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Em carta, atletas exigem fim de contrato entre seleção uruguaia e parceira

Jogadores se rebelaram contra a AUF desde negociação entre Tenfield e Puma - REUTERS/Dominic Ebenbichler
Jogadores se rebelaram contra a AUF desde negociação entre Tenfield e Puma Imagem: REUTERS/Dominic Ebenbichler

Do UOL, em São Paulo

27/10/2016 17h36

Os jogadores da seleção uruguaia de futebol divulgaram nesta quinta-feira (27) uma carta de protesto contra a Associação Uruguaia de Futebol (AUF). A pauta, a exemplo do que vem ocorrendo nos últimos meses, é o acordo da entidade com a empresa Tenfield, vigente desde 1998.

Segundo o documento divulgado em redes sociais, os jogadores exigem o rompimento do contrato entre AUF e Tenfield. A empresa é responsável pela negociação dos direitos de imagem relacionados à AUF, mas, segundo os atletas, seria responsável por absorver vários recursos captados pela Associação, e que deveriam ser direcionados aos próprios atletas.

“Nosso futebol uruguaio está cada vez mais pobre e necessitado de recursos. Os jogadores locais são os protagonistas deste esporte e, no entanto, são os que mais sofrem com esta situação”, declara a carta da seleção. “Este grupo de jogadores não vai tolerar mais que se continue vendendo os trabalhos que formam o patrimônio da seleção a nenhum intermediário, para que depois este especule com os mimos, ficando com o benefício em suas mãos e não nas do futebol uruguaio. O contrato assinado em 1998 entre AUF e Tenfield durante o mandato do ex-presidente Eugenio Figueiredo é um exemplo disso e não vamos permitir que volte a acontecer”, acrescenta.

A carta remete à crise iniciada na negociação de fornecimento de materiais esportivos da seleção uruguaia. No segundo semestre, a Puma (atual fornecedora) oferecia US$ 2,5 milhões por ano para manter seu acordo com a AUF, dos quais a Tenfield receberia um valor como intermediária.

Os jogadores, revoltados, se mobilizaram e levaram uma oferta maior da Nike à entidade (US$ 3,5 milhões), sem intermediários. A pressão fez com que a Puma fosse obrigada a subir o valor para US$ 7 milhões por ano.

Confira a carta divulgada nesta quinta-feira pelos jogadores uruguaios:

Decidimos utilizar esta forma de manifestar nossa postura para podermos chegar a todo mundo de nosso país, assim como aos meios de comunicação, para sermos justos com todo mundo.

Nesta semana, os jogadores integrantes da seleção principal, assim como um conjunto de ex-jogadores da mesma, intimamos a AUF e a empresa intermediária Tenfield para que encerrem, de maneira imediata, o uso e a exploração de forma ilegítima de nossa imagem, fazendo expressa reserva de nossos direitos.

Nosso futebol uruguaio está cada vez mais pobre e necessitado de recursos. Os jogadores locais são os protagonistas deste esporte e, no entanto, são os que mais sofrem com esta situação. Foi isso que impulsionou os jogadores a colaborar em uma aproximação à AUF, também a pedido desta, uma oferta cinco vezes maior à que tinham na mesa. Esta proposta evidencia o verdadeiro valor do patrimônio da seleção uruguaia e o baixo preço pago até o momento pela empresa intermediária Tenfield.

Diante desta situação, queremos manifestar a nossa gente que este grupo de jogadores não vai tolerar mais que se continue vendendo os trabalhos que formam o patrimônio da seleção a nenhum intermediário, para que depois este especule com os mimos, ficando com o benefício em suas mãos e não nas do futebol uruguaio. O contrato assinado em 1998 entre AUF e Tenfield durante o mandato do ex-presidente Eugenio Figueiredo é um exemplo disso e não vamos permitir que volte a acontecer.

Temos a mais absoluta convicção de que até o presente, e contra todo critério de racionalidade e justiça, a empresa intermediária Tenfield teve o monopólio de exploração de todos os ativos pertencentes à AUF, e não consentiremos que esta situação volte a acontecer.

Por isso, acreditamos que o patrimônio da Celeste deve ser vendido diretamente às marcas finais para obter o maior rendimento possível e gerar recursos que nosso futebol merece. A AUF e a empresa intermediária Tenfield vêm comercializando os direitos de imagem dos jogadores da seleção principal sem autorização e consentimento dos mesmos (jogadores). Por estarem convencidos de tudo isso, comunicamos a nossa gente que não vamos – em nenhum caso – ceder nossos direitos de imagem a intermediários, nem vamos tolerar que estes tentem comercializá-los e explorá-los em prejuízo do futebol uruguaio.

Enquanto entendermos que a AUF não é independente e não pode tomar decisões livremente, sem estar condicionada a terceiros, tampouco contemplaremos a possibilidade de estudar uma eventual negociação com a AUF para explorar conjuntamente nossos respectivos direitos.

Acreditamos que o sistema de tomada de decisões da AUF deve ser melhorado necessariamente e de forma urgente, como vem pedido a Fifa há muitos anos a suas associações. Uma reforma de estatuto para que toda a família do futebol esteja representada na tomada de decisões, e que não fique exclusivamente nas mãos de alguns poucos.

Os integrantes da seleção principal estivemos, estamos e estaremos comprometidos com a defesa da Celeste em qualquer campo, assumindo os riscos, mas sempre fiéis a nossos princípios. O futebol é nossa máxima expressão popular. A Celeste é do povo e é tarefa de todos, sem medos, exigir e conseguir que o futebol seja exemplo de honestidade, democracia, independência, transparência, solidariedade e valores que fizeram grande nosso país.