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'Blitz' de Tite rende gol pelo 3º jogo seguido e ajuda seleção a decolar

Dassler Marques

Do UOL, em Natal (RN)

07/10/2016 06h00

Pressionar o adversário em seu campo de defesa é um mantra que Tite carrega há muito tempo em suas equipes. Além do que pode parecer, esse expediente é essencial para a implantação do modelo de jogo que dá muito certo até aqui na seleção brasileira. A bola roubada à frente reapareceu como um elemento decisivo em Brasil 5 x 0 Bolívia na noite de quinta-feira, em Natal. 

Aos 9min do primeiro tempo, Neymar partiu em disparada sobre o boliviano Raldés e, ao fechar o que Tite chama de 'linha de passe' no pé direito, obrigou o zagueiro destro a puxar a bola à esquerda. Foi o que bastou para o atacante roubar, tabelar com Gabriel Jesus e abrir o caminho para um primeiro tempo que não se vê todo dia. Desde 2005, a seleção não fazia quatro gols nos 45 minutos iniciais. Só foi possível porque a estratégia rival foi logo desmontada. 

Esse 'perde-pressiona', como Tite e seus auxiliares batizam o movimento, é sincronizado e permite à equipe lutar pela posse de bola de forma sufocante. Pep Guardiola costuma dizer "cinco segundos de loucura" para esse instante em que seu time avança sobre o adversário para tentar desarmar e restabelecer o domínio. É o mesmo conceito colocado em prática na seleção, que tem feito gols importantes dessa maneira. 

Assim, com o desarme na frente, Gabriel Jesus venceu um defensor equatoriano e sofreu o pênalti que encaminhou a vitória por 3 a 0 sobre o Equador em setembro. O 'perde-pressiona' ficou ainda mais cristalino no gol do triunfo por 2 a 1 diante da Colômbia, porque é Giuliano quem avança sobre um defensor adversário e provoca o erro de passe. Philippe Coutinho recolhe e passa imediatamente para Neymar anotar o gol da vitória no jogo em setembro. 

"Nosso time é móvel, tem rodinha no pé", definiu Tite após vencer a Bolívia. "Ele consegue agredir rápido (a marcação). Se você pega um jogador inteligente e concentrado, que vê a linha de passe do adversário e vai fazer a pressão...tendo jogadores com essa característica, e eles abraçando que você agride a marcação e induz (o adversário) ao erro, acaba acontecendo o que aconteceu", explicou o treinador. 

O histórico de conquistas de Tite, por sinal, surge com esse detalhe crucial. Em 2001, o Grêmio encaminhou a conquista da Copa do Brasil sobre o Corinthians com uma bola roubada por Marcelinho Paraíba e entregue para Zinho anotar gol decisivo no Morumbi. Já comandante corintiano, ele celebrou a Copa Libertadores 2012 em lance no qual Emerson Sheik fecha uma linha de passe da defesa do Boca Juniors-ARG, rouba a bola e anota no contra-ataque.

A hora, agora, é de levar isso adiante na seleção que vence e convence. Com três vitórias em três jogos, Tite e sua comissão técnica contribuíram para o Brasil saltar a 18 pontos na vice-liderança ao fim da primeira metade das Eliminatórias da Copa do Mundo. Na próxima terça-feira, em visita à lanterna Venezuela, a seleção secará o líder Uruguai, que visita a Colômbia, e tentará a vitória. Certamente, com muita pressão pela bola.