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Após estudo nos EUA, preparador físico diz como reduzir lesões no Brasil

Juvenilson de Souza foi aos Estados Unidos para acompanhar preparador físico norte-americano - Arquivo Pessoal
Juvenilson de Souza foi aos Estados Unidos para acompanhar preparador físico norte-americano Imagem: Arquivo Pessoal

Thiago Fernandes

Do UOL, em Belo Horizonte

25/03/2017 04h00

Juvenilson de Souza foi bicampeão brasileiro pelo Cruzeiro e vencedor da Copa do Brasil com o Palmeiras ao lado de Marcelo Oliveira. Ele ainda trabalhou com o técnico em Coritiba e Atlético-MG. Agora, busca uma nova oportunidade para se inserir no mercado do futebol nacional. Pensando nisso, foi ao centro de treinamentos de Michael Boyle, nos Estados Unidos, com o intuito de aprimorar o seu trabalho.

“Eu tive a felicidade de conhecer o professor Michael Boyle. É um especialista no treinamento de força e prevenção de lesão. Tem um grande centro de treinamentos nos Estados Unidos. Tem experiência em vários esportes, futebol americano, beisebol, rúgbi e futebol. Ele tem dado palestras e assessoria a vários clubes europeus. Ele ministra treinamentos a alguns atletas. O que a gente pode fazer é trazer essa metodologia. A gente pode buscar um treino de força com a intenção de reduzir lesão, que é o termo que ele usa em vez de prevenção, porque lesão faz parte do esporte”, disse à reportagem.

Em conversa exclusiva com o UOL Esporte, o preparador físico revelou os seus planos de ir à Inglaterra, falou sobre o desejo de implantar os conhecimentos aprendidos na Terra do Tio Sam em um clube do Brasil e mandou um recado para o amigo Marcelo Oliveira, com quem deixou de trabalhar no fim de 2016. Confira, abaixo, o bate-papo:

Como reduzir o índice de lesões?
Todo fisiologista busca reduzir esse número de lesões para que esse atleta possa estar à disposição e atue o maior número de partidas possível dentro deste treinamento. Discutimos anatomia funcional, treinamento de força unilateral, que foi algo bastante proveitoso para mim, com o enfoque de você melhorar a potência do atleta para minimizar os riscos de lesão e como a gente pode colocar isso dentro de um programa de treinamento no futebol brasileiro.

Algum clube do Brasil já faz isso?
Já vi. Estive recentemente no Atlético-PR e eles utilizam uma metodologia similar a essa. Eles ainda estão em evolução. Tenho conversado com colegas de outros clubes e eles têm iniciado o trabalho. Esse período que passei lá foi muito benéfico para mim. Acabei adquirindo um dos livros dele. Ele tem quatro livros publicados na área falando desse assunto. Estou buscando compreender ao máximo essa metodologia. Poderei colocar em prática em breve e, com certeza, nos dará um resultado muito satisfatório.

Quais são as atividades para alcançar esta redução?
O primeiro ponto é uma coisa que está bastante evoluída no Brasil que é o trabalho integrado. Ao longo da temporada competitiva, quando se divide a temporada em treino e jogos, dificilmente, você tem poucos treinos físicos no campo. Esse trabalho integrado de ter a preparação física junto com a preparação técnica. O segundo ponto é enfatizar exercícios que você trabalhe uma perna de cada vez e não as duas de uma vez. Isso melhora a coordenação para correr e diminui os riscos de lesão, seja ela muscular ou articular. Muitos são exercícios feitos na sala de musculação, mas alguns são feitos no campo, tais como exercícios coordenativos e de aceleração

O que faz com que coxa e joelho sejam as partes do corpo mais afetadas em lesões?
Primeiro, o movimento de andar ou correr para frente exige da musculatura da coxa, seja para correr, para saltar ou para chutar. Quanto mais você usa, mais risco você tem. Essas lesões acontecem e é mais difícil prever. Tem posição que anatomia não favorece. O que nos preocupa são as lesões ligamentares sem contato físico, que podem ocorrer por fraqueza ou desequilíbrio muscular. O que esse professor tem desenvolvido é trabalhar com os músculos estabilizadores e antagonistas. Quando você faz uma comparação dos exercícios bilaterais, feitos com as duas pernas, e unilaterais, com uma perna só, você vê que os exercícios unilaterais são muito mais eficientes. Paralelamente a isso, a gente sabe que hoje também para diminuir a incidência de lesão, o atleta precisa estar equilibrado. Os movimentos saem do centro de corpo para as extremidades. O seu tronco estando estável, você fica melhor.

Você crê que as pessoas responsabilizam os preparadores por lesões de forma equivocada no Brasil?
O mérito não pode ser só de uma pessoa. Quando não se tem resultados satisfatórios, as críticas não podem ser só em cima de uma pessoa, só do treinador, dos atletas ou de uma pessoa da comissão técnica. Nós sabemos do calendário do futebol brasileiro e a gente bate nesse ponto para que a imprensa e os torcedores saibam disso também. O que a gente quer, na realidade, é que o torcedor e a imprensa entendam que a lesão faz parte do esporte. Mas o que nós queremos é entender o motivo da contusão. Eu acredito que isso tem que ser distribuído. O preparador físico tem que buscar as explicações, as justificativas, entender as causas e as soluções para os problemas.

Sente-se mais preparado após a visita ao centro de treinamentos do Michael Boyle?
Graças a Deus, os últimos sete anos nos agraciaram com seis títulos. É uma carreira vitoriosa e louvo a Deus por tudo que Ele permitiu acontecer em minha vida. Você não pode ficar parado. Normalmente, no período em que ficamos em recesso, fora da atividade, a gente busca se atualizar o máximo possível. Buscamos cursos, ler livros, artigos e ver o que a ciência tem trazido e descoberto de mais relevante. Eu me sinto mais preparado e motivado e com o desafio ainda maior para colocar tudo isso em prática para ver o resultado disso que, certamente, será satisfatório.

O que pretende fazer enquanto estiver sem trabalho?
Enquanto estiver sem trabalho, tenho programado para fazer um curso da CBF. A CBF tem uma programação de cursos e estou me programando para fazer o próximo curso da CBF. Também quero fazer um estágio na pré-temporada do futebol inglês. Os ingleses têm produzido algumas informações importantes. É uma liga forte, com grandes atletas. Gostaria de ter algumas experiências com treinadores e preparadores físicos. Conheço atletas que jogam lá e seria uma porta para ter mais informações, me atualizar. Quero ver como os preparadores trabalham e trazer para a nossa realidade.

A preparação física inglesa é a melhor do mundo?
Não acredito que seja a melhor do mundo a preparação física inglesa. Não é só a preparação física que define a situação do atleta, mas, sim, o treino integrado. O futebol inglês, os números mostram que é o mais intenso. Um jogo, normalmente, o atleta faz 60 sprints de alta velocidade. Em um jogo da Inglaterra, ele faz mais que isso no mesmo tempo. Por isso, os atletas aumentam o risco de lesão. A corrida de baixa intensidade dá uma incidência muito pequena para lesão do músculo. Os arranques acabam dando sobrecarga na musculatura. Isso acarreta na lesão. O futebol inglês, neste sentido, é muito intenso. Tudo isso somado à preparação permite que eles estejam em atividade por mais tempo. Não sei se o número de lesões deles é alto, porque eles têm um calendário bastante intenso. A cultura europeia favorece em relação à nossa a questão de troca de jogadores. Aqui, no Brasil, as pessoas não entendem e pendem a definição de um time titular. É normal rodar as escalações para que a saúde desses atletas seja protegida e eles estejam em campo nos jogos mais decisivos. É isso que os preparadores e fisiologistas trabalham para definir o espetáculo.

Como foi trabalhar ao lado de Marcelo Oliveira por sete anos?
O Marcelo Oliveira é um amigo que fiz no futebol. Sou muito grato por esses sete anos que estivemos juntos, seis títulos conquistados. Ele vai seguir o caminho dele, eu o meu. Ele tem os desafios dele e eu tenho os meus. Tivemos uma parceria vitoriosa e, agora, vamos buscar novos desafios.