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Antes de tragédia, Vasco viveu escalada de violência em São Januário

Bruno Braz

Do UOL, no Rio de Janeiro

11/07/2017 04h00

As cenas de barbárie dentro e fora de São Januário que culminaram com a morte de um torcedor no último sábado, após o clássico entre Vasco x Flamengo, foram o estopim de uma escalada de violência que tomou conta do estádio. Desde o início do Campeonato Brasileiro deste ano, agressões a torcedores, brigas constantes entre organizadas e o acirrado clima político cruzmaltino fizeram do local um caldeirão, mas no sentido negativo. Essa mistura pode, direta ou indiretamente, ter contribuído para a confusão do último sábado, quando torcedores do Vasco tentaram invadir o gramado, atiraram rojões em campo, entraram em confronto com a polícia e terminaram o dia em uma batalha fatal no lado externo.

Outras confusões

Antes do clássico com o Flamengo, os casos mais graves tinham acontecido nos duelos contra Corinthians e Avaí. Diante dos paulistas, tão logo gritos de protesto ao presidente Eurico Miranda passaram a ser ecoados, uma grande confusão tomou conta tanto da arquibancada quanto da social. Torcedores acusaram seguranças do clube de agressões e um vascaíno foi encaminhado ao hospital após levar um soco no rosto.

Em nota, o Vasco condenou as cenas e insinuou que membros do time de futebol americano "Vasco Patriotas" participaram do tumulto na social. Como consequência, a parceria de anos foi rompida e a equipe não utiliza mais o nome do clube e nem os uniformes nas competições. Na ocasião, o presidente da modalidade alegou ter sido agredido e expulso de São Januário.

Já contra os catarinenses a confusão aconteceu após um apagão nos refletores do estádio e o motivo foi o mesmo: reação aos cânticos de protesto contra Eurico. Naquele episódio, pela primeira vez a Polícia Militar tomou ações mais enérgicas e fez uso de tiros de bala de borracha no meio da arquibancada. A atitude gerou revolta por parte dos torcedores e pânico entre crianças, mulheres e idosos.

Já nestas duas partidas, muitas pessoas se protegiam como podiam e algumas se acolheram em camarotes, como o da imprensa, assim como aconteceu desta vez.

Ameaças

A organizada Guerreiros do Almirante se considera apolítica e, por conta da suspensão da Força Jovem pelo Ministério Público, é a maior atualmente em termos de volume na arquibancada. Diante de Sport e Avaí, no entanto, o grupo não compareceu alegando medo de represálias. Antes das referidas partidas, os torcedores emitiram um comunicado oficial justificando a atitude como reação a supostas “ameaças e coações por parte de seguranças do clube” (clique aqui e leia a íntegra).

Relatos de membros desta torcida dão conta de que alguns de seus líderes foram agredidos e repreendidos no duelo com o Corinthians. Outros preferiram não mais voltar a São Januário mesmo após a “GDA” comunicar o retorno na partida contra o Atlético-GO, depois que uma reunião selou um “pacto de paz”. Como resposta, o Vasco classificou a nota como uma “versão fantasiosa”.

Posteriormente, a polêmica se estendeu para a internet, quando torcedores se queixaram estarem sendo bloqueados nas redes sociais oficiais do clube por protestarem contra a diretoria. O Vasco, em comunicado, admitiu a postura.

Na semana passada, cerca de 40 membros de organizadas estiveram na porta da sede náutica do clube, na Lagoa, onde acontecia uma reunião do Conselho Deliberativo. Conselheiros de oposição alegam terem sido intimidados por eles. 

Neste sábado, no clássico com o Flamengo, um jornalista do Extra disse ter sido acuado e intimidado por seguranças do clube para que deletasse fotos de seu celular. O gerente de futebol, Anderson Barros, precisou intervir. Já um cinegrafista da Band foi ameaçado por um torcedor que estava sob posse de um vergalhão (veja no vídeo abaixo).

Empregos a membros de organizadas?

A troca de farpas entre a diretoria do Vasco e a Polícia Militar do Rio de Janeiro, que se intensificou após os episódios do último fim de semana, já tinha começado em jogos anteriores, quando o clube também recriminou o modo de repressão que o grupamento utilizou para conter os torcedores. O órgão, por sua vez, acusou o Cruzmaltino de empregar membros de organizadas cruzmaltinas como seguranças, o que estaria dificultando e até aumentando os problemas.

Consequências

Na tarde desta segunda-feira (10), o Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD) solicitou a interdição de São Januário. Com as denúncias, o clube pode perder até 25 mandos de campo e pagar uma multa de até R$ 350 mil.