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"Abalo psicológico" pós-queda explica por que Inter topa ceder Valdívia

Valdívia mostrou abalo psicológico desde que voltou de lesão no Internacional - Jefferson Bernardes/AFP
Valdívia mostrou abalo psicológico desde que voltou de lesão no Internacional Imagem: Jefferson Bernardes/AFP

Marinho Saldanha

Do UOL, em Porto Alegre

24/05/2017 04h00

Valdívia é um jogador promissor. Poderia ter disputado os Jogos Olímpicos com a seleção brasileira não fosse uma lesão. Tem 22 anos e contrato com Inter até 2020. Só que o clube está disposto a negociá-lo, ao contrário do que se poderia esperar, e as razões vão além dos aspectos técnico e financeiro. A questão psicológica entre o sofrimento com a queda para Série B e a pressão exercida pela torcida completam o quatro que leva o meia-atacante cabeludo para outro destino, ainda incerto. 

Alguns pontos marcantes na trajetória da derrocada vermelha tiveram em Valdívia o personagem. Lesionado até o meio do Brasileiro passado, ele voltou em julho, de forma apressada, e viveu maus momentos. Foi eleito 'salvador' de um time que mostrava-se fadado aos últimos lugares do campeonato e o desempenho ficou longe do ideal. Em 22 de agosto, quando completou dez jogos após a parada, o meia teve, em pênalti aos 45 minutos do segundo tempo diante do São Paulo, no Beira-Rio, a chance de voltar a brilhar. Chutou para fora. 

Depois do jogo, a torcida iniciou uma pressão que acompanha o jogador até este ano. Chamado de 'pipoqueiro', vaiado, xingado, com gritos de 'Valdívia, sai do Instagram', o Poko Pika (apelido do jovem jogador) deixou o posto de xodó dos aficionados. 

A pressão não ajudou em nada. Valdívia se sentiu responsável por mudar as coisas, sem jamais ter conseguido. O abalo psicológico era evidente, tanto que após marcar contra o Cruzeiro, já nas últimas rodadas do Brasileirão, ele caiu chorando no gramado do Beira-Rio. "Nunca vi isso acontecer. Meu time fez um gol e cinco jogadores começaram a chorar", disse Lisca, o então técnico do time. 

Foi exatamente o último treinador do rebaixamento vermelho que deixou claro que Valdívia havia sentido em demasia a situação. A fraqueza psicológica o fez perder lugar no time. Lisca escalaria apenas os mais aptos a aguentar a situação. Com isso, não começou diante do Cruzeiro, mas entrou no decorrer da partida. 

Recuperação com o tempo

Valdívia não procurou psicólogo para trabalhar melhor este lado em 2017. Queria mostrar em campo que ainda era útil e assim deixar a recuperação acontecer naturalmente. Por isso, passou a treinar além dos turnos estipulados com o restante do grupo. Com preparador físico particular, trabalhou também no período inverso aos demais jogadores. 

O técnico Antonio Carlos Zago declarou apoio e disse que tinha um plano para recuperar Valdívia. Tratou de dar oportunidades, tentou colocá-lo para jogar, mas não deu certo. Sem render o esperado, ele acabou sacado do time. 

E sempre que entrou, a pressão por voltar a jogar o mesmo de 2015 o acompanhou. Embora tenha o nome gritado eventualmente pelos torcedores, Valdívia convive com vaias a cada oportunidade que recebe, o que atrapalha sua reação. Após o gol contra o Cruzeiro-RS pelo Gauchão, ele, de novo, mostrou-se instável. Chorou e desabafou. "No momento ruim ninguém te abraça. A torcida não tem paciência, mas eles estão certos", disse entre as lágrimas. 

Ao perceber a instabilidade psicológica de Valdívia, combinada com a concorrência forte por vaga no time e as oportunidades de mercado que apareceram, o Inter decidiu, em conjunto ao jogador e seu estafe, que o melhor era buscar 'novos ares'. Longe da pressão da torcida, sem a 'marca do rebaixamento', o jovem jogador pode voltar a brilhar, se valorizar e ser vendido a algum clube da Europa. Ou, quem sabe, ter melhor sorte no Colorado em um futuro próximo. 

Atlético-MG e Cruzeiro seguem como destinos prediletos. O Inter pretende uma compensação financeira e que o destinatário do empréstimo arque com o pagamento do salário do atleta na íntegra. O valor bate perto dos R$ 300 mil mensais. Descontente com o que foi oferecido até então, o Colorado não descarta abrir negócio com outras equipes. No começo do ano, Palmeiras, Corinthians, Santos e São Paulo também gostariam de contar com Valdívia. Entretanto, antes de qualquer conversa com demais clubes, a direção vermelha pretende ouvir uma palavra final do presidente do Atlético-MG, Daniel Nepomuceno. Seja para fechar ou não um acordo por empréstimo.