Boliviana refugiada diz: 'me ordenaram alterar informe do plano de voo'
A boliviana Celia Castedo Monatserio, que está refugiada no Brasil desde a noite de segunda-feira, fez uma carta para explicar a sua fuga para o país. Ela alegou ter sofrido pressão de seus superiores na AASANA (Administração de Aeroportos e Serviços Auxiliares à Navegação Aérea) para alterar o informe que fez alertando sobre cinco irregularidades no plano de voo, apresentado pela Lamia para a realização do voo 2933 que acabou vitimando 71 pessoas entre membros da equipe da Chapecoense, tripulação e jornalistas.
Por causa desta e outras pressões e ameaças que vinha sofrendo, ela optou por deixar o seu país natal e esteve em Corumbá (MS), solicitando refúgio ao Brasil. O jornal boliviano El Deber publicou o documento com o desabafo da técnica aeronáutica.
"Devo denunciar publicamente que imediatamente após o conhecido acidente sofrido pela aeronave CP-2933 da linha aérea Lamia, ocorrido nas proximidades do aeroporto de Río Negro (Medellín-Colômbia) e datado de 28/11/2016, fui submetida à perseguição e pressões por parte de meus superiores, ordenando que modificasse o conteúdo do informe que horas antes minha pessoa havia apresentado por via interna, no qual se detalhava as cinco observações que realizei sobre o plano de voo da linha Lamia (LMI2933) do dia 28/11/2016", escreveu a técnica aeronáutica da AASANA, que foi suspensa do trabalho em 30 de novembro.
Celia também reconhece que pertence a ela a assinatura contida no plano de voo, mas que isso não significava uma autorização, uma vez que não tinha autoridade para tanto. Tratava-se apenas de um protocolo formal de recepção do documento.
"Devo esclarecer também que o carimbo e a minha assinatura estampadas no citado plano de voo representam um protocolo de recepção do documento e por tanto, sob nenhuma circunstância significa aprovação ou autorização a uma aeronave para a realização de um voo. No âmbito legal, fica estabelecido ante a opinião pública que é a DGAC (Direção Geral da Aeronáutica Civil da Bolívia) a única instituição responsável por autorizar e permitir saídas de voos não regulares internacionais. Esta é a única instituição por lei que fiscaliza, autoriza e cria normas que regem a aviação em território boliviano", afirmou.
A boliviana também deu mais detalhes de todo o caso e reafirmou que o despachante Álex Qusipe, morto também na queda do avião, foi o responsável por manter as informações do plano de voo mesmo após serem apontadas diversas irregularidades.
"A decisão final de manter a informação no citado plano me foi comunicada pelo Sr. Quispe 20 minutos antes da partida da aeronave CP 2933 com destino a Río Negro, indicando que correspondia a uma decisão tomada tomada pelo capitão da aeronave (citação textual: "Diz meu capitão que é isso"), com o que ficou demonstrada a intransigência da linha aérea para atender as observações feitas pela minha pessoa", reafirmou.
Celia falou também sobre as pressões sofridas nos dias posteriores a sua suspensão de uma função que desempenhava há quase 30 anos.
"Devo informar a opinião pública nacional e internacional que a partir da minha suspensão da AASANA, datada de 30 de novembro de 2016, fui submetida a uma série de pressões e perseguição. Tanto assim que no dia 2 do presente ano, três dias depois do acidente, fui submetida a uma 'Audiência de Declaração Informativa dentro do Processo Administrativo No 03L/L6' sem a presença de um advogado que me assessorasse".
"Como se o descrito anteriormente fosse pouco, quatro horas depois, no mesmo 2 de dezembro de 2016, me foi comunicado que o Diretor Regional da AASANA Sr Rubén Marcelo Chávez Sierra, apresentou uma 'queixa-crime' contra a minha pessoa ante à Procuradoria do Distrito de Santa Cruz. Tudo isso em um só dia".
"A violação dos meus direitos constitucionais, a presunção de inocência e o direito ao devido processo, me foram cerceados e como mostra disso a clara violação ao que estabelece o Regulamento que normatiza os autuados relativos a 'Processos Administrativos Internos' que estabelece um prazo de dez dias para a apresentação de provas de desgravo, prazo este que me foi reduzido a horas".
A boliviana aponta estes fatos para justificar a sua saída imediata da Bolívia e o pedido de refúgio feito junto à Polícia Federal de Corumbá (MS).
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