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Corinthians recusa mais de R$ 90 mi em vendas e muda paradigma histórico

Dassler Marques

Do UOL, em São Paulo

11/08/2017 04h00

Desde que perdeu o meia Douglas, o volante Cristian e o lateral André Santos, destaques em meio a temporada 2009, um discurso comum foi utilizado por dirigentes do Corinthians. "Quando um jogador quer ser negociado, o clube não faz força para manter", disseram, em diferentes momentos, os presidentes Andrés Sanchez, Mário Gobbi e o atual Roberto de Andrade. A temporada 2017, a décima do mesmo grupo político no comando do clube, apresenta uma quebra desse paradigma.

Quatro jogadores importantes receberam propostas de transferências: o meia Rodriguinho, o lateral Guilherme Arana, o zagueiro Balbuena e o goleiro reserva Walter. Todos, de alguma maneira, sinalizaram que estavam dispostos a deixar o Corinthians, mas em todos os casos a postura da direção do clube foi a mesma, muito diferente ao de outros tempos: o clube não negociaria jogadores titulares ou considerados imprescindíveis para Fábio Carille.

Os quatro casos, asseguram fontes ligadas ao presidente Roberto de Andrade, não são os únicos. A direção do clube esconde os nomes de jogadores que receberam propostas, mas fala em outros três atletas que poderiam ter sido negociados nesse período. O desfecho foi o mesmo de Walter, Arana, Balbuena e Rodriguinho: com os valores apresentados por eles, divisões de direitos econômicos à parte, o clube poderia acumular cerca de R$ 90 milhões em vendas (veja detalhes abaixo).

O caso de Rodriguinho, em especial, merece destaque. A proposta recusada na última semana é a terceira que o clube recebe por ele neste ano. Em fevereiro, o meia chegou a se queixar publicamente pelo 'não' à oferta do Fenerbahce, mas voltou a se destacar logo na sequência e chegou à seleção. O Besiktas-TUR, recentemente, também procurou o jogador.

Clube enfrenta momento financeiro delicado

presidentes - Daniel Augusto Jr./Ag. Corinthians - Daniel Augusto Jr./Ag. Corinthians
Gobbi, último presidente, e Roberto, com mandato até fevereiro
Imagem: Daniel Augusto Jr./Ag. Corinthians

Festejada por torcedores, que desejam a conquista de mais um Campeonato Brasileiro, a manutenção de atletas também gera críticas ao presidente. Dentro do contexto político do clube, em que os elogios são raros e as reclamações são mais constantes, Roberto de Andrade recebe questionamentos em função das dívidas que deixará ao sucessor no próximo ano. As reclamações são de que ele ignora credores e que apresentará um cenário complicado ao presidente que vier a partir de fevereiro de 2018.

A situação financeira do Corinthians é delicada, com débito líquido de R$ 472 milhões, diversos processos recebidos recentemente e ainda dívidas de luvas com membros do elenco. O clube também está há mais de 100 dias sem patrocínio máster. Empresários com quantias a receber também pressionam o clube, como por exemplo os representantes do volante Gabriel. Os corintianos não quitaram luvas, comissões e a própria compra do atleta feita em janeiro.

Até aqui, vale lembrar, a única negociação realizada pelo Corinthians foi de um jogador pouco útil à equipe. O atacante Léo Jabá se transferiu ao Akhmat Grozny-RUS por cerca de R$ 7 milhões. Grande parte da quantia será usada para pagar dívidas e despesas do dia a dia, sem a possibilidade de novos investimentos serem feitos no elenco. A prioridade dos esforços, conforme definiu o presidente no início da janela de transferências, seria para manter todos.

Venda de Malcom gerou críticas internas ao presidente

Cristian chora 2009 - André Vicente/Folhapress - André Vicente/Folhapress
Cristian chora ao lado de André Santos em despedida no Corinthians
Imagem: André Vicente/Folhapress

Um caso dentro da própria administração de Roberto de Andrade mostrou comportamento distinto ao atual. No início de 2016, mesmo já tendo perdido Jadson, Renato Augusto, Ralf, Gil e Vagner Love, o presidente cedeu à pressão do empresário Fernando Garcia para que o titular Malcom fosse vendido ao Bordeaux. A negociação trouxe impacto pequeno aos cofres: 1,5 milhões de euros (brutos), correspondente à porcentagem que o clube possuía na época.

A venda de Malcom chegou a irritar bastante o treinador Tite e o então coordenador técnico Alessandro, que reclamaram publicamente da conduta dos empresários e, por consequência, da decisão do presidente Roberto.

Ao longo dos últimos anos, raros foram os momentos em que o Corinthians trabalhou para manter um jogador que desejava sair, mesmo com objetivos importantes nos meses seguintes. Campeão da Copa Libertadores em 2012, o clube vendeu dois titulares (Leandro Castán e Alex) e só manteve Ralf porque comprou direitos econômicos que pertenciam a empresários. Em 2015, também com ambições de título, perdeu três titulares (Fábio Santos, Guerrero e Emerson, estes em fim de contrato). No ano passado, apesar do desmanche em janeiro, Roberto ainda vendeu Felipe, Bruno Henrique, Elias e Alexandre Pato enquanto disputava a liderança.

Pessoas próximas a Roberto de Andrade atribuem, em parte, a mudança de pensamento ao isolamento do ex-presidente Andrés Sanchez do departamento de futebol. Sanchez sempre foi defensor das negociações que impediam a presença de jogadores insatisfeitos no grupo e davam fôlego ao caixa, uma linha que se construiu desde as vendas de Cristian, André Santos e Douglas em 2009, todos vitais no título da Copa do Brasil e do Paulistão naquele ano. Sem eles, o Corinthians teria sua pior campanha desde a volta da Série B.

As ofertas recusadas que se tornaram públicas

Rodriguinho
Valor: 6 milhões de euros (R$ 22 milhões)
Clube: Spartak Moscou
Direitos econômicos: 50%

Guilherme Arana
Valor: 15 milhões de euros (R$ 55 milhões)
Clube: CSKA Moscou
Direitos econômicos: 40%

Balbuena
Valor: 3 milhões de euros (R$ 11 milhões)
Clube: Genoa
Direitos econômicos: 100%

Walter
Valor: 1,5 milhão de euros (R$ 5,5 milhões)
Clube: São Paulo
Direitos econômicos: 5%