Topo

Novo presidente da Chape deixa empresas de lado e busca forças no netinho

Ivan Tozzo, novo presidente da Chapecoense, ao lado do filho Rafael - Luiza Oliveira/UOL Esporte
Ivan Tozzo, novo presidente da Chapecoense, ao lado do filho Rafael Imagem: Luiza Oliveira/UOL Esporte

Bruno Freitas, Danilo Lavieri, Felipe Vita e Luiza Oliveira

Do UOL, em Chapecó (SC)

02/12/2016 06h00

Ivan Tozzo está no olho do furacão. O vice-presidente da Chapecoense assumiu o comando do clube no meio de uma tragédia e agora precisa cuidar de tudo. Mas ainda não sabe nem como começar a cuidar de si mesmo. O cartola está devastado pela tragédia, mas vestiu a missão de reerguer o clube. Para isso, deixou o trabalho de lado e busca forças no netinho Leonardo de quatro anos.

Desde o acidente, Tozzo não tem nem tempo de viver o seu luto, apesar do olhar sofrido que carrega. Passa horas ininterruptas na Arena Condá entre reuniões e centenas de entrevistas. Mal consegue dar um passo sem ser interrompido por um jornalista. Atende a todos pacientemente e só consegue dizer ‘não’ quando chega em seu limite.
 
A dor da perda de tantos amigos no clube se transformou em dor física. Com o estresse, a tensão e o desgaste da tragédia, seu problema de saúde piorou e ele tem sofrido com fortes dores na coluna. Na noite de quinta-feira, só conseguiu dormir bem graças a uma forte medicação.
 
Hoje, ele encontra a sua força na missão que lhe foi dada pelo destino e, principalmente, na convivência com o netinho Leonardo, de 4 anos. Nesta semana, ele fez questão de passar algumas horas com o pequeno e recarregar suas energias. Prova disso é que o único momento em que conseguiu abrir um largo sorriso foi quando lhe perguntaram o nome da criança.
 
“Eu passei umas horas com meu neto. Isso me ajuda, dá um pouco de esperança”, conta ele.
 
O filho de Ivan, Rafael, também tem se dedicado integralmente ao clube e fala um pouco sobre a relação especial entre avô e neto. “Ele tem um neto, que é meu filho, e a esposa do meu irmão está grávida, está para vir uma menina aí. Ele sempre viu as crianças como o futuro. Ele sempre quis colocar os filhos de todo mundo na empresa porque ele aposta na segunda geração, terceira. Esse é o instinto dele. Quando vê uma criança, ele já faça que vai ser torcedor e jogador”, disse.
 
Tozzo já assumiu a presidência do clube imediatamente com a morte do então mandatário Sandro Pallaoro. Agora terá que viver integralmente para a Chape e tomar todas as decisões. Por isso, ele vai precisar deixar um pouco de lado a bem sucedida carreira de empresário.
 
O dirigente é também proprietário do Grupo Tozzo, uma empresa de atacado distribuidor nos ramos de alimentos, bebidas, higiene pessoal, cerealista e agropecuária que atua nos três estados do Sul do país. Além disso, a família anda tem um grupo de concessionárias especializadas em revenda de automóveis Renault e Honda. Agora, o irmão vai assumir o grupo e o filho vai comandar mais de perto as empresas automotivas.
 
“Ele vai suprir as necessidades da empresa. Ele veio dar uma força para o meu pai: ‘toca o barco aqui que lá a gente se vira’. Eu e meu irmão a gente vai dar conta também, a gente quer que ele se doe, dê a alma dele o clube. A paixão vai se manter e vai aumentar, mas a cicatriz é incurável. O amor ao clube vai sempre aumentando, por eles. É questão de missão”, disse Rafael.
 
“Ele está abalado, preocupado porque ele sempre foi parceiro da Chapecoense. Ele está há anos na Chape, mas não vinha em tempo integral. Quem ficava por conta o dia inteiro era o Sandro. Humildemente, ninguém vai conseguir substituir o Sandro. Meu pai tem outro estilo, até porque o Sandro era mais novo, tinha mais disposição para viagens. Mas ele tem um estilo muito humano que é muito bom e precisamos disso agora. Nós vamos conseguir”.
 
Tozzo vai ter que começar do zero, mas ele já passou por essa mesma estrada. Ele foi patrocinador do clube e desde 2008 integra a diretoria. Acompanhou os momentos mais difíceis da Chape. Desde quando quase fechou as portas na Série D até o ressurgimento na Série A e a chegada na final da Copa Sul-Americana. Ele foi tesoureiro do clube e chegou a usar o dinheiro do próprio bolso para pagar jogadores.
 
“Estou na Chapecoense desde 2008 participando da diretoria. Sempre ajudando a vida inteira. Vi esse time crescer, passar por todas as séries, o final de semana era nossa diversão. Ajudei demais. Pagava os jogadores com meu dinheiro, no início quando começamos na Série D, nem Série tinha”, conta Ivan.?