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São Paulo chega à eleição após campanha com muita acusação e pouca proposta

Pimenta e Abilio Diniz no lançamento da candidatura do primeiro à presidência do SP - José Eduardo Martins / UOL
Pimenta e Abilio Diniz no lançamento da candidatura do primeiro à presidência do SP Imagem: José Eduardo Martins / UOL

José Eduardo Martins e Pedro Lopes

Do UOL, em São Paulo

18/04/2017 04h00

A campanha para as eleições presidenciais do São Paulo começou no dia 22 de fevereiro, com ambos os candidatos pregando respeito mútuo e uma disputa saudável. Nesta terça, o clube elege seu comandante para os próximos três anos e sete meses, o pleito chega ao fim, e não foi nada disso o que aconteceu: os quase dois meses de corrida foram marcados por movimentações de bastidores e ataques de parte a parte entre a situação, com Carlos Augusto de Barros e Silva, e a oposição, com José Eduardo Mesquita Pimenta. As propostas, em tese prioridade, ficaram em segundo plano.

Acusações de compra de votos, associação a escândalos de corrupção e até comparações com o líder nazista Adolph Hitler apareceram. A presença de diretores envolvidos em polêmicas recentes no clube virou uma “batata quente”, e as propostas, de ambos os lados, foram expostas de forma superficial e pouquíssimo debatidas. Algumas denúncias apresentadas mostraram fundamento e foram publicadas, inclusive, pelo UOL Esporte. Outras sem a mesma relevância, só alimentaram o fogo cruzado que marcou a eleição.

Acusações: compra de votos x recebimento de recursos

Diversos conselheiros da base de apoio de Leco, atual presidente, acusaram aliados de Pimenta de compra de votos. As especulações falavam até em oferta de cargos públicos em troca de votos – a reportagem recebeu uma conversa de Whatsapp na qual um conselheiro da oposição oferecia a uma aliada de Leco um “pacote de bondades”. Na hora de corroborar as acusações, a própria receptora da proposta disse tratar-se de uma brincadeira. Nenhum dos acusadores aceitou falar abertamente sobre as supostas tentativas de compra de votos.

Contra Leco, conselheiros oposicionistas lançaram mão de dois cheques nominais e uma transferência bancária TED, que chegam a R$ 180 mil, doados ao cartola pelo empresário Abilio Diniz em 2015. Em e-mail enviado a conselheiros na última segunda, Abilio se referiu ao episódio como um pedido do presidente, e falou em “ajudá-lo a evitar tentações”. Leco afirma que não existe absolutamente nenhuma ilegalidade no episódio, nem da parte dele nem da de Abilio, e que os valores foram doações à campanha presidencial do clube naquele ano (veja comunicado do mandatário são-paulino no fim da matéria).

Aidar virou “batata quente” e assunto constante nas eleições

Carlos Miguel Aidar - Karime Xavier / Folhapress - Karime Xavier / Folhapress
Imagem: Karime Xavier / Folhapress

Expulso do Conselho Deliberativo do São Paulo depois de renunciar à presidência por denúncias de corrupção em 2015, Carlos Miguel Aidar teve seu nome tão citado quanto o dos dois candidatos. Aliados de Pimenta lembravam que Aidar e Leco sempre pertenceram ao mesmo lado político no clube, ao lado de Juvenal Juvêncio, e que a gestão de Leco tem nomes que participaram da gestão de Aidar.

Aliados do atual presidente rebateram, apontando as inúmeras aparições de Douglas Schwartzmann, ex-vice de Aidar, na campanha de Pimenta. Uma frase do candidato da oposição no primeiro dia de campanha, dizendo que Aidar não merecia uma punição perpétua e poderia, eventualmente, ter sua situação reavaliada, também foi usada como munição para especular uma possível volta do ex-presidente, algo negado com veemência por Pimenta em várias ocasiões.

A preferência de Aidar nas eleições só viria a ser revelada oficialmente nesta segunda-feira: nas redes sociais, o ex-dirigente desejou parabéns a um amigo conselheiro e deixou transparecer o apoio à oposição ao usar a frase “Pimenta na cabeça”.

Passado e gestões foram discutidas. As propostas, apresentadas de forma superficial

Foi passado um pente fino em questões do passado: o suposto pedido de comissão em negociação e os contratos firmados por Pimenta com a SP Sport foram trazidos aos holofotes. Os episódios causaram a expulsão do ex-dirigente do Conselho Deliberativo do clube, mas ele foi absolvido e readmitido em 1997 depois de apresentar laudos periciais que desqualificavam as provas contra ele.

A principal arma da oposição contra Leco foi o "caso Prazan". Uma comissão de R$ 732 mil, acertada com uma empresa na contratação do lateral esquerdo Jorginho Paulista em 2002 e autorizada por Leco, gerou uma ação de cobrança contra o São Paulo. O caso foi parar na Comissão de Ética do clube, presidida por José Roberto Ópice Blum, apresentado em fevereiro como um dos coordenadores de campanha de Pimenta. Leco também teve seus números de patrocínio e receitas contestados e foi acusado de inflar os valores.

Enquanto isso, as propostas para o futuro do clube foram apresentadas de forma superficial e pouco debatidas. Leco lançou um site e apresenta dez propostas principais. Cada uma delas recebe um pequeno texto, com poucas linhas, sem aprofundamento. Um exemplo: “entregar em 2020 um São Paulo tão forte no futebol quanto nas finanças”.

As propostas de Pimenta são mais detalhadas em um documento chamado “10 pilares da reconstrução do São Paulo”. Cerca de três parágrafos de texto explicam cada uma de suas dez principais plataformas, que incluem a criação de um fundo de investimentos de R$ 150 milhões. Os dois candidatos não estiveram frente a frente para debater as propostas nenhuma vez durante a campanha.

Candidatos se blindaram na reta final. Leco evitou entrevista

Pimenta recebeu a reportagem do UOL Esporte em sua casa no começo da campanha. Na última semana, o candidato atendeu à imprensa via e-mail para novas entrevistas. A entrevista solicitada à campanha de Leco desde antes do lançamento da campanha, ao contrário, não ocorreu: a campanha alegou falta de tempo, recusou vários pedidos e concedeu entrevista a apenas um veículo do Grupo Globo.

Na última quinta-feira, a reportagem observou membros da campanha de Leco orientando funcionários do São Paulo para que evitassem que o presidente fosse diretamente entrevistado por jornalistas. O mandatário caminhava pelo recém-inaugurado centro de imprensa do Morumbi, onde fez um pronunciamento, mas não atendeu os jornalistas.

Disputa contraria tradição política do São Paulo

Abílio Diniz, Muricy Ramalho e Juvenal Juvêncio nos vestiários do Morumbi - Dilvulgação/Site oficial do São Paulo - Dilvulgação/Site oficial do São Paulo
Abílio Diniz, Muricy Ramalho e Juvenal Juvêncio nos vestiários do Morumbi
Imagem: Dilvulgação/Site oficial do São Paulo


Tradicionalmente, o São Paulo raramente tem tamanho equilibrio e uma disputa tão acirrada nas eleições, principalmente nos últimos anos. Pimenta aparece como o primeiro candidato de renome e alguma chance de vencer pela oposição em mais de dez anos no clube.

A última eleição equilibrada foi a de Marcelo Portugal Gouveia, que derrotou Paulo Amaral em 2002 por dois votos de diferença. Depois de Marcelo, veio Juvenal Juvêncio, que obteve duas reeleições e indicou como sucessor Carlos Miguel Aidar, sagrado presidente em 2014 em eleição sem adversário. Depois da renúncia de Aidar, Leco teve a competição simbólica do conselheiro de oposição Newton Ferreira, o Newton do Chapéu, e foi eleito com 138 votos, contra 36 do aversário.

Candidatos comentam a campanha

Procurados pela reportagem, Leco e Pimenta comentaram a campanha que chega ao fim nesta terça-feira. “A oposição, desesperada, foi para uma guerra suja e baixa nesta reta final da eleição. Ofereceram 'pacotes de bondades', zombaram do Holocausto [um perfil anônimo contra Leco publicou um vídeo no qual comparava o dirigente a Hitler] e chegaram ao cúmulo de falsificar até uma matéria do Grupo Folha com o objetivo de sugerir alguma ilegalidade. [Sobre os cheques de Abílio] Só posso reiterar que nada foi feito fora da lei. Já falei e repito: perguntem ao Abílio, com quem não tenho contato. Apesar das discordâncias mútuas, ele sabe que nada de errado foi feito. Ele conhece as razões pelas quais rompemos relações. Está tudo documentado”.

Pimenta afirmou que não comentaria sobre os ataques sofridos na campanha. “Nossa campanha foi pautada pelo respeito e pela apresentação de propostas que irão revolucionar a gestão do São Paulo Futebol Clube. Quem acompanhou a campanha sabe que nosso principal objetivo foi trazer ideias e soluções para reconstruir o clube, que há anos perdeu seu protagonismo e importância no cenário futebolístico nacional e internacional”. Sobre supostos ataques praticados por seus aliados ou simpatizantes, ex-presidente ainda disse que “não houve orientação ou ordem do comando da campanha nesse sentido. Se houve foram iniciativas isoladas e que não contaram com seu apoio ou anuência. Muito pelo contrário”.