também comemora o sucesso do Allianz Parque. Na última terça, por exemplo, mais de 40 mil pessoas prestigiaram o clássico contra o Santos e atingiram o recorde de público na nova versão do antigo Palestra Itália, aberta ao torcedor desde 19 de novembro de 2014.

Quem mais comemora os números expressivos é Luiz Gonzaga Belluzzo, ex-presidente do clube alviverde e responsável por assinar o contrato com a construtora, ainda em 2010. A WTorre possui o direito de explorar o espaço até 2044 - 30 anos a partir do primeiro evento aberto ao público; neste caso, o jogo entre Palmeiras x Sport, pelo Brasileiro de 2014.

O antigo mandatário, agora afastado da vida política do clube, concedeu uma entrevista exclusiva ao UOL Esporte para conversar sobre os erros e acertos da arena palmeirense, que possui média de público de 33.794 pessoas e renda de pouco mais de R$ 2,1 milhões por partida.

Belluzzo admite que alteraria alguns itens no contrato assinado lá atrás, mas defende ferrenhamente o sucesso do novo palco para jogos do clube alviverde, que soma seis vitórias e um empate no Allianz Parque neste Campeonato Brasileiro.

Para defender a tese de um sucesso pleno do acordo com a WTorre, Belluzzo compara a arena palmeirense com a corintiana. "Tem que levar em conta as circunstâncias e os aspectos de negócio. O Corinthians deve uma grande quantia por causa do estádio (parcelas de R$ 5,7 milhões por mês, com o custo total de R$ 1,6 bilhão), enquanto o Palmeiras só recebe, só tem participação nas receitas. Palmeiras só cedeu o terreno", declarou.

Confira os temas abordados e a conversa do UOL Esporte com Luiz Gonzaga Belluzzo:

Desentendimentos entre Palmeiras x WTorre

É tem essa questão aí de arbitragem, que vem lá de trás, sobre as cadeiras. Palmeiras está tendo um lucro brutal com o estádio. Foram R$ 85 milhões no ano passado, o mesmo que recebe da televisão. É uma discussão sobre detalhes, coisas marginais. Palmeiras recebe toda a renda do futebol e tem a ver com o estádio, com o Avanti; o Avanti cresceu por causa do estádio.

Entretenimento x futebol

O São Paulo vive fazendo show no Morumbi e às vezes joga fora. A arena é um centro de receitas para o Palmeiras. É difícil eles se acertarem, não tenho procuração da WTorre. Eles (construtora) vão lá, discutem e fazem os shows, e o Palmeiras realiza os jogos lá. Simples. Qualquer lugar do mundo civilizado se faz com isso. Se tiver um jogo ou outro que tem que sair, tudo bem. É muito fácil estabelecer o calendário que permita que se faça os jogos. Muda o jogo, combina com a CBF; a CBF vive mudando data. Como o estádio é um sucesso, tem nego lá que torce pelo fracasso. (...)

O estádio foi concebido para ser um centro de receitas, de geração de receitas. Sabemos que não dá mais para sustentar o clube só com vendas tradicionais. É um bom projeto separar o clube do futebol; no futebol, as finanças são de outra natureza. O time tem que ser autossuficiente, mas os clubes não são. Palmeiras deu um passo para alcançar isso, e sou suspeito para falar. Importante é ter conseguido assim, e, do meu ponto de vista, está funcionando melhor do que esperava.

Sucesso ou fracasso?

Palmeiras fatura mais com a arena, tanto que já pagou R$ 20 milhões ao Paulo Nobre. Palmeiras vai pagar as despesas do acordo com o Paulo Nobre em cinco anos. Tem que olhar as coisas com certa frieza, aí você perde a serenidade. Em toda a parceria tem dificuldades, tem interesses contrapostos.

Qual outro clube que fez um contato deste? Agora tem uns dez que estão atrás da WTorre fazendo um contrato parecido. Muitos clubes como Flamengo e Fluminense procuraram a WTorre. É muito complicado lidar com clube de futebol pelos valores que conversamos; é muito complicado, é outra lógica, é a lógica da paixão.

Defesa sobre o acordo firmado e comparação com o rival

Tem que se levar em conta as circunstâncias e os aspectos de negócio. O Corinthians deve uma grande quantia por causa do estádio, enquanto o Palmeiras só recebe, só tem participação nas receitas. Palmeiras só cedeu o terreno. (...) Estádio vale R$ 900 milhões a R$ 1 bilhão, este é o valor presente, fazendo uma projeção das receitas diante do que está acontecendo. Sempre é uma aposta. O patrimônio de R$ 1 bilhão que o Palmeiras enfiou no seu balanço sem ter que pagar um tostão. Cedeu o terreno, que nem tinha valor, não poderia vender, cedeu o uso do terreno.

O estádio foi construído desta maneira porque quem fez o contrato avaliou a localização em uma cidade que tem muita inclinação (para shows e eventos); portanto o estádio carrega um potencial econômico da cidade, da região e da torcida. Aquela região lá, a Zona Oeste, a maioria dos moradores é palmeirense, então isso estabelece uma relação próxima entre os torcedores e o estádio. Tem uma sinergia muito forte e positiva entre o estádio e os arredores.

Tem que levar em conta tudo isso. O Corinthians não vendeu os naming rights, e nem vai conseguir, nem vale nada. O Palmeiras, por outro lado, viu a Allianz comprar na hora, ninguém é bobo. Palmeiras recebeu R$ 30 milhões, fora outras propriedades que a Wtorre conseguiu vender.

Nível de satisfação com os resultados

O melhor contrato é o qual você não entra com nada e ganha tudo. Mas, claro, tem que repartir com os parceiros, ver se é vantajoso para você. Diante do que a gente antecipou do que a gente tinha, um estádio obsoleto e com problemas de manutenção e de conservação, o que o Palmeiras fez foi se livrar. Quem paga os gastos de manutenção é a WTorre, quando o Palmeiras joga, aí sim ele paga as despesas. Tirando isso, pagaria jogando em qualquer estádio. O Palmeiras tem um resultado líquido muito bom. Então acho que a gente tem que avaliar com este ponto de vista.

Mudaria alguma coisa no contrato, olhando para trás?

Se eu tivesse certeza do sucesso do estádio, que não tinha, - quem disse que sabia o que ia acontecer antes é um charlatão - mudaria algumas pequenas coisas. Apostava que poderia dar certo o estádio, mas se tivesse a certeza do que aconteceria, eu talvez mudasse algumas cláusulas do contrato, mas não acho que isso seja relevante. Nem imaginei que a arena teria esse sucesso.

Mudaria certamente algumas coisas, rediscutiria com eles (WTorre), mas não acho que isso seja correto fazer, apenas se tivesse pensado lá atrás. Tinha muita gente que queria virar sócia do estádio, palmeirenses notórios. O atual presidente do Palmeiras (Paulo Nobre) se apresentou querendo ser sócio do estádio, mas desistiu da empreitada. É muito difícil fazer essa avaliação. Se eu lá atrás, eu soubesse que iria dar certo como deu, teria rediscutido a repartição das receitas ao longo do tempo.