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Com queda de Ceni, São Paulo mantém sina de arranhar imagem de ídolos

Bruno Grossi e José Eduardo Martins

Do UOL, em São Paulo (SP)

04/07/2017 04h00

“Telê (Santana) morreu. O Paulo (Autuori) nós matamos em dois meses. Sobrou o Muricy (Ramalho) dos grandes técnicos vencedores do São Paulo nos últimos anos. Se a gente não cuidar dele, quem sobra? Temos de cuidar dele”, bradou Rogério Ceni em setembro de 2013, enquanto o Tricolor entrava na zona de rebaixamento do Campeonato Brasileiro. Passados quase quatro anos, novamente o São Paulo está entre os quatro últimos do Brasileirão. Novamente um dos grandes ídolos da história tem a imagem arranhada pelo imediatismo que tomou o clube desde 2009.

A primeira das vítimas foi Autuori, o campeão da Libertadores e do mundo em 2005 que foi chamado para sanar a crise deixada por Ney Franco em 2013 e durou apenas 17 jogos, com 25% de aproveitamento. Em seguida, o socorro do então presidente Juvenal Juvêncio foi pedido a Muricy, tricampeão brasileiro entre 2006 e 2008. O time escapou do rebaixamento, chegou ao vice do Brasileirão no ano seguinte, mas, em 2015, fracassos em clássicos e um processo de fritura da gestão Carlos Miguel Aidar levaram o treinador a pedir demissão.

Ceni chegou como salvador no fim de 2016, novo ano de briga contra a Série B, e sentiu na pele o drama que seus mestres enfrentaram. Viu o presidente Carlos Augusto de Barros e Silva ostentá-lo como trunfo e peça essencial na reconstrução do clube. O programa de gestão apresentado pela chapa de Leco nas eleições de abril deste ano, por exemplo, citava o técnico pelo menos três vezes, sempre ressaltando a intenção de trabalho a longo prazo. As promessas e os elogios à metodologia do ex-goleiro se esvaziaram após 37 jogos e 49% de aproveitamento.

Leco, de papel importante para o clube expurgar parte dos problemas da administração Aidar, assumiu a responsabilidade ao demitir Ceni e mais uma vez se encontra em rota de colisão com grandes ídolos do clube. Foi assim na saída de Muricy Ramalho, em 2009, quando era vice-presidente de futebol. Foi assim no processo de renovação do zagueiro Diego Lugano.

A postura volátil dos dirigentes do São Paulo resulta em dado significativo para os técnicos há duas décadas. Desde 1996, quando Telê Santana se despediu do clube, apenas um dos 20 treinadores contratados conseguiram emplacar cem ou mais jogos consecutivos: Muricy Ramalho, entre 2006 e 2009 e entre 2013 e 2015.

Nelsinho Baptista e Paulo César Carpegiani também chegaram a marcas centenárias nesse período, mas apenas somando passagens diferentes pelo Tricolor. De uma vez só, quem mais se aproximou das cem partidas foi Ney Franco, com 79 compromissos entre 2012 e 2013.