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"Mascarado" no Grêmio e ajudado por Felipão e Ceni: conheça Júnior Tavares

Júnior Tavares, no centro, de colete amarelo, durante treino do São Paulo - Érico Leonan/São Paulo
Júnior Tavares, no centro, de colete amarelo, durante treino do São Paulo Imagem: Érico Leonan/São Paulo

José Eduardo Martins

Do UOL, em São Paulo

08/05/2017 04h00

Júnior Tavares precisou de pouco tempo para virar titular do São Paulo. Promovido no início deste ano das categorias de base, o lateral esquerdo já era o dono da posição na estreia da equipe na Copa do Brasil, no dia 9 de fevereiro, contra o Moto Club. No total, passou a ser, ao lado de Thiago Mendes, o jogador que mais vezes defendeu o time do Morumbi nesta temporada, com 22 partidas.

Porém, nem todos conhecem a trajetória do ala até chegar ao Morumbi. Nascido em Porto Alegre, no dia 7 de agosto de 1996, o jogador, que já foi considerado "mascarado" no Grêmio, contou com o apoio de quatro pessoas para se tornar profissional.

"O Felipão, por ser o cara que me lançou, vai ser o sempre lembrado por mim. Também agradeço ao meu pai [Carlos Eugênio] e a minha mãe [Simone Tavares], por tudo que fizeram e estão fazendo por mim, e ao Rogério Ceni. Desde a primeira ligação dele até os conselhos que me deu hoje. Vai ficar marcado na minha vida o fato de ser treinado por Rogério Ceni em sua primeira experiência como técnico", disse o lateral em entrevista exclusiva ao UOL Esporte.

A relação com Luiz Felipe Scolari começou no Grêmio, onde o jogador estreou como profissional em 2015. "O Felipão é um cara que eu admiro bastante. Ele me acolheu e me chamava de filho. Eu falava que ele era meu pai, mas tudo dentro da brincadeira. Quando tinha de puxar a minha orelha e dar bronca, ele dava. Era tudo sadio, para o meu crescimento, agradeço a tudo", disse o jogador.

Em 2016, ele se transferiu para o São Paulo e passou a jogar nas categorias de base, sendo promovido pelo ex-goleiro ao time profissional. "O Rogério é magnífico. Entende muito de futebol, trabalhou bastante para estar na função que exerce hoje. É um vencedor dentro de campo, ganhou muito com a camisa do São Paulo, um ídolo. Como treinador, ele vem fazendo um grande trabalho e acredito que vai dar muitos frutos para nós e conquistar títulos", afirmou o lateral. 

Veja abaixo os principais trechos da conversa com Júnior Tavares:

Pai jogador

Meu pai é de Jaguarão, interior do Rio Grande do Sul e fronteira com o Uruguai. Ele defendia o Pelotas e jogou um amistoso contra o Grêmio e foi muito bem. O Grêmio o chamou e ele jogou nas categorias de base de lá. Meu pai era ponta direita e muito habilidoso.

Todo mundo fala que era para ser um dos grandes craques do futebol. Mas, infelizmente, acabou com a carreira dele. Preferiu ir para outros lados, conheceu a minha mãe. Eles viraram pais da minha irmã e de mim. Então, ele decidiu que tinha de cuidar dos filhos e abandonou a carreira muito cedo.

Virou segurança, era chefe de uma empresa em Porto Alegre dentro de um shopping. Mas ele saiu por falta de horário no trabalho, porque ia comigo para as peneiras e jogos. Minha mãe, que era vendedora, fazia a mesma coisa e também foi despedida. Mas Graças a Deus, deu tudo certo e pude recompensar tudo que eles fizeram por mim.

Internacional

Eu jogava no Esporte Sul, uma equipe pequena que forma jogadores para os grandes clubes. O Internacional acabou me olhando e fui para lá em 2009. Fiz uma temporada lá, só que era de família simples e o Inter não pagava jogadores na base naquele tempo. O Grêmio fez o convite e eles me ofereceram um dinheiro que iria ajudar não só a mim, mas a minha família também.

Dia a dia com Felipão

Ele é gente boa e brincalhão. Ficava com a gente e, se alguém errava alguma coisa, ele ficava zoando. Era o inverso do que todo mundo pensa. Ele tem a cara fechada, todo mundo acha que ele é marrento, fechadão e bravo, mas ele é tranquilo, sincero e brinca nas horas vagas. Quando tem ser duro e xingar, ele faz isso, mas normalmente é um cara tranquilo. Fantástico.

Paternidade aos 17 anos

Estava na transição no Grêmio, subiria para o profissional e soube que teria um filho [Caio, hoje de 3 anos]. Isso me fez amadurecer rápido, sabia o que queria para mim. Sabia que não tinha mais de correr por mim, pela minha mãe e pelo meu pai, mas pelo meu filho.

Foi quando falei que teria de fazer tudo certo, que não poderia mais ser criança, com 17 anos tive de ser homem. Amadureci muito rápido, meu filho é tudo para mim. Uma pessoa que me ajudou bastante foi minha mãe, que me abraçou da melhor forma, como toda a minha família. Hoje, meu filho é uma bênção, amo muito ele, sempre que tem folga aqui vou para Porto Alegre vê-lo. Ele mora com a mãe e me dou muito bem com ela.

Adeus de Felipão 

Quando ele saiu, até comentei com os jogadores que não queria que ele fosse embora. Alguns jogadores falaram a mesma coisa, mas é do futebol. É resultado. Se não vem, acaba caindo gente. Ele saiu de um jeito meio triste, porque nem ele esperava [a demissão]. Desejo tudo de bom para ele. 

Mascarado e saída do Grêmio 

Acho que foi pelo meu jeito, que é o mesmo que tenho aqui. Sou um cara tranquilo, fico mais na minha e interpretaram de uma maneira errada. Acho que acabaram falando que eu era mascarado, não tinha convivência com o grupo. Mas isso foi passado, não tenho ressentimento do Grêmio, desejo sorte a eles. Vivo uma fase muito boa no São Paulo e sou grato por tudo que aconteceu comigo.

Nota da redação: Especulou-se no Rio Grande do Sul que Júnior Tavares saiu do Grêmio em 2016 por problemas de comportamento. 

Base do São Paulo 

Tinha vindo para ficar quatro meses na base com o André Jardine e o Diego Cabrera, que foram os caras que me trouxeram para cá - agradeço muito eles e troco mensagens até hoje com os dois. Subi para o profissional e fiquei por um mês com o Ricardo Gomes, acho que antes tinha jogado uns quatro ou cinco partidas pela base. Mas o profissional já tinha Mena, Carlinhos e Matheus Reis.

Então, eu conversei com a comissão. Achei que era melhor descer, porque o São Paulo tinha de comprar os meus direitos e os jogos da base eram televisionados. O Rogério estava indo para as partidas. Fiz grandes jogos e nas férias o Rogério me ligou e pediu a minha permanência no clube, disse que me daria oportunidades.

Rotina com Rogério

É um cara que gosta de vencer e cobra sempre. Até quando a gente vence, ele procura os erros para a gente não cometer na próxima partida. É muito sério no trabalho, mas fora, ele se diverte bastante e brinca, além de dar conselhos para a gente.

Conselhos da família

Todos os jogos meu pai vê, fala o que fiz de errado e certo. No jogo da Ponte Preta, que foi inesquecível para mim porque a torcida toda gritou o meu nome, ele me ligou na mesma hora para me dar uma dura. Falar que não era para [o sucesso] subir para a cabeça, que não tinha ganhado nada. Sei da sua qualidade, você tem muito a render, não foi o seu melhor jogo. Isso é só para o seu crescimento, precisa de mais atenção. Não pode relaxar. Minha mãe dá muitos conselhos também, veio para São Paulo para ver jogos. tenho conexão boa com os dois