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Problemas do Barcelona são bem maiores do que a má fase de Neymar

Bruno Doro

Do UOL, em São Paulo

18/01/2017 04h00

Olhar a tabela do Campeonato Espanhol e ver o Barcelona fora de um dos dois primeiros lugar não é comum – a última vez que o time não foi campeão ou vice na Espanha foi em 2008. Não que o terceiro lugar seja um desastre, mas é uma prova de que a temporada da equipe catalã é bem mais problemática do que você pode imaginar.

Na última rodada, o brasileiro Neymar foi o eleito para levar a culpa. Ele ficou no banco de reservas na vitória sobre o Las Palmas por 3 a 0. As dificuldades de Luís Enrique e sua equipe, porém, são bem maiores do que a fase instável de um de seus atacantes.

Dependência cada vez maior do trio MSN

Para começar, existe um problema conceitual. O Barcelona conta com, provavelmente, o melhor trio de ataque do planeta. A questão é que a cada ano, depende mais de Messi, Suárez e Neymar para vencer. Desde a chegada do uruguaio, em 2014, o número de gols de jogadores fora do trio MSN é cada vez menor. No Campeonato Espanhol, foram 29 em 2014/15, 22 em 2015/16 e, na temporada atual, são apenas 15. Vale ressaltar que o número da atual temporada ainda pode aumentar.

Com isso, sequências sem um deles (ou períodos de má fase) afetam muito o rendimento do time. Quando Messi não joga, por exemplo, o aproveitamento do time cai para 40% - nesta temporada, foram cinco jogos fora por lesão. Além disso, existe a fase de Neymar: sem pré-temporada (ganhou férias após disputar a Copa América e os Jogos Olímpicos pela seleção brasileira), ele sofreu para chegar ao nível físico dos companheiros e passou 11 jogos sem marcar – nesse período, o aproveitamento do time também caiu para 57%, contra 70% do total da temporada.

A temporada ruim de Busquets

Fora as três estrelas, outro jogador importante que tem sido muito questionado nesta temporada é Sergio Busquets. O volante é o ponto de apoio da equipe desde que se tornou titular. Seu dinamismo é o que permitia ao Barcelona marcar com eficiência no campo de ataque e manter a posse de bola mesmo quando pressionados por times rivais – torcedores e jornalistas não cansavam de elogiá-lo por abrir jogadas com um ou dois toques, mesmo muito marcado.

Nesta temporada, porém, ele está falhando muito mais do que o normal. Está cometendo erros na marcação, está menos preciso nos passes e pouco tem ajudado o time ofensivamente. Segundo o site de estatísticas WhoScored, na temporada passada ele tinha médias de 0,6 chutes a gol e 1,7 passes para finalização por jogo (considerando números da Liga dos Campeões). Nesta edição, ele zera nas duas categorias.

O time parece ter percebido isso: Busquets tem sido menos acionado. Em jogos da Champions, ele realiza dez passes a menos do que na temporada passada (seus números foram de 78,1 em 15/16 para 67,8 em 16/17). No Campeonato Espanhol, a diferença é menor, de 69,2 para 65,1, mas, ainda assim, são mais de quatro passes a menos a cada partida.

O peso da saída de Daniel Alves

O que levou a essa queda de rendimento de Busquets? Parte da explicação pode estar na lateral-direita do Barcelona. Tudo bem que Claudio Bravo trocou Barcelona por Manchester, mas a saída de Daniel Alves foi a verdadeira grande mudança da equipe para a temporada. E Luís Enrique vem tendo problemas para substituí-lo.

Prata da casa, o meio-campista Sergi Roberto foi o eleito para ocupar a posição. Até na seleção espanhola ele tem sido usado, mas está longe do sucesso do brasileiro. E isso ficou evidente em algumas das derrotas do time. A mais importante delas, os 3 a 1 do Manchester City na Inglaterra, ele errou duas vezes em saídas de bola, entregando gols para o rival. Fez o mesmo em outras partidas do Campeonato Espanhol.

Pensando em Busquets, sua média de tackles (divididas, em tradução livre) está em alta. Foi de 2,4 para 3,4 em jogos da Liga dos Campeões. Não é loucura imaginar que parte desse aumento das tarefas defensivas faz parte do esforço para cobrir um lado carente de sua defesa. E, usando a mesma lógica, o esforço extra pode custar ao volante força que poderia ser usada em ações ofensivas.

A polêmica Rakitic-Luís Enrique

Quem poderia ajudar Busquets tanto defensivamente, quanto ofensivamente é o croata Rakitic. O problema é que ele, também, não está jogando tão bem quanto há um ano. E a explicação para isso pode estar no banco de reservas. Segundo a imprensa espanhola, a relação do meio-campista com seu treinador não é das melhores.

Contra o Villarreal, no empate em 1 a 1, por exemplo, o jogador não foi nem mesmo relacionado – mesmo estando fisicamente apto. O jornal Mundo Deportivo, de Barcelona, já publicou que o croata não entende algumas decisões de Luis Enrique e começa a buscar alternativas. Nesse contexto, rumores envolvendo sua saída do time só aumentam. Um dos interessados seria o Manchester City de Pep Guardiola.

As contratações não funcionaram

Boa parte desses problemas poderia ser resolvida com novos jogadores. As contratações do Barça para essa temporada, porém, não deram certo. O grande exemplo é o atacante Alcacer. Antes astro do Valencia, ele chegou no meio do ano e só marcou uma vez. Se ele tivesse dado certo, poderia dar um respiro, por exemplo, para o trio MSN. Como isso não aconteceu, foram feitas algumas adaptações. O brasileiro Rafinha foi adiantado para o ataque e o turco Arda Turan foram mais usados. Ambos funcionaram, mas estavam improvisados.

No meio-campo, o mesmo aconteceu. O português André Gomes (Valencia) e o espanhol Denis Suárez (Villarreal) chegaram. Nenhum deles, porém, mostrou características para dar folga para Busquets, por exemplo. Gomes até conseguiu virar titular, mas no lugar de Rakitic – e, como o croata, não tem brilhado.

A soma de todos esses fatores é o rendimento apenas mediano na temporada. Com 38 pontos em 18 partidas, são apenas 70% de aproveitamento de pontos, o pior desde 2008 (58%), última temporada antes de Guardiola assumir a equipe.