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Candidato de situação quer Inter sem 'clãs' no futebol: "Cabeças novas"

Pedro Affatato quer "gestão compartilhada" e exploração de entorno do Beira-Rio - Divulgação
Pedro Affatato quer 'gestão compartilhada' e exploração de entorno do Beira-Rio Imagem: Divulgação

Jeremias Wernek

Do UOL, em Porto Alegre

07/11/2016 06h00

Pedro Affatato representa a atual gestão do Internacional, mas garante que não é candidato para o continuísmo. Primeiro vice-presidente de Vitorio Piffero no biênio 2015-2016, ele volta a disputar o cargo máximo no estádio Beira-Rio seis anos depois. E defende a formação de novas lideranças e fim de centralização do poder no departamento de futebol.

“Mesmo fazendo parte da gestão, o futebol ficou a cargo do presidente e do vice de futebol. Não quero dizer que não tenho responsabilidade, mas este modelo só vale para quem é do clã. Nele só está quem vive ou viveu o futebol, só um movimento político do clube. A gente precisa mudar isso”, disse Affatato.

Pedro Affatato disputa a eleição presidencial para o biênio 2017-2018 com Marcelo Medeiros e José Amarante.

Nesta segunda-feira (6), as três chapas passam por votação junto aos conselheiros. As duas candidaturas que superarem a cláusula de barreira avançam para eleição com participação dos associados. O chamado segundo turno está agendado para 10 de dezembro.

Confira entrevista do candidato à presidência do Internacional

UOL Esporte: O que há de diferente no Pedro Affatato candidato em 2016 em relação aquele candidato de 2010?

Pedro Affatato: Experiência. Amadurecimento, conhecimento de clube. Quando a gente vive o clube, gerindo ele, se tem uma visão. É bom sair e ficar no lado oposto para entender mais. Até para ver pelos olhos do opositor. Esse ingrediente foi muito positivo, eu agora tenho visão diferente na questão da crítica. Saber interpretar, entender o contraditório. Saber porque quem está do outro lado da mesa critica. Isso está me ajudando no período de gestão. Isso está me auxiliando e me credenciando mais ainda a presidir o clube. Quem vier a ocupar o cargo, tem que ter essa bagagem.

O quão difícil é fazer campanha diante da situação atual do time?

Quem faz parte da gestão tem responsabilidade plena, nós retardamos o lançamento da campanha em virtude de estar na gestão e estar responsável por aquilo que está acontecendo. Apesar de nós fazermos mais parte da questão administrativa e financeira, tenho responsabilidade de não fazer a instituição não sair prejudicada pela política. Dentro de um clube de futebol, tudo que acontece acaba no vestiário. Com esse conhecimento e experiência, decidimos ir com calma. A ideia sempre é não prejudicar o time.

UOL Esporte: Você é o representante da gestão nessa eleição, mas se vê 100% como representante da gestão? Porque dois grupos políticos que atuam no clube não fazem parte da chapa, saíram e inclusive passaram a apoiar outro candidato.

Pedro Affatato: Eu sou 100% representante de um grupo de pessoas que entende que deverá ter mudanças significativas no departamento de futebol do Internacional. Mesmo eu fazendo parte da gestão, como 1º vice-presidente desta aliança, que tem vários movimentos, nós sabemos até onde tivemos interferência no clube. Mesmo sendo gestão, nós criticamos o modelo de gerir futebol. E entendemos que precisamos de mudanças significativas na forma como a gente gere o futebol. Nós temos que aproveitar essa oportunidade que o estatuto nos dá, de criar gestão compartilhada, para implantar definitivamente esse processo. Nós somos geridos por um modelo ultrapassado, que se esgotou. Um modelo que começou em 2002, de um movimento político, e ele funcionou até 2010. Neste período foi liderado por grandes cabeças, mas quando eles saíram de cena, houve desgaste. Desde 2010 as coisas só pioraram. Nós temos que dar oportunidade para outras pessoas, o futebol não pode ficar sempre no mesmo clã, com as mesmas pessoas, que defendem uma tese. O futebol tem que ser compartilhado, tem que ter mais cabeças pensando.

Não é contraditório? Você representa a gestão, se está lá certamente foi por ter ideias alinhadas com os demais dirigentes. A ideia, a opinião pública, toma a sua campanha como seguimento do que foi feito em 2015 e 2016.

Não, não. Muito pelo contrário. Eu defendo o conceito de gestão compartilhada. Garanto que todas as áreas do clube onde militei, onde pude ter participação, estão extremamente organizadas. Com processos definidos, planejamento implantado. A gente pretende levar isso ao futebol. Mesmo fazendo parte da gestão, o futebol ficou à cargo do presidente e do vice de futebol. Não quero dizer que não tenho responsabilidade, mas este modelo só vale para quem é do clã. Nele só está quem vive ou viveu o futebol, só um movimento político do clube. A gente precisa mudar isso, precisa pegar as melhores cabeças de outros movimentos e trazer para o futebol. Temos que dar oportunidade a mais pessoas.

Além da mudança de organograma, de estrutura, o que você pensa de planejamento para o futebol? Existe um debate sobre o modelo de gestão do Inter. Aquela ideia de prospectar jovens, formá-los e botá-los no time. Depois, vende-los e girar a roda do clube com esse dinheiro. Essa ideia ainda é viável?

Funcionou bem quando não tinha tanta concorrência. Hoje, qualquer atleta tem muita gente em volta. Funcionou em outra época. Por isso eu digo, esse modelo se esgotou. Está cansado. Está desgastado. Temos que avançar. Não é por acaso que estamos fazendo investimento no CT de Guaíba, a Cidade do Inter. Temos que gerar os atletas, formar os atletas. Este é o grande segredo daqui para diante. Não quer dizer que vamos abandonar a peneira de mercado, mas vamos ter que melhorar a capacidade de aquisição. Para isso, precisamos de cada vez mais recursos. E por isso precisamos de um clube organizado. O aumento de receitas ajuda, vamos injetar cada vez mais dinheiro no futebol, mas é preciso estar organizado. Buscar, captar e adquirir faz parte, mas precisamos de mais recursos. E também nesse sentido, trabalhamos para transformar o Beira-Rio em um case de negócio. Passamos dois anos para ter índices de construção do entorno do estádio. Isso demanda tempo, tem uma série de etapas e elas foram superadas. Hoje estamos com praticamente toda área do entorno com índices bem definidos para fazer disso recursos.

UOL Esporte: O que você já tem definido para o futebol? Vice de futebol, diretor executivo...

Pedro Affatato: Claro que a gente pensa no futebol, mas nós queremos trabalhar dentro de nosso planejamento. Estamos na fase eletiva, que precisamos superar, mas antes de pensar em um nome nós temos que organizar o conselho de gestão. Somos obrigados a ter cinco nomes, três eleitos e outros dois a serem consultados. Mas claro que o futebol tem que ter organograma. Entendemos que é preciso um vice de futebol, um diretor executivo e um diretor técnico. E abaixo disso, vem o treinador e todo o estafe do futebol. O que estamos fazendo agora é olhar as atribuições de cada função, estabelecendo perfil e a partir daí criar os processos.

Logo após a demissão do Argel, se atribuiu a você e outros dirigentes da gestão, a ideia de contratar Paulo Roberto Falcão. Você participou e baseado em qual conceito?

O departamento de futebol foi, é e será sempre tocado pelo presidente e vice de futebol. Eu participei com atuação pertinente a minha área. A minha contribuição foi no aspecto financeiro, com aquilo que era ligado ao departamento onde eu atuo.