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"Ganho mais do que quando era jogador", diz Wendell Lira, gamer há 2 meses

Pablo Raphael/UOL
Imagem: Pablo Raphael/UOL

Ana Carolina Silva

Colaboração para o UOL

11/09/2016 06h00

Os deuses do futebol costumam exigir tempo para operar milagres, mas meros 10 meses podem ser suficientes para dar uma guinada na vida de alguém. Quando foi indicado ao Prêmio Puskas em novembro de 2015, Wendell Lira estava desempregado. Dois meses depois, em janeiro e de contrato assinado com o Vila Nova-GO, venceu Messi e Alessandro Florenzi na briga pelo troféu de gol mais bonito do ano. A desilusão com o clube goiano veio em maio, quando teve o vínculo rescindido após três partidas como titular.

No entanto, o discurso lido por Wendell na cerimônia da Bola de Ouro da Fifa em Zurique, na Suíça, acabou por ditar o rumo de sua vida. Mais uma vez como Davi diante de Golias, decidiu aproveitar outra paixão para se reinventar longe do futebol: os videogames. Agora estrela de um canal no Youtube com quase 130 mil inscritos, o WLPSKS (sigla para “Wendell Lira Puskas”), o jogador de Fifa 16 colhe os frutos da nova aventura com uma evolução financeira em plena recessão econômica e uma agenda cheia de compromissos.

“O salário que eu recebo hoje é maior que o que tive na carreira como jogador de futebol. Mudou totalmente, hoje posso dar uma condição de vida melhor para a minha família, para a minha filha. Hoje não faltam as coisas para ela. Claro que recebi só dois meses e ainda estou estruturando a parte financeira, vai demorar um pouquinho. Fiquei muitos anos com esse problema financeiro, mas o canal tem me ajudado bastante, graças a Deus”, disse Wendell em contato com o UOL Esporte.

Poker com Valvídia e vitória sobre Rodrigo Caio

Aclamado na Brasil Game Show, conhecida como a maior feira de games da América Latina, o novato do Youtube prevê um futuro promissor para a comunidade no Brasil. “Os e-sports estão crescendo. Têm ganhado muitos seguidores e a tendência é só crescer. Em meio a essa crise toda, a área que mais cresce e continua em ascensão é a dos games e de criação de jogos, então daqui pra frente só tem a crescer”, comentou, otimista, dias depois de ser tratado como celebridade por uma legião de players.

Sensação familiar? “É bem diferente. Antes eu fui aclamado pelo Puskas, foi bem legal. Mas agora são 130 mil inscritos que gostam do meu trabalho e me acompanham direto”, comparou. O convite em 2016 ainda lhe proporcionou uma experiência de choque entre mundos, com a disputa com Rodrigo Caio e Valdívia no futebol virtual. Melhor para o atleta do Internacional, que fez dupla com Wendell para vencer o são-paulino e o youtuber Rodrigol por 1 a 0.

“São figuraços. O Rodrigo é um cara dessa geração que arrebentou com o ouro nas Olimpíadas e tem tudo para jogar na Europa e ser um sucesso também na seleção brasileira. O Valdívia é a humildade em pessoa, um cara muito simpático, muito atencioso com todo mundo. Eu sou amigo dele de Porto Alegre, desde que mudei para lá tenho mantido contato com ele. Ele me chama para jogar poker na casa dele, conversar”, revelou o goiano.

Wendell Lira posa com Rodrigo Caio e Valdívia em evento de games - Reprodução/Instagram - Reprodução/Instagram
Imagem: Reprodução/Instagram

Tiete de Cristiano Ronaldo, Messi e youtubers

Quando viajou a Zurique, Wendell não escondeu a admiração pelos ídolos do futebol. A personalidade de fã foi mantida na mudança para os games, deixando-o feliz com a chance de conhecer ídolos que não encontraria na Bola de Ouro.

“O Patife, o Zigueira, o BRKSEdu são os mitos da internet, mas Cristiano Ronaldo, Messi, Neymar... Esses caras estão num patamar muito, muito além. Os caras são f... demais na vida real, são fenômenos nos seus times. Só que antes de virar youtuber eu já era muito fã dos caras, principalmente do Zigueira. Acho ele muito engraçado, é uma coisa que vou levando para o dia a dia. Agora estou falando do mesmo jeito que eles falam, os mesmos jargões. Isso é bem legal”, disse.

Se engana quem pensa que o autor do voleio mais famoso de 2015 vai se restringir aos games de futebol. “O Zigueira joga um jogo que sou apaixonado, o Rainbow Six. Também penso em trazer mais FPS (first person shooter, ou jogo de tiro em primeira pessoa), como o Battlefield 4. A minha expectativa é de chegar até o fim do ano com meio milhão de inscritos. Seria uma marca muito, muito da hora”, vislumbrou, aproveitando para avisar: "Sou apaixonado, mas não sou bom. Gostar é diferente de ser bom."

Wendell Lira ganhou o prêmio Puskas em 2016 - Reprodução/Instagram - Reprodução/Instagram
Imagem: Reprodução/Instagram

Problema na despedida do futebol é página virada

Quando tomou a decisão de trocar os gramados pelos games, Wendell Lira disse ao UOL que colecionou desilusões no futebol, apesar do Prêmio Puskas. Segundo ele, o esporte é permeado por “pessoas boas e pessoas muito ruins”, dificuldade ainda mais evidente nos clubes menores.

“Eu acho que essa parte é página virada, estou num momento bom da minha vida e não quero ficar me lembrando dessas coisas ruins, não. Até porque foram esses momentos que fizeram com que eu largasse o futebol. Os clubes têm que entender que os jogadores são mais que atletas, são pais de família responsáveis por alimentar esposa, filha”, desabafou.

Mesmo assim, o ex-atleta encontrou motivos para agradecer pela conturbada despedida. “Não é questão de fazer o bem para os atletas de graça, mas pensar que são seres humanos e merecem respeito e atenção como qualquer outro. Só que eu tenho que agradecer por isso ter acontecido comigo no Vila Nova. Foi o pontapé inicial para tomar a decisão de ser youtuber, feliz e realizado como sou hoje”, completou.

Wendell Lira em sua apresentação no Vila Nova - Divulgação/Vila Nova - Divulgação/Vila Nova
Imagem: Divulgação/Vila Nova