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Chulapa perdeu Copa por agressão, mas se arrepende é de não ter batido mais

Serginho Chulapa  - Antonio Pirozzelli/Folhapress
Serginho Chulapa Imagem: Antonio Pirozzelli/Folhapress

Felipe Pereira

Do UOL, em São Paulo

22/09/2017 04h00

Serginho Chulapa estava voando em 1977. Artilheiro do Campeonato Brasileiro, vaga cativa na seleção e na boca de ser o camisa 9 na Copa da Argentina. Tudo desmoronou quando deu um bico no bandeirinha que anulou um gol dele. O gancho foi tão grande que perdeu o Mundial. Sabe o que ele pensa disso? “Não tenho arrependimento. Só me arrependo de não ter batido mais nele".

Serginho também não tira o corpo fora e diz quem foi o causador do problema. Afirma que poderosos do futebol aproveitaram para beneficiar outro atleta. Na visão dele, o tribunal sediado no Rio de Janeiro deu uma suspensão grande para Roberto Dinamite, do Vasco, ser titular na Copa de 1978.

O lance que tirou Serginho da Copa aconteceu na partida do São Paulo contra o Botafogo de Ribeirão Preto válida pelo Brasileirão. Uma roda de jogadores se formou ao redor do auxiliar e o atacante aproveitou para dar um biquinho no bandeirinha. Esperava um gancho, mas não os 12 meses a que foi condenado. Perdeu a Copa e a final Brasileirão. Abaixo o relato do ex-jogador fala sobre a situação.

Serginho Chulapa - Almeida Rocha/Folha Imagem - Almeida Rocha/Folha Imagem
Imagem: Almeida Rocha/Folha Imagem

A perda da Copa

Tinha as rivalidades Rio, São Paulo, Minas. Eu dei mole também. Tudo é julgado no Rio e aproveitaram a chance para levar o outro (Roberto Dinamite) lá e me deram um gancho. Acho que esses caras que me julgaram já morreram tudo, com certeza já tão no inferno.

É que nessas coisas de julgamento no Rio existe um peso e duas medidas. Se for um jogador de outro estado e eles puderem ferrar, ferram mesmo. Se for do Rio, eles amenizam. Agora, acho que mudou a mentalidade, mas na minha época era assim.

Não vi nada (da Copa). Assistir o quê? Não me frustrei porque eu não fui não. Mas a minha Copa era a 78, na Argentina porque foi de choque, mais física. A Copa de 82 (Serginho foi titular) talvez não. Era um time técnico. Mas não tem arrependimento.

Recebi a notícia da suspensão em Campo Grande. Tava no hotel concentrado para jogar com o Operário no outro dia. O Chicão me avisou. Eu tava sabendo que os caras iam fazer isso, aquela velharada do Rio do Janeiro. Eu dei chance e tinha que arcar com as consequências. Mas não achei que ia ser um ano. Uns quatro meses, cinco meses eu esperava. Um ano, não.

Serginho Chulapa quando jogava no São Paulo - Folhapress - Folhapress
Imagem: Folhapress

A confusão com o Botafogo (SP)

Fiz o gol e o bandeirinha anulou. E se eu soubesse que ia tomar um ano, cumpri acho que sete meses, eu tinha dado mais nele. Arrancado a cabeça dele fora se soubesse que um biquinho ia dar um ano. Mas é outra coisa que não tenho arrependimento. Só me arrependo de não ter batido mais nele.

Fiquei treinando no São Paulo. E graças ao São Paulo, se fosse outro clube, talvez eu seria até vendido, sei lá... Mas me pagaram direitinho. Esperei minha volta, teve uma anistia. Hoje nego joga drogado e pega 50 dias, 100 dias. As vezes não pega nada. Infelizmente é assim. Não tem uma coisa exata.

Serginho Chulapa comemora gol no Pacaembu - Folhapress - Folhapress
Imagem: Folhapress

Mesmo suspenso, foi a final

Eu tava em casa. Em casa não, no bar. Então o Minelli (treinador do São Paulo) cismou que tinha que ir lá. Ligou pro Muricy (Ramalho) pra me achar. Ele procurou a manhã todinha e foi me achar era meio-dia. O jogo era as 4h. “O Minelli quer você lá. Tem passagem comprada e tudo”.

Eu falei ‘fazer o que no Mineirão?’ E ele respondeu ‘você tem que ir’. Me levou pro Aeroporto em Congonhas. Fui num aviãozinho pequenininho, chovendo pra caramba. Me viram chegando. Quando coloquei a roupa e comecei a aquecer, o Minelli abriu a porta do vestiário. Foi aquele alvoroço todo.

A imprensa foi pro vestiário do Galo: o Serginho tá de uniforme. E foram atrás do Reinaldo (atacante do Atlético MG), que não podia jogar. Ele também vai jogar também. Depois fechei a porta, coloquei a roupa e fui para a arquibancada ver o jogo. O Mineli só queria fazer essa bagunça. Pelo menos valeu a pena. Se eu fosse lá e não ganhasse o jogo ia ser diferente.

A volta aos gramados

Eu tava com vontade a mais. Voltei bem, no meu peso e dei sequência na minha vida normal. Aqueles facínoras do Rio que me julgaram aproveitaram a chance para levar o outro. Não mudou nada no meu jeito de jogar, voltei a ser a mesma coisa que antes. Na verdade, arrumava contusão, mas pensava um pouquinho mais, controlava um pouco mais.

Quando tava parado, fiquei jogando na várzea. O clube não ligava de jogar para manter o ritmo. Domingo era fatal e eu não me machucava. O São Paulo foi correto, ficou me pagando sem eu jogar. Voltei e tive de retribuir. Fomos bicampeões Paulista 80/81.

Retribui sendo o maior artilheiro da história de um clube como o São Paulo. Não é pra qualquer um. Fui artilheiro dos campeonatos de 80 e 81. Fiz gol nas duas decisões, paguei até dobrado.

Não posso reclamar de nada na minha vida. Arrependimento comigo não existe.