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Novo diretor do Corinthians defende MSI e diz que teria demitido Tite

Flavio Adauto, 68, é o novo diretor de futebol do Corinthians - Folhapress
Flavio Adauto, 68, é o novo diretor de futebol do Corinthians Imagem: Folhapress

Guilherme Costa e Luis Augusto Simon

Do UOL, em São Paulo

14/11/2016 06h00

Anunciado em outubro como novo diretor de futebol do Corinthians, Flávio Adauto, 68, jamais havia tido oficialmente o cargo. No entanto, também não é exatamente um novato. Em 2005, depois de o responsável pela área ter se afastado sem pedir demissão, o jornalista e publicitário, que ocupava a vice-presidência de comunicação do clube, acumulou informalmente o comando do futebol. Viveu o auge e a derrocada da parceria alvinegra com a MSI, que rendeu um título brasileiro e transformou o time em habitué de manchetes policiais.

Adauto, contudo, tem uma visão positiva do trabalho da MSI. A despeito de a Polícia Federal ter acusado a empresa de usar o Corinthians como lavanderia de dinheiro da máfia russa, o novo diretor defendeu a controversa parceria. Para ele, o clube é que falhou no acordo.

A análise sobre a parceria foi um dos principais assuntos abordados pelo diretor em entrevista exclusiva ao UOL Esporte. No bate-papo, Adauto também falou sobre a montagem do time para 2017 e bancou a permanência do técnico Oswaldo de Oliveira, 65. Mas admitiu que teria demitido Tite, 55, quando o atual comandante da seleção brasileira dirigiu um Corinthians que foi eliminado pelo Tolima ainda na fase preliminar da Copa Libertadores.

Confira a seguir os principais temas do bate-papo com Adauto:

Novo diretor do Corinthians vivenciou “Era MSI” e defende ex-parceira

Tenho experiência de sobra. Peguei muito pior. Em 2005, o nosso vice de futebol se afastou do cargo e não pediu demissão, que era o [Antonio] Roque [Citadini]. No histórico ele era o vice-presidente de futebol, mas desistiu porque achou que não queria trabalhar com a MSI. Eu fiquei dirigindo o futebol esse tempo todo. O cargo era vice-presidente de comunicações, mas como não tinha vice-presidente de futebol eu acumulei. Não fiz outra coisa na vida a não ser ver, trabalhar, acompanhar e trabalhar com técnicos. Desde lá de trás, com o Zezé Moreira, como jornalista. Você aprende todo dia. Convivendo com diretores e técnicos, você aprende todo dia. Você passa um ano e tanto no Corinthians, num momento muito mais turbulento do que agora, tanto que gerou muitos problemas depois. A gente conseguiu lá. A gente contratou o [Emerson] Leão e foi buscar alguns jogadores.

Tenho uma visão: a MSI cumpriu tudo o que prometeu. Não tenho nenhum relacionamento com ninguém de lá ou com o Kia. Encontrei com ele apenas uma vez, em 2005, numa reunião em que ele estava apresentando para vir. Nunca sequer o cumprimentei depois disso. Mas ele cumpriu com tudo o que prometeu – quem não cumpriu foi o Corinthians: essa é a verdade. Muito do que era para ser investido no futebol foi investido em patrimônio do clube. Os recursos deveriam ter sido usados exclusivamente no futebol, mas viraram sede, construção. É que o Corinthians vivia um momento de turbulência, com o cara que trocava o dia pela noite e o outro que trocava o dia pela tarde. Era tudo misturado. Aí você fala do [Alberto] Dualib, mas quem ganhou tanto quanto ele como presidente?

Diretor diz que teria demitido Tite após eliminação na pré-Libertadores

O Corinthians, quando resgatou o Tite, não tinha nada melhor. Num determinado momento era pior do que os anteriores. O caso do Andrés [Sanchez], na manutenção contra o Tolima, é um negócio épico. 99% dos dirigentes brasileiros nem voltariam junto com ele. O cara depois virou esse sucesso aí.

Foi uma atitude ousada. A pressão da imprensa, a pressão da torcida. Muito provavelmente, movido por todo o histórico, eu teria dito: “Tite, sinto muito”. E teria errado redondamente.

Para diretor, Corinthians também estaria sofrendo se Tite tivesse ficado

Tenho visto jogos da seleção. Dá prazer de ver a seleção. Talvez as dificuldades de hoje fossem do mesmo jeito com ele. Ele teria esse mesmo elenco, e talvez as dificuldades fossem as mesmas. Acredito que com ele nós teríamos as mesmas dificuldades de hoje.

O Cristóvão era uma aposta. Acho que as dificuldades do Tite, do Cristóvão, do Carille e do Oswaldo seriam as mesmas. Na hora em que você perde toda uma estrutura, consegue uma reação razoável e perde essa reação também, qualquer um teria problemas. O Tite entregou entre os quatro primeiros, mas depois perdeu o Elias, o Bruno Henrique e o Felipe. É bom que a gente tenha tido um bom começo, mas a situação poderia ser pior com qualquer um. Se você não dá estrutura e não tem peças estratégicas... o Oswaldo sabe disso e também quer essas peças. O Tite é ótimo, mas não faz milagre.

Como a Arena Corinthians atrapalha planos do time para 2017

Você tem um sonho realizado, mas precisa pagar a conta. Se você pensar, o São Paulo ficou 15 anos sem ganhar nada quando construiu o Morumbi. É uma situação clara em que você desvia atenção do futebol. Não dá para pensar só em futebol. Se me perguntarem se eu fico dez anos sem título para pagar o estádio, eu aceito. É uma tese legal. Eu vou ter para o resto da vida o patrimônio.

O estádio dá preocupação. Ele é um negócio que está para ser solucionado. No futebol ele interfere a partir do momento em que você vai ter escassez de recursos. Isso vem de uma dívida cumulativa. Grana em caixa está a dificuldade. Está pagando uma série de compromissos, com uma série de adiantamentos feitos em outras gestões, que propiciaram outras conquistas. Agora você paga a conta.

Diretor descarta “loucuras” ao contratar reforços para o próximo ano

O Corinthians pode agora falar em investir R$ 30 milhões ou R$ 40 milhões num jogador? Pode, mas é inviável. Eu não diria nem que seria uma loucura, porque o Ronaldo Fenômeno foi uma loucura e acabou sendo uma loucura gostosa. Foi uma das mais eficientes loucuras que o Corinthians fez em sua história. Surgiu como uma oportunidade de negócio, algo que ninguém sabia de onde viria. Agora você vê o quê? Não vejo nenhum Ronaldo Fenômeno e nenhuma oportunidade desse porte, mas você pode montar um time forte se tiver visão. Se você pensar que o Corinthians montou um time muito forte no passado, você pega o Paulinho, que veio do Bragantino, o Ralf, que veio de Osasco, o Felipe, também do Bragantino. Jogadores que não eram de ponta e que se transformaram em jogadores de ponta.

Qual é o peso da Libertadores para a definição do Corinthians de 2017

Os investimentos serão condizentes. Cada jogo na Libertadores significa hoje algo como US$ 750 mil ou US$ 800 mil. Cada jogo. Lógico que você não vai gastar por conta ou comer a janta antes de ter o almoço, mas se você tem a Libertadores e consegue programar dois jogos, monta um time pensando em dois jogos. São R$ 3,2 milhões. Se eu chegar a seis jogos, vou ter R$ 15 milhões ou R$ 20 milhões. Isso em cotas, sem contar melhorias na televisão, de parceiros, novos negócios. Eu não vou me envolver nessa área, mas essa é a visão que a gente tem com um calendário definido.

A folha hoje é a mesma que era meses atrás. Na faixa de R$ 6 milhões ou R$ 7 milhões. A ideia é saber o que nós vamos disputar no ano que vem. Se formos disputar um maior número de eventos e tivermos mais receita, pode aumentar.

Diretor se vê como exemplo e banca permanência de Oswaldo

Eu visto essa carapuça. Quem vai me julgar por dez dias de trabalho, quase todo ele burocrático? Você tem de pensar no foco de alguma coisa, e o foco de alguma coisa hoje é manter o elenco, ter paz, dar condições para o Oswaldo trabalhar e conversar com todos vocês, algo que eu vou parar.

O Oswaldo fica até 2017. É o contrato que ele tem, e o Corinthians tem por hábito manter seus técnicos. Eventualmente nós tivemos duas distorções. Nem tanto do Fabio, que continua com a gente trabalhando, mas eu pergunto: quem não tem trocado? O Corinthians. O Corinthians deu certo porque manteve base.

Adauto ignora críticas de jogadores ao trabalho e pede tempo para Oswaldo

Ele é inteligente. Eu também li o Guardiola, mas teoria é uma coisa, prática é outra. Cabeça de um, cabeça de outro. O Guardiola não é o melhor técnico do mundo ou o pior porque ganhou de 3 a 0. É porque tem uma metodologia, tem todo um trabalho. A gente sabe disso. Só que, se o Oswaldo foi o escolhido, é o técnico do Corinthians, tem história, tem história dentro do clube, tem história no Japão, não é um leigo. Não é um cara que veio despreparado para o Corinthians. É um cara que veio preparado, mas o futebol tem todas essas controvérsias sobre quem adota determinado tipo de trabalho, quem foi fazer curso lá fora. Isso é muito subjetivo. Você tem de pegar o resultado de campo e dar um prazo, dar um tempo. Já pensou você julgar o Tite ou qualquer técnico por dois ou três jogos? Ah, mas a metodologia... vamos ver o resultado!

“Podem ter sido equívocos”, diz diretor sobre reforços contratados em 2016

[Gustavo] Pode ser um equívoco. Jean também. Podem ser dois equívocos. Se você pegar o Vagner Love, nos primeiros meses de Corinthians ele foi lamentável, triste e bisonho. No momento ele não jogou nada. Esse rapaz [Gustavo] teve um começo que foi muito pobre, mas quem vai garantir isso?

Você vê alguns jogadores do Corinthians. O Jadson: quem viu o Jadson no meio da torcida, no setor oeste, porque ele não tinha espaço no banco? Ele não estava jogando nada, e o Pato explodindo no São Paulo. Não foi embora porque reuniu com a família. Terminou o ano como um dos melhores do time. O mesmo com o Renato Augusto, que não vinha bem em lugar nenhum e hoje é um dos mais importantes do time. Jogador, para você analisar, é preciso dar um tempo. Desses que estão aí, eu contrataria o Marquinhos Gabriel. Pelo histórico, pelo que fez. De repente, chegou e ainda não conseguiu render. O que se vai fazer?

Insônia e leite na madrugada: como diretor reagiu à goleada para o São Paulo

A reação depois do 4 a 0 foi a mesma que teria tido como torcedor: às 3h eu estava tomando leite e não conseguia dormir. Ah, mas isso não pode ser ou tem de ser frio. Não vem me falar isso. A reação de sentimento não muda, mas equilíbrio você tem de ter. Se eu estou na arquibancada, grito e xingo. Se estou no vestiário, tento entender por que aconteceu isso. Não xinguei nenhum jogador. Fiquei frustrado com o todo. Se xingasse, ficaria caçando bruxas para mim mesmo.

Novo diretor é fã de Rodriguinho e Danilo

[O melhor jogador do time] Hoje eu diria que está entre o Rodriguinho e um que para mim é um dos principais, mas não está lá e faz uma falta danada: o Danilo. Pela experiência, pelo comportamento, pela liderança. O Danilo faz muita falta.

Precisamos de protagonistas, mas na nossa situação atual dá para fazer protagonistas. Ele está escondido, ou então não é protagonista em outro lugar. Isso dá para acontecer. Eu citei um nome que poderia ser um dos contribuintes mais efetivos para o fim da instabilidade, que é o Danilo. Vejo nele isso. Como eu adoraria que o Danilo tivesse mais três, quatro ou cinco anos de futebol.

Diretor quer acabar com jogadores “fatiados” na base do Corinthians

Minha tese é: quer jogar no Corinthians? Ou a gente tem o domínio ou a maioria sobre ele, ou então não joga. O problema é vender assim e ficar com porcentagem pequena. Isso é absurdo. Isso não entra na cabeça de ninguém: nem do torcedor e nem do dirigente. Você precisa saber o que tem dos jogadores. Se não for assim, não dá oportunidade. Você quer o Corinthians como vitrine? Ele tem de ser nosso. O Roberto estabeleceu um mínimo de 70%.