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Oswaldo é cauteloso com uso de verde no Corinthians e alerta para fanatismo

Rodrigo Gazzanel/Agência Corinthians
Imagem: Rodrigo Gazzanel/Agência Corinthians

Do UOL, em São Paulo

02/12/2016 19h02

Com passagem pelo Corinthians e pelo rival Palmeiras, o treinador corintiano Oswaldo de Oliveira deu longa resposta nesta sexta-feira a respeito da possibilidade de uso de verde para homenagear a Chapecoense. Ele falou em reduzir a importância em torno desse tipo de discussão.

"Todos nós tínhamos que minorizar isso, às vezes não conseguimos, há vontade de motivar um clássico ou uma competição. Mas esquecemos que um passo, por menor que seja, pode tirar vida de pessoas. Essa questão da rivalidade tem que ser levada a sério, precisamos ter cuidado quando abordamos essa matéria, que nos últimos tempos vem ganhando proporções incontroláveis, principalmente no momento em que vivemos. As opiniões são diversas", comentou Oswaldo.

"As torcidas são iguais, umas têm mais, outras menos. Mas fanatismo, paixão, encontrei em todos os clubes que passei. Fanatismo é uma coisa que temos que controlar independentemente da cor da camisa. É preciso ver o futebol como elemento de entretenimento. Nós que militamos no futebol precisamos ser profissionais, saber o que estamos vivendo e passando e na medida do possível minorizar esse tipo de assunto. É preciso ter cuidado, pois qualquer coisa que se diga pode ser mal interpretada", disse ainda o treinador corintiano, com lembrança sobre um fato antigo.

"Em 1999, quando jogamos partida decisiva do Campeonato Paulista contra o Palmeiras e teve aquele episódio do Edilson, eu fui num programa de TV que chama "Super Técnico". Me perguntaram por que os jogadores se chocaram daquela maneira e por que teve uma crise tão grande. Eu falei que o culpado eram eles mesmos, que passavam a semana jogando um jogador contra o outro, gravando áudio do treinador... Se houvesse mais respeito, não haveria. É o mesmo que digo agora. Precisamos ter cuidado para não estimular uma manifestação tão agressiva como vem acontecendo. Se interrompermos esse ciclo, será muito importante. Precisamos fazer esforço para que isso aconteça", concluiu.

Em resumo, Oswaldo também demonstrou apoio à ideia de usar a cor da equipe catarinense: "Seria lindo o verde da Chapecoense. Seria ótimo se todos os clubes pudessem jogar com a camisa da Chapecoense".

Confira mais respostas de Oswaldo de Oliveira:

REAÇÃO ÀS PERDAS
Foi inesperado, uma situação muito difícil, complicada. Traz uma tristeza que é difícil de conter. Às vezes se perde uma pessoa de forma inesperada. Você lamenta mas conforta uma família, uma pessoa. Mas o que aconteceu foi um leque enorme, a cada momento lembramos de uma pessoa. Teve o Mario Sérgio, que era um grande amigo, com quem sempre tive conversas muito boas... Enfim, é realmente trágico isso.

DEFESA DO CAMPEONATO BRASILEIRO
Toda e qualquer conjugação neste momento é muito difícil. Falamos aqui de um fato muito grande, com proporções inimagináveis. O luto tem que ser respeitado, com certeza, isso é irrevogável, mas o campeonato tem que acabar, precisa. Uma vez li um livro que contava a história da Segunda Guerra Mundial e os ataques frequentes dos alemães à cidade de Londres. A cidade acabou se habituando com aquela situação. Todo mundo estava trabalhando, camelôs vendendo comidas, e quando os ataques aconteciam, todo mundo corria para os bunkers, para o subsolo. Quando acabava, todo mundo voltava à rotina. O que aconteceu com nós é de uma dimensão muito grande, difícil de administrar. Na medida que o tempo vai passando, vamos tendo vários tipos de informação e opinião. Respeito muito o que o pessoal do Internacional está dizendo e também acho que o Atlético-MG tem razão de não jogar contra a Chapecoense. No momento deste jogo tem que se prestar uma homenagem.

Mas o campeonato tem que acabar, tem muita coisa para acontecer em uma rodada. Não sei se seria interessante uma troca, talvez jogar a rodada na quarta-feira e a Copa do Brasil no domingo, já que assim alterna o planejamento de todo mundo e as férias legais de todos os jogadores. Isso precisa ser muito bem pensado, temos de levar em consideração os dois lados, o da perda descomunal de tantas pessoas queridas e boas, com as quais tínhamos ligações, e o lado da missão que temos que cumprir, de terminar o campeonato.

MOMENTOS DE TENSÃO
Eu acordo cedo, velho acorda cedo. Liguei a televisão para ver o jornal e vi as informações, que falavam do que aconteceu... Fiquei estarrecido, sentado olhando para a TV, ansioso para que as coisas acontecessem. No primeiro momento havia notícia de que algumas pessoas se salvaram, então pensei que poderia não ter sido tão grave. Depois que a gente vai sabendo das proporções e tudo que aconteceu.

RELAÇÃO COM 3 JOGADORES DA CHAPECOENSE
Ainda bem que eu só tinha que dar entrevista hoje, que já passou um pouquinho... Isso me deu um tempo para respirar e pensar melhor. Eu tive três jogadores que estavam lá, o Neto, que se salvou; o Cleber Santana, que foi meu jogador em 2004, começando, ainda menino, é um cara por quem eu tinha muita consideração, sempre que o encontrava dava um abraço; e o último foi o Marcelo, que era do Flamengo, zagueiro, encontrei com ele três vezes recentemente. Teve também o Caio (Júnior), que era um grande amigo meu, nos aproximamos no Japão, sempre trocávamos ideia. O Mario Sérgio era outro grande amigo, sempre que nos encontrávamos havia uma afinidade muito grande. Já o Guilherme eu vi iniciando como repórter lá no Rio de Janeiro. Victorino Chermont era um cara que acabei ficando amigo... Mais as outras pessoas. Enfim... Isso deixa um clima, uma situação difícil. Aqui no Corinthians, o Vilson por ter jogado lá no ano passado ficou péssimo, mas no fundo todos tinham amigos lá. É um peso grande para que as pessoas reajam e assumam como motivação. No fundo, é algo que pode acontecer com qualquer um de nós. Eu mesmo estava disputando essa competição (pelo Sport).

CHANCES DE LIBERTADORES
Nós temos uma condição boa de conseguir a classificação, é óbvio que precisamos primeiro vencer a nossa partida. Se conseguirmos isso, existem outros dois jogos que podem nos dar essa condição, que é o do Botafogo com o Grêmio e o do Atlético-PR com o Flamengo.

ACORDO PELO BRASILEIRO
Temos a margem entre o descontentamento e a compreensão pelo motivo. As felicidade e agruras do futebol fazem parte da nossa vida, é uma mudança extrema que somos obrigados a passar. Não havia condição de jogar domingo essa rodada, o que transfere a rodada para a próxima semana. Precisamos saber jogar com isso. As férias são um direito dos jogadores, que lutaram muito, levaram anos para conseguirem isso. Mas por outro lado tem essa situação para contornar. Na medida que o tempo for passando e as pessoas forem colocando a cabeça no lugar, todo mundo vai chegar num acordo.

HOMENAGENS
Todas as alternativas são aceitáveis. A coisa mais bonita que vi foi o estádio na Colômbia na quarta-feira. Podem dizer "foi uma atitude política do prefeito". Meu irmão, em menos de 48 horas colocar milhares de pessoas num estádio, com manifestações espontâneas, a torcida oferecendo o título para a Chapecoense... foi muito bonito, me emocionou muito. Isso é muito grandioso. Acho que esse leque de ofertas e ideias que se abre é muito válido. Quando se há uma oferta muito grande, o ideal é filtrar, planejar e canalizar para que o clube sofra o menos possível e retome seu caminho, porque é inegável que vinha fazendo um trabalho muito bonito, uma gestão bonita. É um clube que ascendeu de divisão muito rapidamente, reflexo do clube e da cidade. Tomara que tudo isso que estão dedicando e promovendo se organize e venha a ajudar bastante a Chapecoense.

COMO SE REFAZER
Quando é uma pessoa só, mais rapidamente você se refaz do golpe, mas acho que isso não vai acontecer, pois não afeta uma pessoa só, afetou o mundo inteiro. Acho que todo mundo vai dar o tratamento ideal, as coisas vão acontecer de uma forma boa e ninguém vai ser esquecido, pelo contrário.

REFORÇOS PARA 2017
Desde que cheguei aqui temos conversado diariamente sobre esse assunto, até porque já era época, eu cheguei em meados de outubro. Algumas coisas avançaram, outras não foram possíveis, outras estamos conseguindo adiantar... É o que digo sempre, não posso me focar em um nome, como o do Wagner. Só vou falar do jogador quando vestir a camisa, estiver treinando... Quando a gente não tem a certeza, não adianta ficar falando. Pois se a negociação não se realiza, são palavras ao vento.