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Desespero, negação e desmaio: a angústia das famílias em 4 dias de espera

"Estou mais tranquilo porque eu estou dopado", admite Osmar, pai de Filipe Machado - Andre Penner/AP Photo
'Estou mais tranquilo porque eu estou dopado', admite Osmar, pai de Filipe Machado Imagem: Andre Penner/AP Photo

Bruno Freitas, Danilo Lavieri e Luiza Oliveira

Do UOL, em Chapecó

03/12/2016 02h16

O vestiário da Arena Condá já foi palco de celebrações e de momentos de euforia dos jogadores da Chapecoense. Mas agora o ambiente festivo dá lugar ao mais profundo drama. O local se transformou em ambulatório para atendimento das famílias que vivem a angústia de esperar os corpos de seus entes queridos há quatro dias.

O tempo se prolonga e, com ele, o sofrimento. Todos têm uma dor latente, mas cada um à sua maneira. Para alguns, o desespero toma conta. Outros têm dificuldade de aceitar o episódio fatal e negam a realidade. Há ainda quem passe mal e precise de atendimento médico.

Pai do zagueiro Filipe Machado, Osmar Machado relata o drama intenso dos parentes. “Por dentro parece que tu não tem nada. E você vê cada pessoa em uma situação. Se você entrar ali no ambulatório, você vai ver gente vomitando, desmaiando, urrando, chorando... E essa é a vida. Teve que gente que levaram até para o hospital. Cada um tem um tipo de reação. Estou mais tranquilo porque eu estou dopado”, disse.

A Chapecoense armou uma força-tarefa para prestar a melhor assistência possível aos familiares. O clube reuniu voluntários de diversas áreas para fazerem o acompanhamento. São psiquiatras, psicólogos, enfermeiros e médicos se revezando todo o tempo. O ambulatório também é todo equipado. Osmar, por exemplo, conseguiu fazer um exame eletrocardiograma em poucos minutos.

Uma equipe da prefeitura de Santa Maria (RS) veio a Chapecó para prestar auxílio. São cinco profissionais da área de saúde e psicologia que trabalharam no atendimento às vítimas da boate Kiss. Os casos são semelhantes na visão deles pelo perfil das vítimas e pelo trauma causado.

Uma das pessoas mais abaladas e que inspiram mais cuidados é Letícia, esposa do goleiro Danilo. Muito abalada emocionalmente, ela vem sendo assistida 24 h por uma psicóloga e acompanhada por médicos. Letícia foi medicada com sedativos para suportar o momento difícil.

Quem também vem acompanhando os parentes é Sandra Assali, presidente da Associação Brasileira de Parentes e Amigos das Vítimas de Acidentes Aéreos (Abrapavaa). Ela, que perdeu o marido no acidente da TAM em 1996, se prontificou a vir até Chapecó para dar sua contribuição. Ela deu orientações sobre quais são as principais necessidades das famílias nesse momento inicial e conversou com alguns deles.

Para Sandra, um dos motivos de dor mais intensa é o fato de estarem distantes do local do acidente. “Eles falam muito: ‘Eu quero estar lá, eu estou longe’. Eles querem estar no mesmo ambiente, se sentirem próximos”, conta ela.

Se a perda de um parente traz uma dor imensurável, a demora pela chegada do corpo torna o processo ainda mais angustiante. Já são quatro dias de espera desde que o acidente aconteceu na madrugada de terça-feira e os corpos ainda não chegaram. O processo é demorado porque envolve muitos procedimentos desde o resgate até a liberação dos corpos. Os procedimentos demoraram cinco horas além do previsto, mas ainda aconteceu antes do prazo normal desse tipo de situação que poderia demorar até uma semana.

Os primeiros dias têm sido bem complicados. As famílias que estão hospedadas em Chapecó passam uma boa parte do tempo no clube porque podem buscar apoio e ficar unidas. Mas elas também precisam resolver questões burocráticas e têm um longo desgaste por isso.

A mãe do goleiro Danilo, Ilaídes Padilha, relata o quão duras são as horas de espera. “A noite não passa, o dia não passa. O cansaço bate, eu estou há quatro dias dando entrevista para rádio e TV do meu estado. Estão todos na porta da minha casa. É difícil, é cansativo. Você ouve todo tipo de pessoa falando, um fala uma coisa, outro fala outra coisa. Hoje já não ouço mais. É melhor dar um abraço que falar, só um abraço está sendo suficiente”, disse.

Osmar Machado tem a mesma opinião. “Isso que está arrebentando a gente no meio, essa demora. Só vou acreditar quando ele chegar. A pior dor é ter que esperar. A ficha só vai cair quando ele estiver aqui e a gente puder se despedir. Era para ter vindo já, era para ter chegado. Mas a gente tem que entender”.