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Convocado, Wendell sofreu por ser franzino e se diz "abraçado" por Tite

Wendell 2 - Sergio Perez/Reuters - Sergio Perez/Reuters
Wendell disputa a bola em partida do Bayer pela Liga dos Campeões 2014/2015
Imagem: Sergio Perez/Reuters

Diego Salgado*

Do UOL, em São Paulo

27/09/2016 06h00

"Um dia eu vou para a seleção, vocês vão ver". A frase repetida à exaustão por Wendell, quando ainda defendia o Grêmio, virou realidade apenas três anos depois da estreia no time profissional do clube gaúcho. Vendido ao Bayer Leverkusen-ALE em 2014 e com boas apresentações, o jogador foi lembrado pelo técnico Tite nesta segunda-feira, após a lesão de Marcelo.

Em entrevista exclusiva ao UOL Esporte, Wendell falou sobre as expectativas em relação à participação na seleção brasileira, sobre o estilo em campo que o levou a esse status, além de ressaltar o momento especial na carreira - agora, sem as dúvidas de dez anos atrás.  
 
"As pessoas não acreditavam que eu viraria jogador de futebol por causa do porte físico. Falavam que minha mãe estava gastando dinheiro à toa. Ela me deu muita força e eu cheguei aqui graças a ela", disse o jogador de 1,76m e 64kg. 
 
"Eu jogava numa escolinha em Camaçari (Bahia) e fiz um teste. Olheiros me viram e fui para o Iraty (no Paraná) aos 14 anos", disse Wendell, que deixou os pais e mais quatro irmãos para realizar um sonho - depois do Iraty, ele ainda defendeu Londrina e Paraná antes de chegar ao Grêmio.
 
"Wendell merece estar na seleção. Desde quando monitoramos ele no Londrina, tinha certeza que seria um grande atleta. Tínhamos certeza que seria um bom investimento. Este momento é a comprovação de que o talento e a personalidade dele foram reconhecidos", disse o ex-diretor do Grêmio, Rui Costa - o clube gaúcho pagou R$ 2 milhões pelos direitos econômicos e vendeu por 6,5 milhões de euros (R$ 20,7 milhões na cotação da época).
 

Elogios a Tite

 
O atleta de 23 anos afirmou que recebeu uma ligação de Tite antes da divulgação oficial da convocação. O primeiro contato, segundo ele, serviu para deixá-lo à vontade antes mesmo de conhecer os novos companheiros. 
 
"O Tite me telefonou hoje (segunda-feira) antes e disse que ia me convocar. Ele é muito simpático. O jeito de ele falar faz eu me sentir seguro, você se sente abraçado", afirmou Wendell.
 
Wendell - Patrik Stollarz/AFP Photo - Patrik Stollarz/AFP Photo
Lateral esquerdo soma 84 partidas pelo Bayer, com um gol marcado
Imagem: Patrik Stollarz/AFP Photo
 
Wendell classifica Tite como "o maior e melhor treinador do Brasil". O atleta credita ao treinador o sucesso do Corinthians nos últimos anos. De acordo com ele, a capacidade e ideias do comandante farão a seleção brasileira voltar aos velhos tempos.
 
"O Corinthians virou um gigante maior ainda depois que ele assumiu. Vou aprender muito. Parei para ver os dois jogos (da seleção pelas eliminatórias) aqui da Alemanha. O Brasil voltou a ser Brasil com Tite. A gente sabe que o trabalho é bem feito. Ele tem muitas ideias. A seleção tem o melhor treinador e vai chegar bem na Copa do Mundo", ressaltou.


Amizades importantes

No grupo da seleção, o jogador do Bayer terá duas companhias importantes no processo de adaptação: Gabriel Jesus e Marquinhos, que defenderam a seleção olímpica com ele em duas partidas disputadas em março passado. "Tenho amigos lá. Vou me sentir acolhido com eles lá. Serei bem recebido, quero ser feliz", frisou.
 
Wendell 3 - Frank Augstein/AP Photo - Frank Augstein/AP Photo
Wendell defende o Bayer desde 2014
Imagem: Frank Augstein/AP Photo
 
O maior espelho para Wendell, no entanto, encerrará a carreira no fim do ano e defende o Palmeiras. Desde que subiu aos profissionais do Grêmio, em 2013, ele conta com o apoio constante do amigo Zé Roberto, lateral do Palmeiras. 
 
Há três anos, os dois foram companheiros no elenco gremista - a amizade foi mantida mesmo à distância. "Sou muito amigo dele. Eu já era fã dele antes disso e fiquei ainda mais depois", disse Wendell.


"Lateral completo"

Aos 23 anos, Wendell mostra bom desempenho na marcação, sem fugir do que ele chama de estilo: ser ofensivo faz parte do seu DNA. O fato fez, por exemplo, o técnico do Bayer Leverkusen,  Roger Schmidt, escalá-lo no meio-campo, aberto pelo flanco do campo.
 
"Sou um lateral ofensivo, que gosta de atacar. Aprendi muito a marcar mais nos últimos anos. Tenho muito a aprender ainda, mas sou quase completo nessa posição", disse o lateral, que viu a ascensão diretamente ligada à ida ao futebol europeu.
 
"Vir jovem para a Europa faz você aprender mais rápido, a ter mais conhecimento tático com mais rapidez. Isso também acontece no Brasil, mas mais devagar. Tive que aprender rápido, porque senão não jogava aqui."
 
Wendell, no entanto, ressalta um aspecto importante em campo. "Me entrego muito nas partidas, quero fazer tudo bem feito e jogo como se fosse o último jogo da minha vida. Nada mais justo entrar em campo com esse espírito", disse.
 
 
A boa fase fez surgirem especulações na última janela de transferências. Parte da imprensa europeia cravou o interesse de Real Madrid e Paris Saint-Germain pelo jogador. A intenção dele, entretanto, é ficar no futebol alemão.
 
"Estou me sentindo cada vez mais incorporado ao país. Estádios sempre cheios, estou aprendendo muito. Não tenho motivo para mudar agora e acabei de renovar meu contrato (até o fim de 2021). Mas fico feliz com isso", frisou. 
 
* Colaborou: Marinho Saldanha