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Mico no meio da folga, Primeira Liga não agrada nem quem a criou

Fluminense venceu a primeira edição da Primeira Liga. Time volta a campo nesta quarta - MAILSON SANTANA/FLUMINENSE FC
Fluminense venceu a primeira edição da Primeira Liga. Time volta a campo nesta quarta Imagem: MAILSON SANTANA/FLUMINENSE FC

Leo Burlá e Vinicius Castro*

Do UOL, no Rio de Janeiro

30/08/2017 04h00

As competições se acumulam no extenso calendário dos clubes brasileiros: Estaduais, Brasileiro, Copa do Brasil, Copa Libertadores, Sul-Americana e...a Primeira Liga. O torcedor de não tão boa memória nem devia mais se lembrar do torneio, mas ele volta nesta quarta-feira (30) que será de folga para os demais. O tempo de descanso, recuperação e ajustes está sendo festejado por todos, menos Atlético-MG, Cruzeiro, Flamengo, Fluminense, Grêmio, Internacional, Londrina e Paraná.

A Primeira Liga, que nasceu como o embrião de um campeonato que seria tocado pelos clubes, chega a setembro com pouco crédito na praça e como um verdadeiro sacrifício para alguns. A última partida pela competição foi no dia 26 de abril, quando um Flu recheado por reservas bateu o Brasil-RS por 1 a 0.

O torneio só reaparece no cenário graças às Eliminatórias da Copa. Na quinta, o Brasil pega o Equador em Porto Alegre. Na próxima terça, a seleção de Neymar encara a Colômbia. Entre estes dois compromissos, os vencedores dos confrontos Internacional x Atlético, Londrina x Fluminense, Cruzeiro x Grêmio, e Flamengo x Paraná farão as semifinais no próximo fim de semana. Em caso de empate, as decisões acontecerão nos pênaltis.

Quem não está nesta lista vai gozar de uma rara folga no Campeonato Brasileiro, que para por conta da data Fifa e volta só na próxima semana. Enquanto isso, na Primeira Liga, quem vai a campo, em geral, não está feliz. 

Os mentores não ligam tanto

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Imagem: RUDY TRINDADE/FRAMEPHOTO/FRAMEPHOTO/ESTADÃO CONTEÚDO

Ao lado de Coritiba e Atlético-PR, dois dos que abandonaram o barco este ano, a dupla Fla-Flu foi a mais ativa para a criação desta reunião de clubes. Em meio à segunda edição do torneio, os ideais de independência e autonomia já não estão mais tão presentes nos discursos.

Em meio ao processo de preparação para a final da Copa do Brasil, o Rubro-negro precisou relacionar jogadores para ir até Cariacica disputar as quartas de final contra o Paraná. Teoricamente, a partida só será benéfica para o técnico Reinaldo Rueda conhecer jogadores que ainda não teve a oportunidade. A maioria dos titulares foi poupada para a Copa do Brasil e os dois laterais relacionados vieram da base: Klebinho e Pablo Maldini. A tendência, inclusive, é a manutenção dos escolhidos caso o Flamengo avance à semifinal. Uma das poucas atrações do jogo é a dúvida sobre a utilização de Conca. Com poucos minutos com a camisa do Fla, o argentino viajou e pode reaparecer.

No Flu, o compromisso diante do Londrina foi abertamente criticado pelo técnico Abel Braga, que viu ir por água abaixo a possibilidade de uma semana para aprontar sua equipe. Sem muita escolha, o treinador deverá mandar a campo alguns nomes importantes do grupo, visto que não há muita fartura disponível nas Laranjeiras.

Se a parte esportiva já não seduz tanto o campeão da primeira edição da competição, o presidente Pedro Abad ainda cumpre o papel político. Ele admite que há a necessidade de ajustes, mas defende a viabilidade, já comercializado com a TV Globo para 2018:

"É uma competição que ainda pode alcançar um nível de atratividade relevante. A fase mata-mata é sempre mais interessante para o público e acredito que despertará um pouco mais do interesse dos torcedores. Vale ressaltar que entre os 12 grandes clubes do país, seis estão na reta final da Primeira Liga", disse ele.

"Ela deve continuar, apesar dos objetivos iniciais não estarem mais presentes. O ideal para obtermos avanços é um possível acordo de datas com as federações e CBF, além de um modelo comercial que seja mais vendável e traga mais receita", completou Abad.

Ignorada por Grêmio e Cruzeiro. Salvação para Inter e Galo

Fred e Robinho - Atlético-MG/Divulgação - Atlético-MG/Divulgação
Imagem: Atlético-MG/Divulgação

Envolvido de corpo e alma no Brasileiro e na Libertadores, o Grêmio vê na Primeira Liga um compromisso indesejado. Não à toa o Tricolor Gaúcho vai "todo" reserva para o Mineirão, palco do jogo diante do Cruzeiro.

Para se ter uma ideia da dimensão que o Grêmio dá ao jogo desta noite, o time é composto apenas por jogadores que integram o grupo conhecido como "de transição". No banco de reservas, Felipe Endres, treinador que mescla jogadores da base e de cima, substitui Renato. Os dirigentes tricolores sequer viajaram para Belo Horizonte.

Classificado para a decisão da Copa do Brasil, o Cruzeiro também não dá muita bola para o duelo contra os gaúchos. Ainda que Mano Menezes deva escalar Arrascaeta e Sobis, o time celeste vai para o Mineirão cheio de jovens promessas. De olho na finalíssima contra o Flamengo, a equipe será formada por nomes como Lennon, Arthur, Bryan e Nonoca.

Mas também há os que enxergam na competição uma possibilidade de uma glória no ano. Na Série B, o Internacional tem o calendário menos puxado e pode se dedicar. Com espaço na agenda e de olho na importância que um eventual título pode ter no ano, o time de Porto Alegre promete que entrará com todos os seus titulares. Mas só se superar o Atlético-MG. O time escalado para esta quarta-feira será totalmente reserva. Titulares apenas em caso de classificação.

O torneio ganhou uma importância antes inesperada na Cidade do Galo. Eliminado das principais competições, o time usará a Primeira Liga para recuperar o ritmo de jogo de alguns atletas importantes, como os atacantes Robinho e Fred, além do zagueiro Gabriel. Apesar de mais tempo livre, muitos titulares sequer seguiram com a delegação para Porto Alegre, casos de Victor, Leonardo Silva, Fábio Santos, Adilson e Elias.

Prioridade mesmo, só no Paraná

Se não conta mais com os fundadores Atlético-PR e Coritiba, é o Paraná quem mais dá atenção à Primeira Liga. Londrina e Paraná Clube, nas quartas, dão total importância aos duelos com Fluminense e Flamengo, respectivamente, a ponto de irem com seus times principais. Se os cariocas agora não se importam tanto com a Liga, os paranaenses sim.

O presidente do Paraná, Leonardo Oliveira, celebrou a chance de recolocar o clube na vitrine nacional. “Não dá para esconder que ter um jogo só daqui a sete dias nos possibilita isso também. Nada melhor que preparar o time contra o Flamengo. Só que a Primeira Liga nos trouxe a possibilidade de fazer jogos contra equipes tradicionais no Brasil e a torcida valoriza muito esses confrontos”, contou, para depois comentar sobre o retorno financeiro da competição: “Nos trouxe um patamar que nós perdemos no Estadual, com a não-participação de Coritiba e Atlético, com uma redução de valores da TV. Houve uma compensação com a Primeira Liga”.

Em Londrina, a recepção ao Fluminense promete ser quente. “Vamos fazer um jogo de final. Não estou jogando contra uma equipe de um nível do nosso pra baixo. É uma equipe com nível superior”, disse o técnico do Londrina, Cláudio Tencatti, dando o tom com o qual o Tubarão encara o jogo em casa.

* Colaboraram Napoleão de Almeida, Marinho Saldanha, Jeremias Wernek, Thiago Fernandes e Victor Martins