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Marlos: "Eu evoluí. Sou mais profissional do que quando saí do São Paulo"

Marlos treina no São Paulo - Luiz Pires/Vipcomm - Luiz Pires/Vipcomm
Imagem: Luiz Pires/Vipcomm

Bruno Doro

Do UOL, em São Paulo

15/11/2016 06h00

Marlos saiu do São Paulo sem muito alarde. Era um meia-atacante de talento, mas que não conseguia mostrar, com consistência, sua importância para o time. Quando chegou a proposta de um time da Ucrânia, ninguém pensou muito antes de aprovar a venda. Passaram-se quase cinco anos e aquele jogador não existe mais.

O Marlos de hoje é a grande estrela do Shakhtar Donetsk, da Ucrânia. Na temporada passada, foi o único brasileiro de seu time eleito para a seleção da Liga Europa. Em números, supera colegas mais falados no Brasil, como Taison, convocado duas vezes por Tite para a seleção brasileira, ou Bernard, que disputou a Copa do Mundo de 2014. Hoje, é o ex-São Paulo, e não os selecionáveis, o jogador mais cobiçado do time ucraniano.

Marlos, do Shaktar, em partida da Liga Europa - AFP/GENYA SAVILOV - AFP/GENYA SAVILOV
Imagem: AFP/GENYA SAVILOV

Para ele, maturidade é a chave para essa metamorfose. “Eu evoluí muito. Meu profissionalismo aumentou e meu rendimento dentro de campo mudou completamente. Sou um jogador totalmente preparado para adversidades. Meu estilo de jogo é o mesmo, mas como pessoa e profissional, sou outro. Na época do São Paulo, eu era muito novo”, contou o jogador para o UOL Esporte, direto da Ucrânia.

Ele saiu do clube do Morumbi em 2012, aos 24 anos. “A idade pesa nas suas decisões. Às vezes, pesa na hora de decidir se você vai fazer um trabalho extra ou se vai dedicar mais tempo para recuperar o seu corpo. Pesa, até, para ter consciência de como as suas decisões afetam a maneira como você cuida da sua vida. Todas essas pequenas decisões são importantes na vida de um atleta. E isso, querendo ou não, você só aprende com idade e experiência”, completa.

Marlos foi contratado pelo Shakhtar para substituir Douglas Costa, que tinha sido vendido para o Bayern de Munique. “O time precisava de alguém pronto, adaptado à Ucrânia e ao Campeonato Ucraniano. E eu tinha acabado de fazer uma boa temporada pelo Metallist [clube que o tirou do Brasil]”, explica. Em três anos com o laranja e preto, foram 106 jogos, 22 gols e 23 assistências. Como comparação, Taison tem 23 gols, mas disputou 38 jogos a mais. Já Bernard tem 108 jogos e apenas 14 gols.

Ao UOL Esporte, o jogador falou sobre o Shakhtar, maturidade, o sonho de jogar nos maiores clubes europeus (Borussia Dortmund, Inter de Milão e Tottenham Hotspurs já o sondaram) e a chance de voltar ao Brasil. Confira:

Seleção brasileira: ele sabe que está sendo visto
Taison, do Shakhtar, na seleção brasileira - Pedro Martins/MoWA Press - Pedro Martins/MoWA Press
Taison, companheiro de Shakhtar, foi lembrado por Tite. Será que Marlos terá chance?
Imagem: Pedro Martins/MoWA Press

A gente vê com bons olhos a convocação do Taison. Isso prova que estamos fazendo um bom trabalho. Ele é um líder no nosso elenco e fico feliz por ele. Acredito que todos nós temos condições de jogar na seleção brasileira, pois são jogadores de qualidade e que vem jogando bem no cenário europeu. Os números e os resultados mostram isso. E a gente fica feliz quando percebe que o trabalho está sendo visto.

Jogar no Shakhtar ajuda a ser lembrado

O Shakhtar é um clube inteligente. Eles têm a percepção de pegar jogadores de muita qualidade no Brasil e que, às vezes não são unanimidade ou são pouco falados. Mas são jogadores de qualidade. O Shakhtar compra esses jogadores como aposta de futuro. E dificilmente dá errado. Dificilmente eles compram jogadores que não dão certo. Willian, Douglas Costas, Fernandinho, todos passaram por aqui, hoje jogam em grandes clubes da Europa e estão na seleção. Jogar no Shakhtar é uma vantagem. Sabem que os jogadores que saem daqui têm qualidade.

Ciclo na Ucrânia no final. Meta é grande transferência

Gostaria de continuar no Shakhtar e ganhar mais títulos. É um clube que eu aprendi a amar e que me dá estrutura completa para poder jogar. Só que chega uma hora da carreira e da vida em que você atinge um certo nível. E acredito que, hoje, eu atingi tudo o que poderia atingir na Ucrânia. Já estou preparado para jogar em uma liga mais forte e mais competitiva. Mas é ter paciência e trabalhar forte para fazer meu melhor pelo Shakhtar.

Ainda não é hora de voltar ao Brasil

Eu sou fã número 1 do campeonato brasileiro. Acho que é o mais forte que existe no mundo. Só que acredito que hoje não estou preparado para voltar. Eu almejo coisas maiores. Um grande clube da Europa. As coisas estão acontecendo [nesse sentido]. E acredito que daqui a um tempo possa realizar um grande sonho.

Passagem pelo São Paulo foi positiva

O São Paulo é um clube que aprendi a gostar muito. Pelo clube que é e pelo profissionalismo das pessoas que trabalham por lá. Ainda tenho amigos e acompanho sempre. Minha passagem [pelo São Paulo] foi boa. Se não tivesse sido boa, não estaria na Europa. Se hoje estou jogando o que estou jogando, é porque no são Paulo eu mostrei alguma coisa para os clubes europeus. Pode não ter sido [uma passagem] tão proveitosa por falta de sequência, de jogos. Mas acredito que fiz um bom trabalho. Lógico que, se fosse hoje, seria muito diferente. Hoje eu tenho um perfil para ser um líder, um jogador importante. Naquela época, eu era um jogador de elenco, jogava uma sim, outra não. Hoje estaria preparado para assumir um papel mais importante.