Topo

Herói do SP em 2013, Muricy aposta em Dorival: "Tem time para melhorar"

Muricy Ramalho quando comandava a equipe do São Paulo - Junior Lago/UOL
Muricy Ramalho quando comandava a equipe do São Paulo Imagem: Junior Lago/UOL

José Eduardo Martins e Vanderlei Lima

Do UOL, em São Paulo

08/08/2017 04h00

Essa não é a primeira vez que a torcida do São Paulo vê a equipe fechar o primeiro turno do Campeonato Brasileiro na zona do rebaixamento. Treinador responsável por livrar o time da Série B em 2013, Muricy Ramallho aposta que o Tricolor de Dorival Júnior pode repetir o desempenho daquele ano e encerrar o nacional na parte de cima da tabela.

"Acho que o São Paulo não cai, porque o Júnior tem mais tempo. Mesmo que o time perdeu os jogos com ele, isso serviu de experiência. Agora, ele vai começar o returno conhecendo mais o plantel e o clube. E o São Paulo tem time para melhorar a posição na tabela", afirmou Muricy, em entrevista ao UOL Esporte.

Em 2013, a equipe chegou à metade da competição com 18 pontos na 18ª posição - neste ano o São Paulo é o 17º com 19. Outra semelhança entre as duas campanhas é a troca de treinadores. Naquela ocasião, o Tricolor teve Ney Franco e Paulo Autuori como técnicos no primeiro turno. Já com Muricy no comando, o time fechou o campeonato na nona colocação, com 50 pontos. Em 2017, Rogério Ceni dirigiu o time nas primeiras rodadas; Pintado foi o interino no clássico com o Santos e, a partir da 13ª jornada, o cargo ficou com Dorival.  

"Eu tive muito menos tempo e precisei tomar atitudes mais apressadas. Pelo menos agora, o Dorival tem mais tempo para ver o que precisa fazer e aí traçar uma estratégia para tirar o time desta situação. Então, ele está conhecendo os jogadores. Agora, chegaram muitos jogadores - diferentemente daquele meu ano em que a gente não precisou mexer tanto e tinha um bom plantel. Então, isso facilitou um pouco, mas acho que a vantagem é que ele tem mais tempo para treinar e conhecer os jogadores", comparou o treinador de 2013.

Confira abaixo a abaixo os principais trechos da entrevista com Muricy Ramalho:

Clima ruim

Do ambiente eu não posso falar, porque a gente não sabe. Naquele tempo, eu achava que o ambiente era ruim. Mas não era ruim, era muito ruim, era horrível. E me parece que agora não, a gente não acha isso. Chegaram muitos jogadores e essa troca conta um pouco, porque ele acaba conhecendo o elenco. Mas nesse período em que vai começar o segundo turno, ele já vai ter a experiência em relação a isso, ele vai conhecer melhor e vai ter mais chance de tirar o time dessa situação.

Caminho para sair da crise

Primeiro comecei a olhar o motivo para o time estar naquela situação, procurei respostas. Ou seja, tinha de ver como estava o ambiente e aí, é claro, tinha de conversar com os jogadores, fazer entender que era muito importante sair daquela situação. Depois, isso não deu certo. Então, eu mudei o esquema de jogo e isso não deu a resposta muito rápida. Aí, você troca os jogadores, não tem jeito. Você tem de tomar uma atitude mais drástica, mais dura. Foi o que aconteceu. Os jogadores que eram os titulares, os diferentes da época, não estavam dando resposta. Então, tive de colocar jogadores que tecnicamente não eram melhores e, inclusive, não tinham simpatia da torcida e da diretoria, mas salvaram. Porque eles eram dedicados, tinham mais comprometimento com o time e salvaram. Foi mais ou menos por aí. Tem de tomar decisões no dia a dia para mudar. Tem de conversar primeiro, ver a tática depois. Se não tem mais jeito, é trocar. 

Sem tempo para errar

A formação dos técnicos é essa, ele, com certeza, está vendo esses caminhos. Está observando, vendo o ambiente, analisando. Depois que ele conhece e vê bem qual é o problema, ele vai começar a tomar a atitude. Porque agora no segundo turno não dá mais para errar, para ter dúvidas. Tem que entrar com tudo no segundo turno porque depois não tem mais chance. Acho que já está neste estágio, de conhecer todo mundo e de melhorar as coisas.

Principal problema

O São Paulo tem qualidade, sim. A pressão é muito grande quando você está nessa situação, porque o time não está acostumado, não sabe jogar quando está sob pressão assim. É muito difícil, eu sei porque passei por isso com o São Paulo na época. É uma dificuldade muito grande porque fica todo mundo inseguro. O São Paulo, por exemplo, tem um plantel melhor do que muitos times que estão à frente. Então, é isso: falta tranquilidade e encaixar resultados. Até porque depois do jogo com vitória de 4 a 3 sobre o Botafogo [dia 29 de julho] todo mundo esperava que o São Paulo iria até brigar por coisas melhores. Mas, de repente, não foi o mesmo time, já não jogou bem também. Acho que tem também um pouco o lado psicológico, os jogadores estão sentindo muito. Aí, é claro, é o trabalho do técnico de dar confiança, de fazer entender as coisas. Melhorar algumas coisas, como o time que está tomando muitos gols. Com certeza, ele vai corrigir. É um time que tem bons jogadores do meio para frente, boa posse de bola, mas pouca infiltração e poucas finalizações. Acho que tudo isso é preciso estar atento e ele vai corrigir nesse segundo turno, com certeza. 

Concorrentes diretos

Acho que para o São Paulo, esses confrontos com os grandes não têm sido problema, mas sim os pontos que o time perdeu nos jogos com quem não pode perder, os que estão brigando na parte debaixo. Então, nesse Campeonato Brasileiro, você perder clássico para os times de cima da tabela fora de São Paulo é resultado normal. Isso vai acontecer. O que não pode é o que tem acontecido com o São Paulo: perder pontos para os debaixo. Isso conta demais. Então, o São Paulo, fazendo uma conta rápida, se tivesse ganhado esses três jogos contra os times que estão lá embaixo [Atlético-GO, Coritiba e Bahia], estaria lá em cima. Aí é que eu não sei se falta um pouco de concentração, de tranquilidade, porque quando enfrenta os times de cima, joga até melhor. A questão é isso. A gente não sabe o ambiente como está, mas é um time que tem muito mais a dar e um bom plantel, muito melhor do que times que estão à frente.

Aprender sem cair

Não aceito muito isso de que tem de acontecer uma catástrofe para depois você acertar. Tem de evitar isso e dá tempo. Tem bastante tempo para evitar, porque é um desastre para a torcida do São Paulo. Porque é um orgulho o clube não ter caído. Eu não acredito muito nisso de que você tem de apanhar para depois aprender. Acho que dá para aprender antes.

Diretoria

Não falo do São Paulo, mas tem clubes brasileiros que precisam melhorar mesmo na gestão, precisam ser mais profissionais... Às vezes, contrata para dar satisfação, porque dizem que é bom... Os clubes brasileiros têm de melhorar. Nossa gestão, realmente, não é boa. Os técnicos brasileiros melhoraram, eu acho. Foram estudar e há uma turma nova boa, mas eu acho que a gestão também precisa melhorar um pouco mais. Não dá para você ser dirigido por amadores. Então, isso eu acho que a gente precisa melhorar em todo o futebol brasileiro.

Acerto ao escolher Rogério Ceni

Tudo é momento no futebol. Naquele momento, o São Paulo precisava de um cara como o Rogério, de peso, que a torcida aceitava. O clube estava em um momento muito ruim. Acho que foi um acerto, sim. Porque o Rogério também é um cara que conhece muito bem o clube. Então, acho que não foi um erro. Aquele momento era para isso, mesmo, um cara daquele nível. Caso contrário, iria contratar mais um, a torcida não iria gostar, porque já passaram vários. Então, eles tentaram uma coisa diferente. Não deu certo por vários motivos, mas acho que foi o cara certo, sim. Deu uma tranquilidade no começo do ano, internamente as coisas ficaram mais tranquilas. Agora, dar certo ou não pode acontecer com qualquer treinador.

Contratações

Precisa ter mais cabeça fria, conversar com mais profissionais, com gente do meio, para saber se esse é o perfil. É que não dá tempo, é tudo pressionado.