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Explosivo, contra políticos e gestor do ano: o presidente que mudou a Chape

Sandro Pallaoro ergueu a Chapecoense no futebol brasileiro - Aguante Comunicação/Chapecoense
Sandro Pallaoro ergueu a Chapecoense no futebol brasileiro Imagem: Aguante Comunicação/Chapecoense

Danilo Lavieri e Luiza Oliveira

Do UOL, em Chapecó (SC)

05/12/2016 08h19

“Sonhe sem limites e acredite com todas as forças”. A frase estampada no cartaz que homenageava Sandro Pallaoro em seu velório resume bem o que ele pensava. O presidente da Chapecoense que morreu no trágico acidente de avião queria ser grande. Nunca se contentou em ser um time pequeno do interior de Santa Catarina. E foi assim que ergueu o clube usando o que tinha de melhor: o tino empresarial e o sangue quente italiano.

Sandro transformou a Chapecoense. O clube ‘patinho feio’ do estado, isolado da capital Florianópolis, quase fechou as portas porque não tinha candidatos à presidência. Mas foi subindo degrau por degrau e chegou lá. Desde que Sandro virou diretor de futebol, em 2009, e depois assumiu a presidência, 2011, a Chape deixou de ser um time ‘sem série’ para chegar à elite do futebol brasileiro, ainda com uma vaga final da Copa Sul-Americana.

“Ele tratava a Chape como grande. Mesmo sendo de uma cidade pequena, ele se portava sempre como um presidente de um clube grande. E essa maneira de conduzir fazia com que a Chapecoense fosse mais respeitada. Nas competições, ele dizia que poderíamos chegar lá em cima e não ficar embaixo brigando para permanecer na Série A. ‘Não vamos jogar para não cair. Temos que pensar mais alto, em uma Libertadores’. Essa forma de pensar fazia com que as pessoas acreditassem que era possível”, conta o amigo e ex-presidente do clube, Nei Maidana.

Sandro sempre comandou a Chape com pulso filme. Do tipo que defende o clube com unhas e dentes. Acompanhava de perto cada setor e já tinha deixado os negócios da família, uma distribuidora de frutas na cidade, mais nas mãos da esposa.

Sandro Pallaoro ergueu a Chapecoense no futebol brasileiro - Reprodução - Reprodução
Imagem: Reprodução

O grande mérito do presidente foi a reestruturação do clube. Administrou a Chape como uma empresa com uma política de austeridade. Só gastava o dinheiro que tinha em caixa. Estabeleceu um teto salarial R$ 100 mil por mês (com raras exceções como Cleber Santana) e fazia questão de pagar em dia a folha salarial de aproximadamente R$ 2,5 milhões.

Não à toa ganhou o prêmio de Empresário do Ano concedido em 2015 pela Acic (Associação Comercial e Industrial de Chapecó).

“Para nós ele representa a transparência. O Sandro não admitia de maneira nenhuma um desvio ético, ele mantinha a administração no sentido de exigir de todos transparência e uma administração inovadora. Chegaram a pagar o 14º salário aos jogadores no ano passado. Só pagava em dia, o que ele tratava ele cumpria”, conta o prefeito da cidade Luciano Buligon.

A dedicação intensa nos últimos até o afastou das peladas com os amigos para relembrar os tempos em que jogou futsal em sua terra natal, Pato Branco-PR. Os compromissos só não o afastaram da esposa Vanusa e dos filhos Dahyane e Matheus que ele sempre priorizou. Sandro também nunca abriu mão do churrasquinho e estava até com uns quilinhos a mais, o que era motivo de piada dos amigos.

Mas o jeito tranquilo dava lugar a uma personalidade explosiva quando se tratava dos interesses da Chapecoense. Sandro não levava desaforo para casa. Até colecionou algumas rusgas. Uma que se tornou pública foi com Argel Fucks, na época em que o técnico trabalhava no Figueirense. Depois de um confronto entre os dois, Palloro disse que Argel deveria ter um apito para apitar as partidas de tanto que interferia no trabalho do árbitro. O técnico não deixou barato. “Deveria trabalhar mais e falar menos”. Depois de mais algumas provocações, os dois conversaram e deixaram as desavenças de lado.

“Às vezes tu explode, é natural, ele era muito firme. Era típico nosso aqui, sangue quente, quem nunca passou dos limites? Uma pessoa muito forte, tinha uma cobrança muito forte. Deus do céu... se imaginasse que alguém estava tirando proveito próprio da Chapecoense, isso deixava ele louco”, conta o prefeito.

Foi também com essa mesma personalidade forte que ele nunca permitiu que os políticos da região interferissem ou dessem muitos pitacos no clube. Sandro era avesso aos políticos. A missão não era tão fácil porque a relação entre clube e poder púbico sempre foi estreita. A Chapecoense é considerada o orgulho da cidade e manda seus jogos no estádio do município. Até antes de Pallaoro, eram os políticos da região que conseguiam contratos de patrocínio. Mas quando ele assumiu, fez questão de deixar cada um no seu lugar. Tanto que foi convidado para se candidatar a vice-prefeito e não aceitou.

Pallaoro mantinha certa distância dos políticos partidários, mas não da política. Cumpria muito bem esse papel, aliás. Ele se relacionava bem com todos os setores, desde os políticos locais aos patrocinadores e até a diretoria da CBF.

Era ainda muito querido pela torcida a quem atendia pacientemente. Para os fãs, o mandatário morreu na tragédia do voo da Chapecoense como um herói. Em seu enterro, um grupo chegou a cantar uma música feita especialmente para o presidente. O torcedor Marcelo Weber resume a opinião sobre Sandro. “É o maior presidente da história do clube”.