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Ceni comenta primeiras dificuldades e diz: "Quero que me vejam como amigo"

Chris O"Meara/AP
Imagem: Chris O'Meara/AP

Estevan Ciccone

Especial para o UOL, da Flórida

21/01/2017 14h37

Rogério Ceni diz que não está preocupado com o rótulo que pode vir a ganhar como treinador. Se serão o “paizão”, o “boleiro”, pouco importa. Para o ex-goleiro, sua preocupação é deixar o time motivado.

Em seu primeiro mês como técnico do São Paulo, Ceni diz o que é mais complicado na nova função e deixa claro que quer ter prazer como treinador, mesmo trabalhando no clube onde é considerado por muitos como o maior ídolo. 
 
“Acho um risco válido. Eu adoro o São Paulo e trabalhar aqui. Estou me sentindo bem e quero que os atletas se sintam bem”, afirmou, deixando claro qual é a forma que quer que o elenco o veja: "Como um amigo, como um parceiro de trabalho e que me olhem sempre do mesmo nível que eles."
 
Confira a entrevista completa dada para a Rádio Bandeirantes:
 
Como foi a sensação após a estreia, primeiro jogo como técnico do São Paulo?
 
Rogério Ceni: Foi bacana, um resultado final que nos deu a chance de chegar à final da competição. Apesar de não ser um campeonato brasileiro, um paulista, mas é um início de trabalho e diferente. Ainda que para os pênaltis, você sente saudade da época que você tinha a possibilidade de defender e de bater o pênalti. Mas o Sidão fez muito bem esse papel e todos os outros jogadores. E mais que isso fiquei muito feliz com a capacidade que demonstramos de chegar ao gol adversário de um time importante e de camisa. É uma equipe extremamente talentosa, com jogadores diferentes. Eu fiquei muito orgulhoso com o desempenho dos jogadores. Em 15 seções de treinamentos você conseguir o time correr como correu e pressionar o adversário como pressionou é sempre gratificante para um treinador iniciante.
 
Se sentiu a vontade de calça social e camisa? Será o estilo adotado?
 
Não sei. Aqui é diferente, estamos fora do nosso país. Para mim, isso não faz diferença. O importante é o time dentro de campo e não o traje que eu use. Para mim e para o torcedor, que é mais importante.
 
No futebol existem vários rótulos. O técnico paizão, estudioso, o boleiro... Você já tem um estilo definido?
 
Meu jeito de ser e o que tento passar para eles é que eles me vejam sempre como um amigo, como um parceiro de trabalho e que me olhem sempre do mesmo nível que eles. Que eu dependo deles para execução do meu trabalho, que eles entendam o que eu passe, que me perguntem sempre que tiverem alguma duvida, que cada um possa ser um técnico dentro do campo, que eles possam tomar decisões dentro do campo, especialmente os mais experientes. Que eles possam corrigir algo que, nós, fora do campo, não consigamos gritar de fora do campo, por que muitas vezes eles não escutam. Que tenham a liberdade de expressão, tendo como base o que fizemos durante os treinos, temos um conceito, mas dentro do campo tudo é adaptável de acordo com o que o adversário faz. Eu prefiro jogadores inteligentes que tomem essas decisões e alguns são treinadores dentro do campo.
 
Em cima disso, para muitos você já era um treinador em campo. O Rodrigo Caio chegou a falar isso...
 
O goleiro tem que falar muito dentro do campo. O goleiro que fala bastante ajuda muito a zaga. E como eu jogava muito perto dele (Rodrigo Caio) ele acabava ouvindo bastante a minha voz. Mas eu organizava apenas um setor, um primeiro volante e os zagueiros, no máximo os laterais. Agora tenho que organizar o time todo. E ele é um dos jogadores que eu tenho, embora jovem, que decifra taticamente o jogo muito bem. E isso é muito importante, especialmente pela função que ele faz.
 
O que você achou que era fácil e não é tão simples e o que esperava ser complicado e está tirando de letra?
 
Desenvolver treinamentos que não sejam repetitivos, para fazer com que os jogadores tenham motivação e interesse em fazer os treinamentos. Essa é uma parte difícil. Durante toda a pré-temporada nós repetimos apenas um aquecimento. Desenvolver sistemas de jogo diferentes e isso o Michael (Bale) me ajuda bastante. E a parte mais tranquila é a parte motivacional. Que sempre foi natural e espontânea para mim.
 
O Zico disse que não gostaria de ser técnico do Brasil por que não gostaria de enfrentar o Flamengo e nem de ser vaiado pela torcida que tanto o venera. Chegou a passar isso pela sua cabeça?
 
É, sem enfrentar um time e nem trabalhar nele, aí não tem jeito. Agora, você pode optar por uma delas. A minha foi escolher a camisa que defendi por quase 26 anos e é uma aposta. Mas é compreensível quando você recusa isso e resolve deixar aquele rótulo que, no caso do Zico, foi fantástico pelo Flamengo. O meu também, mas eu gosto de desafios, de coisas diferentes, novas, é uma carreira nova a se trilhar. Espero aprender bastante e tentar ter sucesso nessa carreira. Se tiver fracasso, faz parte. O futebol como goleiro também ganhei muitas, perdi muitas. A vida é feita assim. A única certeza que eu tenho é que tive mais sucessos do que fracassos. Acho um risco válido. Eu adoro o São Paulo e trabalhar aqui. Estou me sentindo bem e quero que os atletas se sintam bem. Me lembro, como jogador, que quando você se sentia bem com um treinador era sempre mais prazeroso de trabalhar.
 
Pegar o Corinthians em sua primeira final como treinador, muda o peso dessa decisão?
 
Não muda por que é uma pré-temporada. Nós estamos ainda encaminhando esse time ainda e com algumas dúvidas em algumas posições e tentando colocar todo mundo pra jogar. Contra om River foi uma alegria ver os meninos decidindo jogo pra gente cobrando pênaltis. Agora terão outra responsabilidade em um clássico. É sempre um sabor especial por ser um clássico, mas é um início de temporada, não vai mudar a vida de ninguém. Não vai sustentar um trabalho e nem vai dizer que é o fim do mundo uma derrota ou uma vitória. Mas é claro que lá do outro lado eles querem vencer e nós aqui também.