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Auditoria da Arena Corinthians revela curto-circuito e queda de mármore

Dassler Marques

Do UOL, em São Paulo

26/09/2017 04h00

Realizada pelo escritório de advocacia Molina & Reis a pedido do próprio clube, uma auditoria referente à Arena Corinthians reportou uma série de acidentes e incidentes que ocorreram no estádio corintiano até o começo de 2017. Ao longo do documento de 36 páginas, obtido pelo UOL Esporte, são relatados problemas descritos como "decorrentes de defeito de obra", em menção velada à construtora Odebrecht.

Além de casos já tornados públicos, como o acidente com guindaste que vitimou dois operários em 2013, a queda de estrutura de teto em 2016 e vazamentos de volume considerável no estacionamento, outros episódios são citados nesse "relatório de coordenação da auditoria da obra da Arena Corinthians e seus respectivos reflexos". Os principais são um curto-circuito com princípio de incêndio e a queda de uma placa de mármore que poderia ter atingido um funcionário do estádio.

Nos últimos meses, o Corinthians recebeu duas auditorias encomendadas sobre a Arena. O escritório de advocacia Molina & Reis coordenou o processo e entregou seu relatório ao presidente Roberto de Andrade. Nesse documento, estima em R$ 185 milhões as obras não realizadas pela Odebrecht em relação ao projeto original. Além desse trabalho, a empresa de engenharia Cláudio Cunha realizou auditoria especializada, recentemente entregue.

Por fim, em iniciativa do Conselho Deliberativo do clube, um grupo de conselheiros da situação e da oposição também auditou documentos e questionou envolvidos no processo para montar seu próprio relatório. Na última segunda-feira (25), o Conselho teve uma reunião para justamente tratar desse tema.

Curto-circuito e princípio de incêndio em ar-condicionado

De acordo com a auditoria, às 10h40 do dia 17 de setembro de 2015, "houve curto-circuito e explosão com o Chiller número 04 na Arena Corinthians, ocasionando princípio de incêndio com considerável quantidade de fumaça, além de danos a equipamentos próximos à área do incidente". O episódio ocorreu durante manutenção realizada por funcionário da empresa Heating & Cooling - o Corinthians confirmou que a companhia segue como responsável por esse serviço.

O relatório preparado pelo escritório Molina & Reis ainda fala que o acidente, que não atingiu nenhuma pessoa, foi ocasionado por "falha de funcionário no exercício de suas atribuições por energizar aparelho que se encontrava em curto".

A auditoria afirma que o referido funcionário, que não teve o nome citado, trabalhava com curso específico para esse tipo de serviço fora do prazo de validade. De acordo com fontes próximas à Arena Corinthians, o seguro de operação do estádio foi acionado e ressarciu os danos causados.

15 episódios com infiltrações e vazamentos

relatório - Reprodução - Reprodução
Relatório aponta diversos casos de vazamentos e infiltrações
Imagem: Reprodução

Um dos itens do relatório elaborado pela Molina & Reis enumera uma série de infiltrações e vazamentos em diferentes áreas e períodos no estádio (veja aqui o documento original).

Na avaliação dos auditores, o "problema pode residir em falhas no procedimento de construção, o que deve ser aprofundado em auditoria de engenharia específica", afirma. Esse trabalho já foi realizado na sequência.

Fonte ligada ao estádio e ouvida pela reportagem, porém, aponta boa parte desses vazamentos e infiltrações como consequência de procedimentos para implantação de estruturas temporárias para a realização da Copa do Mundo nos setores Norte e Sul.

Queda de placa de mármore quase atingiu funcionário

Em consequência das infiltrações, conforme aponta relatório, a Arena Corinthians foi alvo recente de problemas com quedas de forros de gesso em corredores, banheiros e até mesmo locais próximos aos portões de acesso. Essa sequência de incidentes teve início em 2013 e durou até a conclusão dos trabalhos, em 2016. A auditoria de Molina & Reis ainda aponta que "novos incidentes podem ocorrer".

Também são citadas ao menos seis quedas de placas de granito ou mármore ao longo dos últimos quatro anos. Esses episódios ocorrem em diferentes períodos e locais da Arena: em julho de 2014, por exemplo, é relatada a queda de mármore do elevador nível 6, no setor Oeste, logo após a Copa do Mundo. Já em março de 2016, é apontada a queda de granito no pilar do portão N, no setor Leste. (veja aqui trecho do relatório que trata do assunto)

O episódio mais importante desse segmento ocorreu no dia 18 de outubro do ano passado, conforme aponta a auditoria. O incidente foi a queda de uma pedra de mármore na entrada do elevador 7 no prédio Oeste. O texto do auditor afirma que o fato ocorreu "segundos após um funcionário ingressar no elevador" e foi considerado como "imprevisível", já que não era possível identificar qualquer risco de queda visualmente. Também foi apontado como "com alto potencial de risco à vida".

A escritório Molina & Reis ainda afirma, no documento, que o incidente foi registrado em vídeo no circuito interno, além de constar em relatório específico. Em resposta ao fato, a área foi isolada na sequência.

Odebrecht e Corinthians escondem documentos, diz auditor

Odebrecht - Rodrigo Paiva/RPCI/Folhapress - Rodrigo Paiva/RPCI/Folhapress
Imagem: Rodrigo Paiva/RPCI/Folhapress

Contratado pelo Corinthians para coordenar o processo de audição, o escritório alega em seu relatório ter sofrido para obter documentos e contratos dos mais diversos ao longo desse processo. O texto diz que houve "demora excessiva na entrega de documentos solicitados, necessidade de repetidas cobranças, envio de arquivos incompletos ou sem histórico, ausência da entrada de muitos outros", alega.

De acordo com o auditor, o Corinthians decidiu contratar a auditoria por conta própria porque a Odebrecht, que compõe o Fundo Arena Corinthians, "visava interferir no processo". Ao longo do processo, porém, o próprio clube é citado: "prestou escassos esclarecimentos", resume a auditoria.

Arena vê incidentes comuns; Para Odebrecht, tudo sanado

Por meio de nota oficial, a Arena Corinthians comentou os episódios mencionados em auditoria encomendada pelo clube.

"A respeito dos incidentes apontados em relatório, informamos que os mesmos são tratados caso a caso e corrigidos pela equipe de manutenção predial da Arena Corinthians ou repassados aos responsáveis pelo serviço, executado à época da construção da Arena, para imediata correção. Esclarecemos, ainda, que são incidentes comuns, dada a grandeza do empreendimento, e que não trazem qualquer risco à integridade dos frequentadores da Arena Corinthians", afirmou.

A Odebrecht, por sua vez, informou que os problemas identificados decorrentes de garantia de obra foram devidamente sanados. A construtora da Arena Corinthians salientou que, nos últimos seis meses, ao menos, não recebeu qualquer tipo de acionamento sobre as obras do estádio.

A empresa ainda foi questionada sobre a auditoria ser exclusivamente do Corinthians e alegou que essa foi uma decisão do clube. O Fundo Arena Corinthians, composto pela construtora, pela Caixa Econômica Federal e pelo Corinthians, esperava que o trabalho fosse feito por uma auditoria independente, devidamente credenciada e referência no mercado.