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Arrogância e bagunça: Guardiola patina no City e críticos não perdoam

Darren Staples / Reuters
Imagem: Darren Staples / Reuters

Do UOL, em São Paulo

13/12/2016 06h00

“O que Guardiola queria? Que o Leicester ficasse tão intimidado com a reputação ofensiva do City que ficasse atrás, com medo do gol? Bom, todos viram o que Vardy e seus companheiros acharam de tudo isso, certo? Eles destruíram o Manchester City em 30 minutos, o que foi exatamente o que os visitantes mereceram por entrar em campo com tanta arrogância”.

O primeiro parágrafo foi escrito por Garth Crooks, ex-jogador de Tottenham e Manchester United, hoje comentarista da BBC, e é um exemplo fechado de como Pep Guardiola está sendo recebido na Inglaterra. Desde que assumiu o Manchester City, especialistas britânicos previam problemas para o técnico quase perfeito e imune a críticas que revolucionou o futebol no comando de Barcelona e Bayern de Munique. Não demorou muito para acontecer.

City em má fase: 15 jogos, 4 vitórias

Depois de um início avassalador, com dez vitórias nos primeiros dez jogos da temporada, as coisas desmoronaram para Guardiola. Nos 15 jogos que seguiram à sequência, apenas quatro triunfos, incluindo derrotas dolorosas, como os 4 a 0 para o Barcelona na Liga dos Campeões, os 2 a 0 para o Tottenham, o 1 a 0 para o Manchester United, os 3 a 1 para o Chelsea...

O texto de Crooks foi escrito após a última rodada do Campeonato Inglês. A derrota por 4 a 2 para o Leicester foi desastrosa. Um dos destaques do título inglês da última temporada, Vardy não balançava as redes há 12 jogos. Marcou três vezes contra o City. O Leicester abriu 4 a 0 e só levou dois no fim do jogo, quando a goleada já estava definida.

Quando a partida terminou, Guardiola foi bombardeado. Principalmente pelos problemas defensivos. Nesse período de 15 jogos, por exemplo, o time levou 25 gols. Em toda a temporada, foram apenas dois jogos em que a equipe saiu sem levar gols. Quem anda sofrendo em campo é o goleiro Claudio Bravo. Um dos melhores do mundo no Barcelona, em Manchester ele é um dos piores do Campeonato Inglês: segundo estatísticas da Fox Sports, sua porcentagem de defesas é de 64,3%, a quinta pior da competição. Isso significa que de cada três bolas chutadas no gol do time de Guardiola, uma delas entra.

Hargreaves: "A defesa é uma bagunça"

Essa instabilidade reflete no grande número de escalações da linha de defesa do City na temporada. Guardiola já usou dois ou três zagueiros e rodou o inglês Stones, o argentino Otamendi e o belga Kompany, além de improvisar os laterais Kolarov, Clichy e Sagna e os volantes Fernandinho e Fernando, no miolo de zaga ou nas laterais.

Segundo os críticos, a filosofia de Guardiola, de privilegiar o toque de bola e a visão de jogo ao poder de marcação em seus defensores é o problema. Owen Hargreaves, ex-Manchester United e comentarista da BT Sports, por exemplo, chamou a defesa do City de uma bagunça. “Eles precisam desesperadamente melhorar a defesa. O problema é continuar contratando zagueiros que seguem jogando mal. O número de erros que Otamendi e Stones vem cometendo é grande demais. Não entra na minha cabeça que isso é melhor do que usar garotos das categorias de base. Ofensivamente, podem ser os melhores da Premier League, mas, defensivamente, são uma bagunça”.

Shearer: "Nenhum jogador sabe o que está fazendo"

Já Alan Shearer, ex-atacante da seleção inglesa e comentarista do jornal The Sun e da ITV, disse que falta consistência ao treinador. “Guardiola provou que é um dos melhores técnicos do futebol atual. Então, quando ele fala em iniciar as jogadas pela defesa para criar mais chances de gol, você aceita a afirmação. O problema é que o Barça e o Bayern tinham defensores muito mais capazes do que os do City. E ele deve saber disso, já que usou 12 linhas de defesa diferentes nos últimos 15 jogos. Também não é nenhum espanto que nenhum desses jogadores saiba o que está fazendo”, escreveu o ex-atacante em sua coluna.

Outro problema, segundo o ex-Arsenal (e campeão mundial e europeu pela França) Thierry Henry, comentarista da Sky Sports, é a transição ataque-defesa. “As pessoas sempre associam Guardiola a posse de bola, pressão no campo do adversário. O que muitos esquecem é que os times dele não costumam levar muitos gols. E é justamente isso que está acontecendo com o City. Ele está buscando o melhor equilíbrio para o time e está testando a defesa com três ou dois homens. Só que o time continua muito exposto na transição. Você não pode perder a bola tantas vezes quanto ele perdeu contra o Chelsea, por exemplo. Agora, Guardiola exige uma intensidade muito alta de seus jogadores. E acho que ele preferia morrer a mudar seu estilo de jogo”.

Collymore: está sonhando se quer vencer sem defender

Stan Collymore, ex-Liverpool e colunista do Mirror, é ainda mais enfático. Após o jogo contra o Leicester, Guardiola disse que “não é um técnico fã de tackles (divididas de bola ou carrinhos, em tradução livre), então não treino isso”. Para ele, isso mostra como o espanhol está iludido em relação ao futebol inglês. “Se ele acha que os times ingleses vão se acovardar e permitir que o City de Guardiola vai ter 90% de posse de bola e todos permitirão que eles façam os passes que quiserem, ele está sonhando. Aliás, se ele acha que pode vir para a Premier League e não fazer seus jogadores treinarem ‘tackle’, ele está completamente enganado pode voltar para a Espanha com o rabo entre as pernas”.

Guardiola admite que está em processo de adaptação ao futebol inglês. Mas nega que vá mudar de estilo. “Eu tenho algumas coisas para melhorar, mas meu time sempre vai jogar o futebol que eu sinto. Eu não vou mudar por causa de derrotas”, disse o treinador do Mirror. “Claro que o Campeonato Inglês tem algumas peculiaridades, mas no final das contas, ainda é 11 contra 11 em um campo de futebol. Minha ideia de futebol segue igual".