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Peter Siemsen exclusivo: erros com Abel e R10 e bronca com estilo do STJD

Presidente Peter Siemsen gesticula durante entrevista ao UOL na sede das Laranjeiras - Pedro Ivo Almeida/UOL
Presidente Peter Siemsen gesticula durante entrevista ao UOL na sede das Laranjeiras Imagem: Pedro Ivo Almeida/UOL

Bernardo Gentile e Pedro Ivo Almeida

Do UOL, no Rio de Janeiro

03/11/2016 06h00

Sentado na tribuna diante do campo das Laranjeiras, Peter Siemsen faz um balanço dos seis anos à frente do Fluminense. Batendo a parte externa da mão direita na palma da mão esquerda diversas vezes e balançando as pernas a todo instante, mostra convicção ao resumir o trabalho como presidente tricolor: “Deixo o clube muito maior do que peguei. Avançamos muito. O terreno está preparado para o meu sucessor”, garante o dirigente, que se despede do cargo no final de 2016.

Empolgado, enumera feitos e garante que transformou o clube. “Antes éramos o patinho feio, a chacota. Hoje nos respeitam”. No entanto, nem tudo foi vitória nas duas gestões. “Ninguém acerta sempre, é natural. Você aprende a ser presidente com o passar dos anos”. E são justamente alguns erros que tiram o sono e mudam a expressão de Peter.

Com as pernas quietas e sem mais balançar tanto na cadeira, passa a mão na cabeça e admite. “Meu grande erro foi a demissão do Abel [Braga, em 2013, após cinco derrotas seguidas]. Aquilo me deixou mal. Dias difíceis, me arrependo demais. Nunca quis aquilo. Isso nunca foi resolvido. Sofri uma pressão enorme por parte da pessoa que investia no futebol [Celso Barros, presidente da Unimed – então patrocinadora do clube], de outros envolvidos [aliados políticos], estava um pouco longe. Tudo atrapalhou”, recorda o mandatário tricolor.

Em pouco mais de uma hora de conversa com a reportagem do UOL, Siemsen ainda reconheceu que a contratação de Ronaldinho Gaúcho em 2015 foi um erro, defendeu o fato de o Tricolor se acostumar a ter sempre a figura de um mecenas nas últimas décadas, comentou a guerra política que toma conta das Laranjeiras às vésperas de mais uma eleição e criticou a fama do Fluminense por conta de ações recentes no STJD – a quem não poupou críticas.

Peter Siemsen - NELSON PEREZ/FLUMINENSE F.C. - NELSON PEREZ/FLUMINENSE F.C.
Imagem: NELSON PEREZ/FLUMINENSE F.C.

Confira os principais trechos da entrevista com Peter Siemsen:

Balanço dos seis anos de gestão
“É um enorme orgulho ter sido presidente do Fluminense. Enfrentamos desafios gigantescos. Disputávamos entre os times mais endividados do Brasil. O clube era considerado o patinho feio em estrutura. Me lembro bem das declarações públicas do Muricy [Ramalho]. Críticas que eu também tinha. Quando estava concorrendo pela primeira vez, era proibido pela então gestão de entrar em Xerém. Quando assumi primeira coisa que fiz foi pagar os atrasados e equacionar dívidas porque já estava com todas as cotas de TV adiantadas. Passei algum tempo resolvendo crise financeira grande. Só depois disso consegui ir a Xerém, já avisado do que estava lá, e me assustei muito. A falta de cuidado que tinham com os meninos. Era muito grave. Fizemos investimento imediato e depois modernizamos a estrutura e gestão. Depois entramos no ritmo de trabalho e fomos muito maltratados pela Procuradoria. Achei muito injusto tudo aquilo com um clube que vinha num processo de mudança. Foi inaceitável. Até hoje gostaria de entender por que o poder público trata um bem e outro não. É algo que o Brasil se questiona.”

Há diferenciação de um clube para o outro?
“Ah, isso eu já falei bastante na época. Houve um tratamento diferenciado e Fluminense foi muito prejudicado. Mas é aquele negócio. Aqui, a gente agarrou o touro à unha e enfrentamos cada um dos problemas. Alguns foram mais complicados, mas todos superados. Com enorme coragem e garra. Colocamos tudo no seu devido lugar. Enfrentamos a questão do Maracanã. Me lembro quando foi feita a concessão, os jornais falavam que o Flamengo ia fazer o contrato e o Fluminense ficaria de fora. Fui muito cobrado. Fiz o trabalho e todo mundo viu o que resultou o nosso contrato. Demos a cara com muita garra e coragem. Mudamos a história, como foi o lado direito do Maracanã, com o Vasco. Sei que assinamos o contrato e desde então jamais jogamos contra o Vasco com a nossa torcida do lado esquerdo. Nunca mais. Isso é coragem. Foram 60 anos mudando de lado, com o dirigente aqui baixando a cabeça. Isso mudou. É o Fluminense sem bravata, mas que cumpre, faz, constrói. Me lembro que quando fomos lutar pelo terreno para o centro de treinamento com a Prefeitura, o prefeito foi espetacular e disse que não poderia ajudar apenas o Fluminense, mas todos os quatro. Foi feito, eu trabalhei pelo meu terreno, consegui um que entendemos que fosse bom. Mesmo ouvindo que era inviável, que era um pântano, que gastaria muito dinheiro. Minha gestão está terminando e estamos entregando tudo quase pronto."

Maior marco da gestão
“Não consigo destacar um. Tudo foi feito com muita paixão e empenho. Erros e acertos sempre vão acontecer, faz parte da vida. Ainda mais em um clube que tem a vida política tão agitada. Clube ainda pode evoluir muito em gestão corporativa. Mudanças de estatuto. Tem um potencial de mudança e organização. Infelizmente pegamos ele muito destruído e precisamos ser muito criativos, abraçar a oportunidade quando aparecia. Superamos grandes obstáculos. É hora de reorganizar a casa para que tudo seja mais tranquilo daqui para frente do que foi na minha gestão. Foram anos sem Maracanã. Pensem nisso. Você senta para presidir um clube como o Fluminense e dos seis anos, quatro praticamente sem o Maracanã. Teve que arrumar estádio para jogar esse ano e o América foi um parceiraço. Foram tantas dificuldades, que saímos desse período de seis anos com muito orgulho e satisfação.”

Abel Braga no Fluminense - Fernando Cazaes/Photocamera - Fernando Cazaes/Photocamera
Imagem: Fernando Cazaes/Photocamera

E o maior erro?
“Tem algumas também. A que mais me marcou no futebol foi a saída do Abel (em julho de 2013, após cinco derrotas seguidas). Eu sempre tive espírito de não ficar trocando de técnico, mas o futebol profissional teve pouco tempo na minha mão. Teve o período da Unimed e fomos campeões em 2012, mérito maior do Celso. Também tivemos as intempéries de 2013 (só não foi rebaixado por erros de escalação de Portuguesa e Flamengo), que também faz parte do mesmo processo. Meu pensamento sempre foi de técnico trabalhar a longo prazo. É muito duro para mim cortar um ciclo no meio e acha que isso prejudica. Vai ter ano bom, ano ruim, mas a manutenção de quem trabalha e conhece o clube é fundamental. Mas precisa de tempo. E o Abel tinha esse perfil. Era nascido aqui, identificado com o Fluminense, campeão. Porra, não pode ser uma série de cinco derrotas, um momento ruim, que via demitir o técnico. Foi contra a minha vontade, passei dias muito difíceis e me arrependo amargamente. Deveria ter ido até o fim com o Abel. Esse arrependimento é duro e já falei com o próprio Abel.

Algum outro?
Tem um desse ano. Desde o ano passado estou com essa ideia de jogar no campo do América. Até pelas incertezas que ocorrem com equipamento público, caso do Maracanã. Sempre achei que para o estadual e jogos deficitários, por que não jogar em um estádio menor? América passava por dificuldades e foi um casamento bom para o futebol carioca. Queria fechar isso desde novembro, mas o pessoal do futebol à época [Mário Bittencourt e Fernando Simone] foi muito contra e escolheram Volta Redonda. Eu era contrário a isso. Até porque hoje a gente não concentra. Em Volta Redonda não tem como pela distância. Depois quando me aproximei do futebol, trouxe o projeto à tona, mas acho que teríamos tido um ano melhor se tivéssemos o estádio mais cedo.”

Faltou pulso ao não manter o Abel? Serviu de aprendizado?
“Não foi colocado em votação. Eu fui muito pressionado, pois vivia um período muito complicado no Fluminense. Tem uma hora que é difícil. O investimento era do patrocinador e tem colocações que não são legais. Eu acabei aceitando uma coisa que me arrependi. Se fosse hoje não teria feito de jeito nenhum. Não sei se faltou pulso ou presença... O clube passava por uma transformação grande e colocar a casa em ordem foi uma loucura. Tinham mais de 500 ações em execução. Com todo o dinheiro de 2011 da TV adiantado, integral. Meu papel era transformar o Fluminense clube, pois o time já era bom. Isso foi feito de forma simultânea a vários outros projetos. É óbvio que o futebol sendo um projeto que investia direto no atleta e na comissão técnica, é óbvio que ele tinha o maior controle, para o bem e para o mal. Havia um modelo e uma pressão enorme para mudar dentro do próprio investimento. Em algum momento aceitei e não gostaria de ter feito isso. Não é questão de sucumbir, mas chega uma hora que tive que abrir mão disso para continuar lutando em outras áreas.”

Esse arrependimento pelo Abel existe também pelo Fred?
“Não podia ter isso na saída do Fred, quem tenho como ídolo e está na história do clube. Não tenho nenhum rancor ou mágoa. Estava claro que ele queria sair. Ele tinha a visão dele. A história do clube mostra que o Fluminense é que é grande, forte e deve criar novos ídolos. Eles passam e o clube continua. Passou, faz parte, tem enorme mérito, mas olhando para os resultados dos últimos anos não mudou nada. Inclusive ganhamos a Primeira Liga esse ano em uma competição que ele infelizmente não pode jogar. E é o terceiro campeonato em importância do Brasil. Olha os times que jogam, ne. É quase um mini Brasileiro. Ganhamos esse único título pós-Unimed e foi sem o Fred.

Por que tanta gente saiu desgastada do Fluminense? Nomes como Celso Barros, Fred, Deco, Conca...
Washington e Deco não têm desgaste nenhum. É apenas escolha política e acho normal. Vocês nunca me viram criticando o Celso, até porque ele foi importante para a história do clube. Ele está no direito dele de se candidatar. O desgaste com ele ocorreu por conta do Abel e algumas imposições, que foram desgastantes para mim, que não guardo rancor. Vejo esse desgaste como natural, pois ele controlava o futebol do clube. A partir do momento que a Unimed Rio entrou em crise, o relacionamento com o Flu piorou, pois não havia o mesmo investimento. Isso teve muito desgaste de vestiário. Faz parte de um processo de crescimento do Fluminense. É espetacular. Mas uma coisa é ser campeão com um time praticamente feito pela Unimed. Outra é construir um Fluminense forte. Quando eu assumi, isso não existia. Zero desgaste com Washington e Deco que são ídolos. Continuei focado em construir um Fluminense forte, sem depender de ninguém. Esse é o meu desenho para o clube.

E em relação ao Mário Bittencourt?
Com relação ao Mário, da minha parte não existe desgaste. Mas tem pessoas que não gostam de ouvir um “não”. Isso acontece e faz parte do processo. Fui bastante claro ao explicar porque não apoiaria ele. Eu acompanhei a gestão dele do futebol e vi que não poderia apoiá-lo à presidência. Não tenho nenhum compromisso político com ninguém, a minha escolha é de convicção. Por um Fluminense cada vez mais forte e não via isso na candidatura dele após a gestão que teve no futebol profissional. Fui bastante verdadeiro. Falei: “Não vou te apoiar, porque entendo dessa forma e acho que no momento você não está pronto para exercer essa cargo”. 

Ronaldinho no Fluminense - Bruno Haddad/Fluminense FC - Bruno Haddad/Fluminense FC
Imagem: Bruno Haddad/Fluminense FC

Sobre a passagem relâmpago de Ronaldinho Gaúcho, você faria essa contratação de novo? Considera um erro?
“O Mário [Bittencourt, então vice de futebol] me disse que tinha negociações com Ronaldinho e Robinho e me perguntou o que eu achava. Respondi: ‘tanto faz’. Não posso ficar definindo todas as contratações. Eu aguardo o profissional propor e resolver isso. Foi um erro. Não foi uma boa, o resultado final não foi bom, não valeu a pena. Não tenho problema como pessoa. Ele foi muito bacana. Mas não valeu nada para o clube. O Enderson [Moreira, técnico da época] avisou que não daria certo. Ele foi muito contra.”

Mário Bittencourt foi afastado para que não usasse o cargo para fazer campanha política. E o Pedro Abad, que tem cargo no clube, não estaria fazendo o mesmo?
“São cargos de natureza completamente distinta e personalidades distintas. O Abad é mais fechado, calmo, com visão de planejamento de finanças e o Mário tem visão diferente. Mais ligado a futebol e jogador. Dentro dessa linha, o desempenho político atrapalha muito mais o desempenho no futebol, vestiário, contratações, do que ser responsável pelo conselho fiscal. Por isso o tratamento completamente diferente.”

Mário, Pedro Antônio e Peter no CT - Rodrigo Paradella/UOL - Rodrigo Paradella/UOL
Mário Bittencourt (e), Pedro Antônio (c) e Siemsen: figuras centrais da política tricolor
Imagem: Rodrigo Paradella/UOL

O clube teve nomes como Celso Barros e Pedro Antônio injetando grana nas últimas décadas. Já estaria na hora de aprender a andar sem um mecenas?
“A cada dia está se preparando para isso. Quando assumi, certamente não estava nada preparado. Foi um enorme esforço nesses seis anos para fazer essa preparação. Mas acho que o Fluminense nunca deve dispensar nem uma oportunidade nem outra. O dia que tiver uma oportunidade de ter um parceiro como alto investimento no futebol, não precisa ser com o modelo que se tinha aqui, ainda bastante amador no ponto de vista de processo decisório. Tem grandes modelos no mundo. PSG, City, projetos da Red Bull, que chegou no Liepzig, da Alemanha. Sensacional. Não acho que o Fluminense tenha que deixar de aproveitar essas oportunidades, o que não pode é quando tiver, não construir e não se fortalecer como clube. Deixou de fazer por vários anos aqui.  Deve ser bem costurado e fortalecer também o clube, não apenas o time de futebol. Se isso acontecer, ótimo, podemos ter o Fluminense de daqui a 50 anos em 10. Sou um empreendedor. As vezes erra. Mas se acertar a maioria, dá salto de qualidade grande. Esse é meu perfil e jamais deixaria passar uma oportunidade dessa. Sobre o Pedro, você tem um torcedor apaixonado, que viabiliza uma obra que seria de sei lá quantos anos e com um custo muito maior, e ele, de forma pro-bono, se apresenta para ser o responsável é uma oportunidade única. Cabe ao presidente não colocar objetivos políticos na frente disso. Um cara bem-sucedido na área resolve ajudar o clube: por que não? É uma oportunidade única e que não poderia perder. Poderia fazer sem ele? Poderia. Mas em um nível não tão moderno, sem tanta qualidade e com um custo-benefício tão bom. O que sem ele levaria anos, com ele levou um ano e meio.”

E você tem certeza que tudo é feito apenas por amor ao clube, sem pretensões políticas?
“Quando se traz uma pessoa numa dessas oportunidades, pouco importa sua posição política. Houve uma reação grande no início do ano, quando o vice de futebol [Mário Bittencourt] era contra a construção do centro de treinamento. Em algum momento até sugeriu que se tirasse o Pedro por razões políticas para contratar uma empresa de construção civil. Tive que explicar que uma oportunidade como essa não aparece todos os dias. Na época não se sabia da situação dos três anos e que o Pedro não poderia concorrer. O Pedro pode apoiar quem ele quiser. Sempre o respeitarei por tudo o que ele fez. O mais importante é o Fluminense crescer.”

Uma de suas principais promessas lá em 2010 era uma auditoria para identificar as contas e dívidas do clube. Isso nunca foi feito. Qual o motivo?
“Quando entrei no Fluminense, não queria saber de caçar as bruxas. Eu não queria ficar arranjando culpados. Tanto que orientei que aprovássemos as contas do Roberto Horcades [ex-presidente]. Tinha uma auditoria interna qualificada, apenas mantive."

Você termina sua gestão sem um patrocinador master e com problemas de fornecimento de material esportivo. O saldo ainda é positivo?
“Foi um ano difícil para a gente. Perdemos o patrocinado máster, ele ainda pagou um valor por mês, mas não foi a mesma coisa. Também temos tido dificuldades com a Drywrold. É um ano difícil, mas o clube está dentro da linha de trabalho, de crescimento, entrega, formação de atleta. Vários jogadores do elenco com alto valor de mercado, ou seja, em caso de crise tem o ativo para fazer frente a ela.  Não posso negar que foi um ano muito difícil. Sem Maracanã, crise econômica do país, perda de patrocinador, fornecedor de material que não funcionou de maneira adequada. Quatro elementos que tornaram o ano muito difícil.”

A aposta na Dryworld foi um erro seu?
“Acho que foi erro deles de estratégia ao entrar no Brasil. Resolveram comprar uma indústria aqui. Alguém que nunca trabalhou no Brasil, assinar contrato e comprar a indústria. Você precisa conhecer onde você está. Não fizeram a leitura correta, ainda mais em crise econômica. Sofreu muito em decorrência dessa estratégia. Eu banquei esse risco. O risco foi meu. Fiz isso porque o número era muito alto em relação à média do mercado. Além de achar que a Adidas não estava nos atendendo de maneira adequada após passarem por mudanças. Não estava à altura do Fluminense. Agora é trabalhar pelo reestabelecimento da própria Dryworld ou por uma nova fornecedora.”

Jogadores do Flu reclamam em jogo contra o Corinthians - MAILSON SANTANA/FLUMINENSE FC. - MAILSON SANTANA/FLUMINENSE FC.
Imagem: MAILSON SANTANA/FLUMINENSE FC.

O senhor reclama bastante da arbitragem, como na entrevista emblemática e até exaltada contra o Corinthians. Contra o Vitória, o Flu foi ajudado e você não falou nada...
“Sou ser-humano como qualquer um e só virei presidente por causa da paixão. Tenho a mesma dor deles. As vezes tenho vontade de quebrar tudo. Mas tenho que manter a cabeça do lugar. No jogo contra o Vitória, em face do resultado, minha prioridade absoluta era trabalhar nos problemas que resultaram nos resultados ruins. Não havia tempo naquele momento. Se fosse outro resultado, provavelmente teria falado da arbitragem. Mas temos que fazer uma análise importante. Existem erros e erros. Alguns são totalmente aceitáveis, acontece. Outros, são muito gritantes. Foi o que aconteceu nos jogos contra Corinthians e Flamengo. Exemplos de que temos que ter o vídeo o quanto antes. Não peço isso de hoje, mas de alguns anos. Quando reclamei, foi para chamar a atenção, para se construir um futuro melhor.”

Precisava reagir contra o Corinthians ou era apenas um torcedor ali?
“A reclamação do Corinthians não foi por aquele jogo, mas em decorrência de partidas lá. Impedimentos para mais de dois metros. Teve o lance do Henrique (Bordeaux), depois do Cícero. Ou seja, não é de hoje. Somando na minha visão a situação dos pênaltis, fiquei bastante chateado, mesmo reconhecendo que anularam os três gols de maneira correta. Era importante chamar atenção para um fato que ocorria toda vez que o Fluminense jogava lá (Arena Corinthians). Não foi só uma reclamação, mas um posicionamento para chamar atenção da arbitragem, da CBF, que aquilo não poderia mais ocorrer. Ninguém aguentava mais.”

Como o senhor enxerga a fama do Fluminense de ser apontado por muitos como o “time do tapetão”, o time que sempre recorre ao STJD?
“Isso é completamente injusto. A Bolívia foi punida. Na Liga dos Campeões, o Legia Varsóvia, há dois anos, foi eliminado por escalação irregular. Só que lá, o processo é administrativo, não vai para um tribunal com defesa oratória. É muito menos chocante, menos desgastante. Isso que deve ser feito no Brasil. Aqui, infelizmente, cria-se um palanque onde quem passa a ser o principal ator é o membro da comissão julgadora. Não tem o menor sentido isso. Se foi escalado de maneira irregular, precisa apenas aplicar a regra. Assim é feio nos mercados desenvolvidos. Aqui, não, é essa confusão toda. No caso do Fluminense, na minha gestão, foi apenas a regra sendo cumprida. Sistematicamente. E cobrando dos outros que seja cumprido também. No caso da Portuguesa e do Flamengo, foram eles quem não cumpriram as regras e acabaram punidos. A denúncia foi feita pela procuradoria, Fluminense não teve nada a ver. Somente depois entrou como terceiro interessado. Não podia deixar de defender os interesses do clube. Falta isso ao Brasil. Vemos hoje em Curitiba, exemplos importantes nesse sentido. E muita gente está gritando por aí. Tem que ser duro, tem que aplicar. O Brasil só muda se aplicar a regra. O Fluminense sofre, mas não vai se intimidar pelo trabalho de alguns da imprensa ou torcedores. TV Globo mostrou que houve intervenção do fiscal do jogo junto ao árbitro. A única regra que permitia era fazer a denúncia e nem teve julgamento após uma decisão pessoal do presidente do STJD. Nem deveria haver esse cargo ou o tribunal. Deveria ser uma decisão administrativa. Outra coisa. Árbitro deveria dar entrevista. Todo esse cenário só cria incerteza e desconfiança. A regra só é aplicada de vez em quando. O futebol moderno não cabe mais isso.