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Por que um goleiro brasileiro pode se tornar o mais caro da história

Depois de conquistar o Campeonato Português, o Benfica de Ederson conquistou a Taça de Portugal - Twitter/Benfica
Depois de conquistar o Campeonato Português, o Benfica de Ederson conquistou a Taça de Portugal Imagem: Twitter/Benfica

Do UOL, em São Paulo

31/05/2017 04h00

Finalista e destaque da edição 2016/2017 da Liga dos Campeões da Uefa, o goleiro italiano Gianluigi Buffon, 39, fez 21 defesas na principal competição de clubes do futebol europeu. O Benfica foi eliminado nas oitavas de final – quatro jogos a menos, portanto –, mas o brasileiro Ederson, titular da meta da equipe lisboeta, acumulou 27 intervenções no certame. Desde o ano passado, quando substituiu o compatriota Júlio César, o atleta de 23 anos precisou de pouco tempo para se consolidar como titular e ganhar status de um dos mais promissores da posição no planeta. Contudo, não foi apenas isso que chamou atenção de Pep Guardiola, técnico do Manchester City. Prestes a fazer de Ederson o goleiro mais caro do futebol mundial em todos os tempos, o espanhol decidiu apostar também no talento que o brasileiro tem com os pés.

Ederson começou no São Paulo, time que defendeu de 2005 a 2009. Fã de Rogério Ceni, sempre chamou atenção pelo bom trato com a bola. Após ter sido pinçado por um olheiro e levado ao Benfica, anotou dois gols em reposições diretas quando ainda estava na base e chegou a tentar cobranças de falta no período em que foi emprestado ao Rio Ave.

A leitura de jogo também é um item importante no repertório de Ederson. O goleiro gosta de atuar adiantado e teve média de 0,80 interceptação por partida na última temporada em Portugal. O chileno Claudio Bravo, contratado há um ano pelo mesmo City de Guardiola justamente por saber jogar com os pés, registrou 0,81 cortes a cada 90 minutos.

A diferença entre Ederson e Bravo nesse sentido é que o brasileiro tem trabalhado com margem de erro muito menor. O chileno chamou atenção na Inglaterra pelo excesso de escolhas questionáveis nos lances em que decidiu deixar a meta e se aproximou da primeira linha de defensores.

A participação do goleiro no momento defensivo é uma das premissas indissociáveis do trabalho de Guardiola. Contratado pelo City há uma temporada, o espanhol barrou Hart, ídolo da torcida, que foi emprestado ao Torino justamente por fazer pouco uso do jogo com os pés. Pediu a contratação de Bravo, então no Barcelona, que custou 18 milhões de euros (R$ 65 milhões) e acabou a temporada na reserva do veterano Caballero.

A experiência malsucedida com Bravo fez com que Guardiola olhasse novamente para o mercado, e mais uma vez o talento com os pés foi característica relevante nessa prospecção. Ao pensar em um goleiro confiável, mais jovem e que oferecesse essa alternativa, o espanhol identificou Ederson como o modelo perfeito. Em março, segundo o jornal português “A Bola”, o treinador ligou diretamente para o brasileiro para convidá-lo a se transferir ao Manchester City, procedimento que já havia sido adotado por ele com Gabriel Jesus.

Faltava convencer o Benfica. Ederson tem identificação com o clube português, que defendeu na base – saiu quando estava no sub-19 e foi defender GD Ribeirão e Rio Ave, ambos em Portugal, já como profissional. Além disso, é ídolo da torcida e tem contrato com multa rescisória de 50 milhões de euros (R$ 182,4 milhões).

A oferta do Manchester City por Ederson chegou a 40 milhões de euros (R$ 145,9 milhões). Se a negociação for confirmada nesse patamar, o brasileiro vai ultrapassar o próprio Buffon, que até hoje é o goleiro mais caro do futebol mundial. Em 2001, a Juventus desembolsou 37,8 milhões de euros (R$ 137,8 milhões) para tirar o jogador do Parma.

“Não será fácil para um jogador jovem lidar com esses valores. Ainda mais num clube como o City, que vai lutar pelo título. Ederson terá muita pressão para apresentar resultados”, disse Tommy Wright, ex-goleiro, que defendeu a equipe de Manchester entre 1997 e 2001, em entrevista ao jornal português “Diário de Notícias”.

No domingo (28), depois de o Benfica ter batido o Vitória de Guimarães por 2 a 1 na decisão da Copa de Portugal, Ederson seguiu no campo por alguns instantes. Acenou para a torcida de sua equipe e se emocionou a ponto de ter sido questionado, ainda no gramado, se aquilo era uma despedida. “Ainda não sei, mas provavelmente foi meu último jogo aqui”, declarou à TV lusitana “RTP”.

Os valores envolvidos no negócio de Ederson são tão chamativos que o Benfica foi acionado até pela CMVM (Comissão do Mercado de Valores Mobiliários), órgão português equivalente à Comissão de Valores Mobiliários (CVM) do Brasil. O time lisboeta teve de emitir uma explicação sobre o montante, que pode render ao São Paulo – por ter participado da formação, a equipe tricolor receberia algo em torno de R$ 2,8 milhões.

Ederson é empresariado por Jorge Mendes, agente português que é considerado um dos mais fortes do planeta – cuida das carreiras de José Mourinho e Cristiano Ronaldo, por exemplo. O goleiro foi incluído por Tite na lista de convocados à seleção brasileira que vai enfrentar Argentina e Austrália em amistosos no próximo mês.