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Legado para Carille: 7 princípios de Tite ainda utilizados no Corinthians

Tite conversa com Carille: métodos que seguem mesmo sem o treinador da seleção - Daniel Augusto Jr./Ag. Corinthians
Tite conversa com Carille: métodos que seguem mesmo sem o treinador da seleção Imagem: Daniel Augusto Jr./Ag. Corinthians

Dassler Marques

Do UOL, em São Paulo

15/03/2017 04h00

A escolha do presidente Roberto de Andrade pelo treinador Fábio Carille, depois de falhar em algumas tentativas, teve um objetivo claro: dar sequência a uma fórmula de trabalho que, nos tempos de Tite, teve resultados marcantes para o Corinthians. Carille, ex-auxiliar técnico, não apenas bebeu desta fonte, como participou das conquistas anteriores. Também tem dado certo até aqui. 

Com 11 jogos disputados em 2017, o Corinthians recuperou a estabilidade defensiva, a mobilização interna e a regularidade nos resultados, ainda que em busca de um brilho ofensivo maior. Novato como treinador, Fábio Carille alcançou esse impacto inicial com a repetição de algumas fórmulas e procedimentos que passam de mão em mão no banco de reservas corintiano. Veja quais são os sete princípios:

Treinamento sem caneleiras

Ter um dos times mais disciplinados dos torneios em que atua é uma máxima de Tite para evitar suspensões e para culto ao jogo limpo. O baixo número de cartões e faltas era estimulado pelo treinador por meio das instruções aos atletas, pela organização da equipe para ter a defesa sempre bem protegida e pelo estímulo à lealdade no desarme.

Por conta desse último item, todos os treinamentos corintianos eram feitos sem caneleiras nos atletas, ainda que com nível elevado de intensidade da marcação. Fábio Carille ainda não conseguiu colocar o Corinthians entre os times mais disciplinados do Paulistão - a equipe fica em posição intermediária no ranking de faltas e de cartões -, mas mantém o hábito de uma defesa organizada e, principalmente, treinos sem caneleiras.

Rodízio de capitães

Expediente criado por Tite na segunda passagem pelo Corinthians, a mudança de capitães em cada partida é uma forma de dividir a responsabilidade da liderança entre todos e deixar o elenco satisfeito. O rodízio também foi colocado em prática pelo treinador na seleção brasileira e se mantém no dia a dia de trabalho corintiano de Carille.  

Até aqui nos jogos oficiais de 2017, o lateral Fagner foi quem mais vestiu a braçadeira: três vezes, sendo uma diante do Palmeiras. Cássio (duas), Rodriguinho (duas), Balbuena (duas), Jadson e Jô também foram capitães.  

Notícia ruim: olho no olho

Fábio Carille convocou reunião com todos os jogadores que seriam excluídos da relação de 28 inscritos do Campeonato Paulista e explicou a razão a todos os atletas. No grupo, experientes como Cristian, Bruno Paulo e Mendoza e jovens como Mantuan e Rodrigo Figueiredo, entre outros.

A clareza nesse tipo de situação sempre foi um procedimento adotado como padrão por Tite, que eventualmente tinha até reuniões particulares quando trocava um jogador por outro na equipe titular.  

Véspera de jogo é 'fantasma'

11 titulares sozinhos com o treinador no gramado. Comum nos tempos de Tite, esse tipo de treinamento que se popularizou no clube como 'fantasma', em função da ausência de adversários, é prática repetida por Carille. Só não ocorre quando, por calendário apertado ou alguma questão física, os jogadores são preservados. 

Nesse treinamento, Carille faz os ajustes da parte tática, treina movimentações como a saída de bola ou a marcação à saída do adversário, o posicionamento da equipe nas bolas paradas ofensivas e defensivas, entre outros. 

Vídeo antes e depois de cada partida

Na véspera de todos os jogos, Fábio Carille reúne os atletas para uma palestra com base nos vídeos dos adversários e do próprio Corinthians. No dia seguinte à cada encontro, a comissão técnica escolhe alguns atletas para conversas privadas com correções, elogios e ponderações focadas no desempenho individual.

O estímulo a esses procedimentos cresceu dentro do Corinthians em 2015, depois que Tite conheceu de perto como funcionava departamento equivalente do Arsenal. Fernando Lázaro, que chefiava o departamento responsável pelos vídeos (Centro de Inteligência em Futebol), foi recentemente levado pelo treinador para a CBF. Outros profissionais do CIFUT deixaram o clube para trabalhar no São Paulo, na Major League Soccer e na Espn Brasil, mas os procedimentos se mantêm.

Reservas têm a mesma atenção

A atual comissão técnica repete o que já se fazia nos tempos em que Fábio Carille era o auxiliar de Tite. Exceto a atividade de véspera descrita acima, os treinamentos dedicam atenção similar a titulares e também reservas. Eventualmente, os jogadores são misturados para que cada um assimile cada função na equipe de cima e se prepare para o momento de jogar. 

Além da preparação individual de cada atleta, esse comportamento ajuda na gestão de grupo para ter o máximo possível do elenco motivado. "Ele (Carille) já conversou comigo diversas vezes e sempre me procura lembrar do que eu posso fazer. É muito bacana, ele procura sempre estar conversando comigo e com quem está fora. Esse é um dos motivos para quem entra fazer bons jogos", definiu o volante Paulo Roberto. 

O foco está no campo

Tite jamais se envolveu em questões políticas do Corinthians e tinha (ou ainda tem) o hábito de deixar os temas referentes à direção do clube longe da comissão técnica. Isso persiste com Fábio Carille, que até mesmo nas contratações repete os procedimentos do antecessor. Participa da escolha dos nomes, mas acompanha à distância. 

A melhor demonstração sobre isso foi dada recentemente durante o processo para votação do impeachment do presidente Roberto de Andrade, o que, dentro do possível, se manteve distante do dia a dia de jogadores e comissão no CT Joaquim Grava.