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Montillo chora em adeus ao futebol: "Não vou alimentar uma morte lenta"

Montillo com a mulher e seus filhos Valentín e Santino seguram a camisa do Botafogo - Bruno Braz / UOL Esporte - Bruno Braz / UOL Esporte
Montillo, esposa e filhos Valentín e Santino seguram a camisa do Botafogo
Imagem: Bruno Braz / UOL Esporte

Bruno Braz

Do UOL, no Rio de Janeiro

29/06/2017 12h44

Foi em tom muito emocionado que o meia Montillo, de 33 anos, anunciou sua aposentadoria do futebol na manhã desta quinta-feira no estádio Nilton Santos. Acompanhado de sua mulher e de seus dois filhos, ele demonstrou sinceridade e admitiu que seu corpo já não aguentava mais as seguidas lesões este ano no Botafogo.

"Eu não vou alimentar uma morte lenta. Pronto. Acabou", disse em uma de suas frases mais marcantes.

Em lágrimas, o argentino fez questão de agradecer funcionários, jogadores e comissão técnica pelo esforço em tentar recuperá-lo: 

“Foi uma passagem muito rápida aqui no Botafogo, mas fui muito feliz. Vocês me ajudaram muito nessas coisas que estão acontecendo. Eu me machuquei cinco vezes seguidas, nunca tinha acontecido. Infelizmente, meu corpo começou a avisar que eu não ia ficar 100%. Tentei. Nessa última vez fiquei dois meses treinando. Fiz tudo para voltar e tentar ajudar. Não consegui. A genética não deixou eu fazer o que eu mais gosto. Sempre falei para minha esposa: “Eu vou jogar até o momento em que eu consiga dar meu máximo”. Esse momento foi agora”.

Montillo admitiu que a última lesão, nos primeiros minutos da partida contra o Avaí, foi a gota d'água para se decidir pela aposentadoria dos gramados.

"Não tenho o perfil de ficar numa maca tentando fazer uma coisa que não ia dar certo. Para o clube, e também para mim, a decisão é correta. Não vou ficar aqui cobrando um salário e esperando para ver se eu consigo jogar. Sei que não ia dar certo. Não posso treinar mais do que treinei nesses dois meses. Fiz tudo certinho e não deu certo. Chegou o momento de parar, deixar os meninos que estão vindo, jogar", declarou.

Muito apegado à família, Montillo confirmou que o sofrimento de seus filhos Valentín e Santino foram fundamentais na decisão, embora todos eles fossem contra o adeus:

"Eu, como homem da casa, preciso estar com a cabeça boa. Ou a família começa a cair aos poucos. Senti que chegava em casa e todos estavam sofrendo muito. O primeiro que sofria era eu. Outro dia cheguei e os quatro começaram a chorar. Eu disse: 'deu'. O futebol te leva a ficar muito longe da família".

A carreira

Argentino, Montillo apareceu para o futebol na Universidad de Chile, a partir de 2008. O apoiador não teve uma boa primeira temporada, mas virou ídolo da “La  U” no ano seguinte, quando foi decisivo na conquista do abertura. A explosão memso só ocorreu em 2010, quando teve grande atuação sobre o Flamengo, pela Libertadores. Marcou um gol de fora da área, de cobertura, e eliminou o Rubro-negro.

Após esse jogo, o jogador estava visivelmente emocionado. Não somente pela classificação, mas pelo nascimento do filho Santino, que tem síndrome de down. Os torcedores chilenos passaram a cantar músicas sobre o herdeiro e tornou o momento bastante especial.

No mesmo ano, se transferiu para o Cruzeiro. No Brasil, não demorou para ganhar o status de craque após grandes atuações. Para muitos, o início de trajetória nos mineiros foi o melhor período da carreira, onde desandou a marcar gols. No total foram 36 em 122 jogos com a camisa azul.

Em 2013, chegou como grande contratação no Santos de Neymar em um investimento de aproximadamente R$ 16 milhões. Ele recebeu a camisa 10 de Ganso, que havia se transferido para o São Paulo, na oportunidade. No Alvinegro, porém, não conseguiu repetir as mesmas boas atuações da época de Cruzeiro. Tanto que o clube o vendeu para o Shandong Luneng-CHI em janeiro de 2014.

Ficou na China por duas temporadas e se tornou referência da equipe. Foi na equipe asiática que o argentino obteve a melhor média de gols da carreira – 17 em 81 partidas, o que representa 0,20 por duelo. Ele, porém, queria voltar para perto de casa.

O Botafogo realizou proposta e não demorou a fechar o negócio. Chegou com status de craque e dono do maior salário do elenco: R$ 400 mil. O início foi animador, já que marcou num amistoso no Espírito Santo durante a pré-temporada. O gol, porém, foi o único com a camisa preta e branca.

Depois disso a realidade do argentino foram lesões em séries. A cada dor, uma dúvida crescia na cabeça do jogador. A última, contra o Avaí, foi definitiva. Aos 33 anos, Walter Montillo não mais jogará futebol.