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Corintiano vira palmeirense em homenagem a tio morto após clássico

Odete - Adriano Wilkson - Adriano Wilkson
Imagem: Adriano Wilkson

Adriano Wilkson

Do UOL, em São Paulo

20/07/2017 04h00

A morte do metalúrgico palmeirense Leandro Zanho, que se envolveu em uma briga com corintianos no centro de São Paulo semana passada, mudou a vida de toda sua família. Ele era pai de três crianças e padrinho de seu sobrinho Renan, que na noite do crime comemorava seu aniversário de 12 anos.

A história do afeto entre Leandro e Renan foi relatada pela família da vítima, que se reuniu com seus advogados na última quarta-feira (19) e declarou que pleiteia a prisão dos acusados pelo crime. "O Renan era muito apegado ao tio. O pai dele era corintiano e por isso ele também era", disse Odete, a avó do garoto. "Mas ele costumava ir ao estádio e acompanhar o Palmeiras por causa do tio".

Na última quarta-feira, a família tinha preparado um bolo e chamado convidados para comemorar o aniversário do de Renan quando recebeu as primeiras notícias sobre a briga. Leandro acabou esfaqueado e precisou passar por cirurgia, mas não resistiu e morreu na manhã seguinte. Ele tinha 38 anos.

Camisa - Reprodução - Reprodução
Imagem: Reprodução

A mãe de Renan disse que o filho decidiu mudar de time e agora vai torcer pelo Palmeiras em homenagem ao tio. "Vai ser uma forma de ele ficar mais perto do Leandro", disse Renata.

As outras crianças da família também sentiram de maneira dura a morte do torcedor, que lutava contra um câncer no olho havia quatro anos. As imagens de câmeras de segurança foram exibidas muitas vezes pela TV da casa do metalúrgico, que morava perto de toda sua família em um bairro de classe média de Santo André.

Seu filho mais novo, de três anos, outro dia começou a erguer os braços como se estivesse segurando uma faca no ar. “Eu fui perguntar pra ele o que era aquilo”, disse a tia Renata, “e ele respondeu: ‘Foi assim que o homem matou o meu pai’.”

Os filhos mais velhos do palmeirense, que vinham frequentando os últimos jogos da equipe, se consolaram com a decisão do time de várzea Valparaíso de jogar com uma camiseta em homenagem a Leandro. O metalúrgico era presidente do time. Uma faixa póstuma também será levada a jogos, que em geral reúnem algumas centenas de pessoas na várzea.

"Minha vida não tem mais significado sem ele", disse Odete.

A família buscou o auxílio jurídico do escritório de Ademar Gomes, um renomado advogado criminalista da capital, famoso por trabalhar em casos de grande repercussão como o do “maníaco do parque” e o da adolescente Elóa Cristina, morta pelo namorado em Santo André. Segundo o advogado, seu escritório atuará como assistente de acusação da promotoria.

Suspeitos alegam legitima defesa e pedem habeas corpus

O advogado Arthur Sampaio Junior apresentou um pedido de habeas corpus para tentar livrar da prisão o borracheiro Anderson da Cruz de Andrade, suspeito de participar do homicídio de Leandro.

O advogado também espera a decisão sobre um segundo habeas corpus preventivo antes de apresentar outro suspeito, identificado com Nerivaldo, e que ainda não foi encontrado pela polícia. Os dois, que trabalham numa borracharia no centro de São Paulo, aparecem em imagens portando facas na briga que acabou matando o metalúrgico.

A tese da defesa é que Nerivaldo e Anderson foram vítimas de uma agressão inicial por parte dos palmeirenses e que reagiram com facas para se defender. Leandro estava acompanhado de amigos e pararam depois de ouvirem provocações dos corintianos.

Segundo o advogado, Anderson disse que não chegou a acertar facada em ninguém. “E o Nerivaldo afirmou que não tinha intenção de machucar e se acertou alguém, foi sem querer”, disse o advogado.

“Quem viu as imagens viu que foram os palmeirenses que foram para cima jogando pneus e os dois só tentaram se defender”, afirmou o advogado.

A defesa também tentará desqualificar o depoimento das testemunhas que apontaram, na madrugado do crime, seus clientes como autores do crime. Segundo Sampaio, duas testemunhas admitiram ao delegado de plantão que tinham bebido até cinco latas de cerveja. A defesa acredita que a ingestão de álcool e o fato de as testemunhas serem também torcedores do Palmeiras tira a credibilidade de suas declarações.