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Parceiro de Ronaldinho e cria de Felipão, Rodrigo Gral reforça time gaúcho

Rodrigo Gral (9) ao lado de Ronaldinho Gaúcho (11) em jogo das categorias de base da seleção brasileira - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Imagem: Arquivo pessoal

Marcello De Vico e Vanderlei Lima

Do UOL, em Santos e São Paulo

28/07/2017 04h00

São quase 25 anos como profissional desde que foi promovido ao time principal do Grêmio por Felipão, em 1995, com apenas 16 anos. Desde então, foram quase 20 clubes e mais de 600 gols, sendo um deles inesquecível: o de número 500, convertido em sua passagem pela Chapecoense, em 2012. O gol se tornou tão marcante na história de Rodrigo Gral por dois motivos em especial: o atacante ser de Chapecó (SC) e ter a Chape como seu clube de coração desde a infância e pela presença de familiares no estádio – entre eles a já falecida avó.

Rodrigo Gral acertou com a Chapecoense em agosto de 2012. Dois meses depois, no dia 27 de outubro, marcou o gol histórico durante a goleada por 5 a 0 sobre o Tupi-MG, na Arena Condá, resultado que classificou a Chape para as quartas de final da Série C – o time catarinense alcançaria as semifinais e assim garantiria vaga na segunda divisão do ano seguinte. Em entrevista exclusiva ao UOL Esporte, o atacante, que hoje atua pelo Igrejinha-RS e pensa em se aposentar no fim do ano, relembra o fato inesquecível na carreira.

“É um momento especial e único, e que foi marcado próximo a minha família... A minha avó Edilia, que hoje é falecida, nunca tinha entrado num estádio, nunca tinha me visto jogar pessoalmente, e isso marcou muito para mim. Chapecó é a minha cidade, voltei por este sonho, por este objetivo, os meus familiares presentes no estádio, um dia especial, gratificante e que valeu a pena”, conta Rodrigo Gral, que faz questão de agradecer um técnico em especial por tudo que vem acontecendo em sua longa carreira como jogador de futebol.

“Agradeço muito uma pessoa que é o Gilmar Dal Pozzo, que hoje é o técnico do Juventude. Hoje eu tenho 613 gols e o gol 500 foi pela Chapecoense, contra o Tupi, na Série C... Eu tinha mais um ano de contrato em Brunei [país na Ásia] e decidi voltar, era um momento em que eu estava pensando em encerrar a carreira, e eu nunca tinha jogado na Chapecoense e nem em Santa Catarina, então foi uma conversa que a gente teve com a direção - que veio a falecer no ano passado - que me trouxe e foi um projeto que a gente fez com a chegada do treinador Gilmar Dal Pozzo... A gente conseguiu o acesso, eu consegui fazer o gol e ele bateu, pediu a minha permanência, que ele queria contar comigo, e eu revi os meus planos e estou até hoje... Então foi um cara que me motivou neste sentido”, agradece o atacante, hoje com 40 anos de idade.

“Até hoje eu falo com ele, falo que ele é o culpado, porque quando eu pensei em parar eu falei que o Operário-MS [clube que defendeu no começo de 2017] seria meu último clube... E a gente vai recebendo convite e vai aceitando e achando que dá, e segue em frente”, acrescenta.

Depois de pensar em pendurar as chuteiras por algumas ocasiões, Gral acredita que este será mesmo seu último ano como jogador profissional. “Hoje está mais amadurecida a ideia, hoje eu penso fazer o meu último ano e tentar fazer o melhor, aproveitar ao máximo este ano porque as dores vêm e também tenho que abdicar de muita coisa para estar treinando... Porque tu tem uma história e é cobrado por isso, então esse ano de 2017 é o que eu coloquei na minha cabeça que vai ser o último. Devo ficar no Igrejinha-RS até o final do ano”, disse o atacante.

Rodrigo Gral hoje defende o Igrrejinha-RS - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Imagem: Arquivo pessoal
Rodrigo Gral ainda revelou ao UOL Esporte que recebeu uma proposta para jogar no futebol dos Estados Unidos. A família, porém, falou mais alto, e assim ele continua como jogador do Igrejinha-RS – time que disputa a segunda divisão do Gaúcho.

“Como estou com 40 anos, estou pensando em ficar mais próximo de casa, com a minha família. São só 80 km de Porto Alegre, então é isso que ainda me motiva: ficar jogando próximo de casa, e eu não me programei para sair. Se fosse para sair, por exemplo, para os EUA, seria para morar com a família também, mas eu não me programei com tudo isso, e a proposta é para agora, mas eu prefiro ficar no Brasil”, admite Rodrigo Gral.

“Até hoje eu faço com amor. Estou seguindo a minha carreira, então eu agradeço a cada clube, cada oportunidade, porque sei dos tabus que às vezes aconteceram por causa da idade”, finaliza.

VEJA OS PRINCIPAIS TRECHOS DA ENTREVISTA

O paizão Felipão: “não tenho palavras para descrever”

Para mim ele é um pai. Não tenho palavras para descrever porque a minha história é muito ligada com a do Felipão, ele foi o treinador que me subiu. Ele era um cara que motivava todo mundo. Quando ele falava no vestiário era muito sangue na veia... Ele é um cara do Sul, gringo, italiano, então para mim isso motivava muito, e era um espirito aguerrido como o Grêmio... A gente ali era de muita luta, muita transpiração, muita garra, éramos muito unidos mesmo.

Episódio em treino o fez ganhar moral com Felipão

Rodrigo Gral comemora gol com a camisa do Grêmio - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Imagem: Arquivo pessoal
Um dia que me marcou foi quando eu ainda estava subindo para o time profissional, no meio do Dinho, Goiano, Carlos Miguel, Jardel, Paulo Nunes... Tinha uma jogada ensaiada e eu estava na barreira no time de baixo; o Carlos Miguel rolou para o lado para o Dinho chutar de frente para o gol e eu dei um carrinho, e o Dinho falou: ‘juvenil, nós estamos trabalhando, é uma jogada ensaiada’, e aí o Felipão olhou e falou: ‘Não, é isso aí, é isso que a gente vai encontrar na Libertadores: vontade, garra, raça, os negos vão chegar assim mesmo, dando voadora’, e a partir daí o Felipão me levava para os jogos.

Concorrência com Jardel: “não tinha como eu jogar”

Eu era uma opção, não tinha como eu querer jogar ou obrigar. Para mim era tudo novo, era um aprendizado. Tinha o Magno, que jogava na época, que era o substituto, tinha o Nildo... Eles eram mais experientes, então eu não via como uma briga, era um momento em que eu estava aprendendo, subindo, e quando precisasse eu queria jogar. Para mim era uma escola, até pelo fato da minha idade.

O paizão Dinho: “consideração incrível”

O Dinho é o meu paizão. Até hoje eu tenho uma amizade muito grande com ele. Na final da Copa do Brasil do ano passado [Grêmio x Atlético-MG], por eu estar indo jogar, ele pegou o meu pai e assistiu ao jogo com ele... Foi uma amizade que a gente formou e é uma consideração incrível. Eu chamo o Dinho de cangaceiro até hoje, é o apelido dele; ele sorrindo já te assusta [risos]. Ele tem uma cara fechada, é o símbolo do Grêmio, é o símbolo da situação que o Grêmio sempre viveu, sinônimo de vencedor do Grêmio.

Rodrigo Gral (nº 28) em time do Grêmio de 2001 - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Imagem: Arquivo pessoal

Chape: 'Briga’ de amigos com Caio Jr. antes de viagem

[Conhecia] A maioria. Da direção eram todos meus amigos, as pessoas que trataram comigo a minha volta, da forma que foi, os jogadores que eu joguei, que a gente teve dois anos de acesso juntos, pessoas que a gente tinha contato: o Danilo, o Rangel, o Cleber Santana eu já jogava no Sport e ele estava subindo, a comissão técnica... o Caio Júnior fazia uns seis meses que eu tinha jogado contra o time dele na Arábia... Foi um momento difícil, um dos piores momentos da minha carreira.

Nivaldo, gerente de futebol da Chapecoense - Divulgação Chapecoense - Divulgação Chapecoense
Nivaldo, gerente de futebol da Chape
Imagem: Divulgação Chapecoense
É inexplicável, porque há proximidade [com as pessoas] e, quando chega até você, você fica não querendo acreditar nas coisas. Eu tive amigos que não viajaram, casos do Rafael Lima, do Neném, e do Nivaldo (foto ao lado), uma das pessoas mais antiga do clube; a gente conseguiu muita coisa juntos quando o clube era menor, quando tinha mais dificuldade, e eles relatando que brigaram com o Caio Júnior para poder viajar, porque era um momento único da Chapecoense por ser uma Sul-Americana e eles querendo fazer parte do grupo, querendo estar nessa situação, e aí acontecer isso... Então a gente vê nos olhos deles que é Deus quem não permite, porque não tem explicação. Eles falaram: ‘Eu briguei para ir, discuti com ele [Caio Júnior], um relato assim de um cara que hoje eu posso dar um abraço, e Deus não quis, ‘não era a tua hora’... o Nivaldo hoje é diretor da Chapecoense, o Rafael Lima está no América MG e o Neném está no grupo da Chapecoense. Tu vê como é a vida: eles pediram para viajar, brigaram para viajar e hoje estão aqui e as outras pessoas se foram.

Ronaldinho como companheiro: “melhor que vi jogar”

Jogamos juntos a base toda, e joguei com ele na seleção de base também. É um cara que, para mim, foi o melhor que eu vi jogar. Era gênio, era diferenciado desde sempre. Já se via o talento dele desde novinho. Teve aquele Campeonato Gaúcho de 99 que nós ganhamos, em que despontou. O que ele fez com o Dunga... dribles desconcertantes, e se tratando de Dunga isso ganhou o mundo. O Ronaldinho ganhou proporção nacional porque o Dunga era capitão do Inter, capitão do tetra, e vendo ele iniciar uma carreira fazendo aquilo, com a experiência que o Dunga tinha... Tanto é que, nessa sequência, ele foi convocado para a Copa América e aí deslanchou.

Vídeo game até tarde e aviso do R10: “vai ver amanhã”

A gente jogava vídeo game até tarde e os mais velhos falavam: ‘eu quero ver amanhã no campo’... Não vou citar nomes [risos]. A concentração antes era debaixo do Olímpico e os quartos eram um do lado do outro, e teve um momento que a gente estava jogando Playstation e fomos campeões, era umas 2 horas da manhã... A gente deu um grito lá e o pessoal mais velho meio que não gostou e falaram: ‘Então quero ver amanhã em campo’, e o Ronaldinho falou: ‘Então tu vai ver amanhã o que eu vou fazer’, e ele fazia mesmo, tanto é que fez no Dunga.