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Cristóvão vê exagero em críticas e avisa: "Tite também sofreria com perdas"

Cristóvão comandou o Corinthians em 18 jogos, com sete vitórias e cinco empates - Daniel Augusto Jr/Agência Corinthians
Cristóvão comandou o Corinthians em 18 jogos, com sete vitórias e cinco empates Imagem: Daniel Augusto Jr/Agência Corinthians

Diego Salgado e Vanderlei Lima

Do UOL, em São Paulo

22/09/2016 18h47

Cristóvão Borges encerrou no último sábado a sua breve passagem pelo Corinthians após a derrota para o Palmeiras em Itaquera. Demitido pela diretoria corintiana, o treinador de 57 anos concedeu entrevista ao UOL Esporte e falou sobre a saída precoce do clube e os fatos determinantes ocorridos durante os três meses de trabalho.

Para ele, as críticas aos trabalhos são exageradas, porque as vendas de Elias e Bruno Henrique foram determinantes para a queda. "Foi o que mais atrapalhou. Se perco peças, o processo vai retardar, é preciso voltar. Trouxe prejuízo para mim e para a diretoria", disse o treinador, que ainda ressaltou: foram os atletas que decidiram deixar o Corinthians.

Cristóvão ainda ressaltou que se os dois jogadores tivessem ficado, a sombra do técnico Tite seria menor e até mesmo o técnico da seleção brasileira teria dificuldades. "As coisas iam funcionar de outro jeito. Não teria tanta oscilação e desequilíbrio. As críticas não seriam as mesmas e o ambiente não ficaria pesado.  Ele, se estivesse no meu lugar, teria as mesmas dificuldades", afirmou.

CONFIRA A ENTREVISTA DE CRISTÓVÃO BORGES

SURPRESA COM A DEMISSÃO

Para mim era claro uma coisa: na minha função naturalmente tem de dar resultados positivos. No Corinthians era uma coisa especial. Dadas todas as circunstâncias, a substituição do Tite, um time com história recente vencedora, o trabalho teria uma certa pressão. Estava bastante consciente disso. Como o Corinthians é um clube com solidez e tem uma estrutura muito boa, me senti à vontade e me adaptei rápido. Não tive dificuldades.

É COMPLICADO SUBSTITUIR TITE

Isso é uma coisa que seria difícil para qualquer treinador. Ele é vencedor, ídolo do clube, da torcida. É natural. A minha escolha foi para dar continuidade ao trabalho feito. Nada disso foi muito diferente das grandes pressões que tive nos grandes clubes que trabalhei, por causa dessa estrutura também. Quando cheguei, o Corinthians era um time que estava em processo de reformulação. O Tite quando saiu não tinha conseguido ter um time e um sistema de jogo definitivo. Ele inclusive já havia trocado, tudo isso é natural quando há uma reformulação. Eu dei continuidade a isso, mas eu não sou o Tite. Ele, pelo currículo, tem um crédito muito grande e eu estava iniciando. A pressão seria normal e grande, estava consciente disso.

SOMBRA DO ANTECESSOR

Se eu não tivesse perdido o Bruno e o Elias, a sombra do Tite seria menor. As coisas iam funcionar de outro jeito. Não teria tanta oscilação e desequilíbrio. Consequentemente as críticas não seriam as mesmas e o ambiente não ficaria pesado.

Elias - Rubens Cavallari/Folhapress - Rubens Cavallari/Folhapress
Cristóvão: saída de Elias foi determinante
Imagem: Rubens Cavallari/Folhapress

CRÍTICAS EXAGERADAS

O começo do trabalho encaixou, estava indo bem. Tivemos sequência boa no campeonato. Na hora da oscilação houve desequilíbrio. Eu passei a ser criticado. Normal, existem, lido bem com elas. Mas fugiu da normalidade. Eram críticas exageradas. O time ficou a maior parte do tempo no G-4. E mesmo assim fui muito criticado. As críticas foram exageradas, passou do tempo. E isso criou um ambiente adverso e muitas vezes hostil que foi negativo. Isso foi ruim.

DIFICULDADES NO TRABALHO

A maior dificuldade nesse processo de remontagem da equipe foi as perdas do Bruno Henrique e do Elias quase ao mesmo tempo. Bruno Henrique estava vivendo a melhor fase no Corinthians. Elias passou por todas as fases no clube, nosso jogador de seleção, titular da seleção. A perda deles foi bastante sentida e desequilibrou. Tive de refazer aquilo que estava buscando. Tive de recomeçar, isso leva tempo. Tem oscilação, maus resultados. A cobrança que já era grande se tornou muito maior.

TITE TERIA DIFICULDADES?

Sim, porque a função do treinador é buscar soluções. E a minha busca era essa. Eu acompanhava o Corinthians como acompanho todos os clubes. Quando estou fora assisto tudo. Acompanhei o processo do Corinthians, o que ele fez quando o time de 2015 foi desfeito. Acompanhei as contrações e entendi o porquê daquelas escolhas. Quando cheguei lá já sabia disso tudo. Quando cheguei lá só foi a confirmação. Ele tentou as contratações para suprir e fazer alguma coisa parecida com 2015. Mas não teve resultado, pois os jogadores tinham que se adaptar. As respostas não foram dadas logo. Ele fez modificações no sistema de jogo. Quando eu cheguei o time estava atuando em um sistema que não estava acostumado a jogar. Ele, claro, se estivesse no meu lugar teria as mesmas dificuldades, se ocorressem as mesmas perdas. Principalmente do Bruno e do Elias, que atuam em um setor do campo que dá equilíbrio à equipe. Isso é muito grave.

SAÍDAS DE BRUNO HENRIQUE E ELIAS

Foi o que mais atrapalhou. Se perco peças, o processo vai retardar, é preciso voltar. Trouxe prejuízo para mim e para a diretoria. Todo mundo passa a cobrar de mim e da diretoria a perda dos jogadores. Eu não queria e muito menos a diretoria. Nós não queríamos. O clube, por não ter o controle econômico dos jogadores, não teve como segurar. Os jogadores queriam sair, pediram para sair, forçaram para sair. Gostaram da proposta que tiveram. Essa é uma coisa que precisa ficar bem clara. Não queríamos. Eu sabia que para o trabalho dar certo teria de reforçar e não perder mais do que já tinha perdido. Se isso acontece, eu tinha muitas chances de dar certo. Eu tenho certeza que daria certo.

CRÍTICAS DA IMPRENSA

Eu fico sabendo das coisas quando as pessoas me contam. Eu sei quem escreve e quem tem interesse em analisar a equipe. Sei quem são essas pessoas, eu leio. As outras não tomo o menor conhecimento. Mas sei que elas se aproveitam da situação, como se aproveitavam de um resultado negativo para falar de forma desrespeitosa. Há alguns analistas, que se dizem analistas, porque não analisam nada, eles são engraçadinhos. Esses então não gostam de mim, porque não sou de ficar fazendo graça, não sirvo para isso. Esses são os mais desrespeitosos. Jogam muito para a torcida.

MUDANÇA DE PLANOS DA DIRETORIA

Quando o Eduardo (Ferreira, diretor de futebol) foi lá dar a entrevista, ele não estava mentindo. O que ele falou era verdade. Mas já estávamos vivendo um ambiente pesado, em cima deles também. Ficou pior com a derrota. O presidente tem uma filosofia louvável, de o clube ser sadio, que paga em dia. Ainda bem que há presidentes assim. O Corinthians é um clube ganhador. Mas no futebol tem certas coisas que não dá para explicar. Eu não vejo maldade. Nunca me senti tão protegido em um clube. Às vezes é preciso tomar alguma atitude com essa coisa de pressão, há momento em que as coisas ficam difíceis. Sempre foi aberto e claro, não tenho queixa nenhuma deles.

SE SENTIU VÍTIMA?

Não. Pode riscar essa palavra. A perda dos jogadores foi importante para a remontagem. Não sou vítima de nada.

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Cristóvão absolveu a diretoria pela mudança de discurso e pela demissão
Imagem: ANTÔNIO CÍCERO/FRAMEPHOTO/FRAMEPHOTO/ESTADÃO CONTEÚDO

FATORES POSITIVOS DO TRABALHO

Eu fico muito orgulhoso que no planejamento eu pedi jogadores para as posições. Na lateral direita só tínhamos o Fagner. A gente imaginava que ele poderia ser convocado para a seleção. Só tínhamos o Léo (Príncipe). Eu procurei saber dele e soube que ele nunca tinha jogado. Eu pedi a contratação de um lateral. Quando o Fagner foi convocado e usei o Léo, ele respondeu positivamente. Isso me deixou muito feliz e falei que não precisava contratar mais lateral. Coloquei o Arana para jogar, o Luciano. O Bruno Henrique teve a melhor fase no Corinthians. O Rodriguinho virou protagonista, hoje é o melhor jogador do time. Coloquei o Camacho, o Pedro Henrique, que para mim é o futuro do Corinthians e vai chegar à seleção. O Marlone nunca tinha jogado de verdade no Corinthians. Entrou bem no time.

É JUSTO CARILLE ASSUMIR O TIME?

É um cara que está lá há muito tempo, conhece bem futebol, é capacitado. Ele será um grande torcedor. Nesse momento a oportunidade é justa. Ele vai aproveitar porque ele tem conhecimento do clube e do grupo. Pode dar certo. A comissão técnica me ajudou bastante. Tive uma comissão muito competente. 

CÁSSIO OU WALTER?

Tinha acontecido aquilo com o Tite e o Mauri (preparador de goleiros). Ele saiu do time e entrou o Walter. Quando eu cheguei o Walter estava machucado. O Cássio estava vindo com problemas, tinha perdido a avó. Estava meio conturbado. Os dois são grandes goleiros. O Cássio todo mundo sabe e o Walter é titular em qualquer equipe do Brasil. Naquele momento foi uma decisão pessoal. O Walter estava machucado. Ele voltou e o Cássio tinha começado a jogar comigo. Ele falhou em um jogo contra o Santa Cruz. Ele ficou ainda mais sentido. Eu chamei os dois e expliquei que o Cássio estava passando por aquele momento e eu ia continuar com ele. No meu pensamento, se eu tirasse ele ali, em baixa, eu perderia um dos goleiros. Acho que deu certo. Hoje o Corinthians tem dois bons goleiros.