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Candidato no SP, Pimenta critica compra de Pratto e quer ajuda de Abilio

José Eduardo Martins e Pedro Lopes

Do UOL, em São Paulo

24/02/2017 04h00

Esta quarta-feira marcou o começo oficial da corrida presidêncial no São Paulo, com o lançamento das duas campanhas para as eleições, que acontecem em abril, ainda sem data definida. De um lado o atual presidente Carlos Augusto de Barros e Silva; do outro, José Eduardo Mesquita Pimenta, nome escolhido pela oposição.

Presidente do clube entre 90 e 94, Pimenta acumula títulos e um episódio polêmico; foi na sua gestão que a lendária equipe comandada por Telê Santana conquistou o bicampeonato da Libertadores e do Mundial. Por outro lado, o ex-presidente foi acusado em 94 de negociar comissão na venda de Mario Tilico para o Logroñes (a operação não se concretizou), e acabou expulso do conselho do clube – foi readmitido quando um laudo da Unicamp afirmou que as gravações que serviam de base para as acusações tinham sido adulteradas.

Em entrevista e ao UOL Esporte, Pimenta explica o episódio e detalha suas ideias para o São Paulo, admitindo contar com o apoio de Abilio Diniz, principalmente para sanar a parte financeira da instituição. O candidato também faz críticas à contratação de Lucas Pratto, considerada “eleitoreira”, e promete “colocar a casa em ordem”.

UOL Esporte: Por que decidiu voltar à política e ser candidato à presidência do São Paulo?

Pimenta: Na verdade foi pelo amor ao São Paulo. Há alguns anos estamos assistindo à má gestão do futebol, do clube, que entrou em decadência, com dívidas financeiras enormes. Então, eu achei que podia dar a minha contribuição novamente. Não com o currículo de vitórias, porque essas eu conquistei todas, mas, sim, no sentido de recuperação do São Paulo.

UOL Esporte: Dificuldade financeira é algo que tem atingido muito os clubes no Brasil. O São Paulo que sempre foi um exemplo de estabilidade de gestão. A que você atribui os problemas financeiros do São Paulo?

Pimenta: É o mesmo grupo que está administrando o São Paulo. A partir de 2008, sobretudo, que isso se tornou mais visível. Essa dívida foi gerada e foi se ampliando. A partir de 2008 houve esse endividamento extraordinário e não tem como resgatar isso, a não ser com despesas extraordinárias, com ingressos extraordinários, uma receita extraordinária.

Existe a possibilidade de o Abilio Diniz ser um apoiador financeiro na sua gestão?

Eu acho que sim. Evidentemente, ele tem um crédito junto aos bancos e acho que a presença e a influência dele poderá nos ajudar nessas contratações necessárias que o São Paulo precisa.

Seria possível imaginar ele como uma espécie de Crefisa (patrocinador que investe grandes quantias no Palmeiras) do São Paulo?

Não. Ele não é patrocinador e não quer ser. Então, ele poderá ser um apoiador neste sentido de nos dar respaldo para negociações de melhores resultados, com juros mais baixos, com prazos mais longos, que permitam a gente amortizar essa dívida.

Como é a sua relação hoje com Abilio Diniz? Vocês nem sempre estiveram do mesmo lado (Em 2015, Pimenta vetou a participação de Abilio em uma reunião do conselho consultivo do clube sobre um plano de gestão elaborado pelo executivo Alexandre Bourgeois).

Ele é um grande torcedor do São Paulo e sócio do clube há mais de 18 anos. O que aconteceu no Conselho não tem nada de extraordinário. Eles eram membros consultores, porque o Conselho Consultivo, do qual eu sou presidente, ele é composto de membros natos, que são os ex-presidentes do clube. E depois, um anos atrás, resolve-se criar essa categoria de membros consultores, era são-paulinos de grande expressão que iriam integrar. Assim, ele participavam das reuniões, mas sem direito ao voto. Mas como o São Paulo estava vivendo uma fase muito conflituosa, internamente, o mandato desses membros consulturos extinguiu-se. Então, eu decidi que era melhor, naquela momento, eu não renovar o mandato dele

Abilio já esteve ao lado de Juvenal Juvêncio, mas parou de apoiá-lo. Esteve com Carlos Miguel Aidar e depois dos escandâlos defendeu a renúncia dele. Na sequência, apoiou a eleição de Leco, se tornando, na sequência, opositor. O senhor não teme que isso aconteça outra vez?

Não tenho o dom de adivinhar o futuro. Mas ele, como são-paulino, sempre gostou muito do clube. Então, é natural que um empresário do porte e da importância dele convivesse com os dirigentes do São Paulo. Eu me lembro perfeitamente de que era amigo pessoal do Marcelo Portugal Gouveia. Com o Juvenal, o Juvenal insistiu que ele (Abilio) participasse do clube, e assim foi. Ele é muito dedicado ao clube, ele foi com a ideia de ajudar e colaborar com tudo que fosse possível. Então, depois, ele enfrentou essas dificuldades que o São Paulo demonstrou. Ele certamente não é indiferente a tudo isso. Também se sensibilizou. Mas eu conheço o Abilio, é bom que vocês saibam. As nossas filhas foram colegas de turma. Ele trazia a filha dele aqui e eu levava a minha para a casa dele. Então, nós nos conhecemos há muitos anos.

Existe a possibilidade de ele interferir em sua gestão?

Acho que não. Acho que ele não tem nem tempo. Com os compromissos que tem, está fazendo um esforço tremendo na Europa, porque na França não é fácil e tem grandes negócios lá.

Alexandre Bourgeois (profissional indicado por Abilio, contratado e demitido na gestão de Aidar e depois recontratado e novamente demitido por Leco -  atualmente atua em favor da oposição) pode voltar ao São Paulo, como CEO ou em outro cargo?

Nunca conversei com ele sobre isso. E quando entrei na campanha, como candidato, ele já estava aqui. Ele é uma pessoa que conhece gestão de esportes, é um administrador muito bem conceituado. O diferencial são as informações que nós temos dos bancos em que ele participou. Então, ele é muito bem conceituado e tem uma bagagem de informações sobre a situação do São Paulo porque há dois anos e meio que ele se dedica exclusivamente a isso. Presta um grande serviço. Não tenho nenhum compromisso com ele, de que vai retornar ao São Paulo. Acho que, por agora, está realmente delimitado neste período de campanha, mas não tenho nenhum compromisso.

Sobre futebol: qual sua opinião sobre o time atual?

Nem gosto nem desgosto, está em transformação. Muito do que estamos vendo é o aproveitamento dos valores da base. Temos um estudo, financiado pelo Abilio Diniz, muito interessante. Admitem que, se bem administrada, Cotia renderia pelo menos 40 milhões de euros por ano. O elenco está em transformação, acho que Rogério consegue montar um time razoável, mas é uma incógnita.

O que acha da contratação de Lucas Pratto? Considera uma manobra eleitoral?

Lucas Pratto comemora gol do São Paulo contra o São Bento - Ronny Santos/Folhapress - Ronny Santos/Folhapress
Para Pimenta, contratação de Pratto foi manobra eleitoral do atual presidente Leco
Imagem: Ronny Santos/Folhapress

É eleitoreira, sim. Acho que foi, sobretudo, eleitoreira, embora precise de um centroavante e ele seja um jogadorinteressante. Agora, é enxugar gelo, você vende um jovem de 20 anos, e recebe esse dinheiro, e com ele compra um de 28 anos, 50% do passe, com obrigação de eventualmente comprar o resto do passe. Aos 28 anos, você não sabe se vai vender esse jogador pro mercado externo. Pode até ser, mas a China parece que já esfriou um pouco, já minguou um pouco aquela febre pelos brasileiros. Fechamos um orçamento pra esse ano com previsão de 60 milhões de vendas de jogadores, e 7 milhões de déficit. Nunca vi um orçamento que prevê déficit, precisa prever pelo menos o equilbrio. Talvez seja importante para eleição dele (Leco), o torcedor quer saber de vitórias.

Se eleito, conta com Rogério Ceni como treinador?

Ele começou comigo, temos amizade muito grande, e acho que ele é muito competente. Conhece meus filhos, netos, e merece sim a chance.

Em 94 o senhor chegou a ser expulso do conselho do São Paulo, depois de denúncias referentes à venda do Mario Tilico (Pimenta foi acusado de negociar comissão com base em uma gravação de suposta conversa com empresário, mas depois inocentado e retornou ao clube). Como é ver isso trazido de volta à tona? O que de fato aconteceu?

Esse assunto para mim está liquidado. Agora, eu não entendo. Um negócio de 1991, que diziam que ele seria contratado, eu nem me lembro qual era o clube. Uma gravação de 91 e ele foi vendido para Atlético de Madrid muito depois, se vocês quiserem podem ver o contrato, assinado pelo Fernando (Casal de Rey), que era o presidente e outros. Foi uma coisa aberta. Foi resolvido. Outra, uma gravação de 91 só veio para o conhecimento do público em 94. Um laudo da Unicamp mostra claramente que a fita foi adulterada, manipulada. Não faz sentido nenhum. Aquelas conversas foram todas editadas.

Em que situação assumiu o clube em 90, quando foi presidente?

O Juvenal (Juvêncio, que depois presiria o clube novamente entre 2006 e 2014) deixou terra arrasada. Não tinha dinheiro nem pro papel higienico do gabinete. Quando assumi fui ao banco pedir dinheiro emprestado, estavamos sem tesoureiro, tinha abandonado o clube há 90 dias. Recebemos cobranças, não tinhamos ideia dos saldos e do que tinhamos pra receber. Cheguei em casa e falei para a mulher e falei “se prepara”. Pedi que o Bradesco liberasse o Paulo Amaral, que depois foi presidente do clube,  ele trouxe 12 profissionais e colocaram a casa em ordem.

Qual é a receita para colocar a casa em ordem? A atual gestão tem procurado alongar e reduzir a dívida, e conseguiu novos patrocínios…

(Interrompendo) Foi o Aidar que deixou patrocinador, deixou a Under Armour, a Copa Airlines. Essa administração tem menos patrocinio do que tinha o Aidar quando saiu. R$ 27,8 dos R$ 35 milhões previstos por essa gestão vêm do Aidar. Se for olhar, acham que até o fim do ano terão esse valor, mas não tem ainda, é uma previsão. A Joli paga valor pequeno, a gente tem que valorizar os patrocinadores.  Patrocinadores, fora alguns de camisa, vieram do Aidar, é fato. Com credibilidade, confiança, vamos ter patrocinios melhores, acho. Acho que o Abilio estar presente como apoiador pode trazer credibilidade, pode influenciarnos contatos, apresentação, acho que pode ajudar nisso.

(O São Paulo esclarece que que a conta dos R$ 35 milhões não inclui o contrato de fornecimento de material com a Under Armour. O valor refere-se exclusivamente a venda de espaços no uniforme, todas realizadas após a renúncia de Carlos Miguel Aidar - na gestão do ex-presidente, o clube não possuia nenhum patrocinio de camisa).

Recuperação da credibilidade não passa por investigação mais profunda de escandâlos recentes no clube, como o caso da Far East (empresa desconhecida que teria direito a uma comissão milionária na negociação com a Under Armour na gestão de Aidar – o contrato acabou rescindido), que acabou arquivado pela Comissão de Ética?

O caso da Far East não deu prejuízo, foi arquivado. Houve intenção, mas não tem como caracterizar sem dano. “Não há nulidade sem prejuízo”. O São Paulo saiu-se bem porque o homem (Aidar) renunciou. O Jack (Banafsheha, representante da empresa) existe né, apareceu, há quem conheça ele, foi identificado. Eu cheguei a achar também que se tratasse de criação. Inclusive essa rescisão que ocorreu ele assina e tem firma reconhecida. Não houve prejuízo, havia perspectiva de um dano, mas sem prejuízo é difícil punir. O Ópice Blum (presidente da Comissão de Ética e agora coordenador da campanha de pimenta) continua na presidência da comissão. Acho até que deveria renunciar, mas ele continua lá investigando.

O São Paulo passou no ano passado por uma reforma estatutária que prevê a formação de um Conselho de Administração e a contratação de profissionais. Como pretende trabalhar com o novo estatuto?

Pretendo implementar inteiramente. Eu tenho dúvida se a outra parte está com essa mesma intenção. Ele está nomeando e preenchendo cargos de acordo com o estatuto atual e para mim o estatuto novo já deveria estar implementado a partir de 1º de janeiro, em pleno vigor. Não sei se ele vai levar isso adiante, porque está nomeando diretores agora. Ele nomeou nesta semana um secretário geral, que é uma função extinta pelo novo estatuto. Eu vou implementar, vou procurar o que há de melhor no mercado, os mais competentes e capazes. E transparência. Acho que você tem de mostrar as coisas como são.

O senhor pretende se dedicar exclusivamente ao São Paulo, ser o próprio CEO do São Paulo, ou deixar isso a cargo de profissionais?

Não serei CEO, porque CEOs serão contratados. Teremos o presidente do Conselho e do clube, com aquelas atribuições exclusivas do presidente. Mas poderes serão mais mitigados, poderes que serão mais compartilhados.

O atual presidente rompeu com as torcidas organizadas após episódios de violência. Vai restaurar a relação?

É uma pergunta que não saberia responder. Tenho imagem do passado, o São Paulo ganhava bastante e nunca tive problema, era um convívio saudável. Acho que vamos manter uma boa relação, não vejo porque discriminar. Ingresso, essas coisas, não vou prometer. Não fiz no passado, não devo fazer no futuro. Eles também estão sempre no jogo, sempre tive relação muito amistosa, não saberia dizer como será.

Você deixou o clube por um período, e depois retornou provando sua inocência …

(Interrompe) Logo que a fita (com a suposta conversa sobre comissão) foi divulgada, tentei fazer a prova. Movia processo contra o empresario, ele colocou essas fitas, elas foram enviadas ao instituto de criminalistica, que disse que não tinha capacidade de fazer a análise. Tentei junto à Unicamp fazer um laudo, mas disseram que atendiam preferencialmente empresas e judiciário. Para a minha sorte, o juiz mandou periciar a fita e determinou a remessa, e aí surgiu oportunidade de mostrar que foi adulterada.

Recentemente duas figuras com história no clube acabaram expulsas – Carlos Miguel Aidar, por denúncias de corrupção que envolveram também uma gravação, e Ataíde Gil Guerreiro, que teria agredido Aidar. Acha que, no futuro, essa situação pode ser revista?

Não temos na nossa legislação pena perpétua. Quem sabe no futuro revisão, o Aidar sofreu bastante renunciando e com a eliminação do conselho. É também muito recente, não descartaria, mas acho que por enquanto está bem assim.