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Professor cruzeirense faz piada com atleticanos e agora teme ser demitido

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Imagem: Reprodução

Adriano Wilkson

Do UOL, em São Paulo

27/09/2017 13h45

Uma brincadeira sobre a rivalidade entre cruzeirenses e atleticanos se transformou numa enorme polêmica em uma escola estadual de Belo Horizonte. Na véspera da final da Copa do Brasil nesta quarta-feira, o vice-diretor da Escola Estadual Divina Providência escreveu um post no perfil da escola no Facebook liberando os alunos a irem com a camiseta do Cruzeiro para apoiar o time, que enfrenta o Flamengo logo mais.

No final, o texto da escola fazia uma provocação ao rival Atlético-MG. “A camisa do Atlético-MG só será liberada quando ele ganhar algum bicampeonato.”

A postagem acabou viralizando, e o perfil da escola recebeu centenas de comentários e milhares de curtidas em poucas horas. Além de elogios, a escola recebeu críticas. O autor do texto foi o professor de Educação Física, atual vice-diretor e cruzeirense Gabriel Nunes, de 40 anos.

Ele afirma ter recebido uma ligação de alguém se dizendo da Secretaria de Educação do Estado ameaçando processá-lo por incitar a violência entre os alunos e dizendo que ele poderia ser exonerado. A secretaria nega que tenha entrado em contato com o professor.

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“Eu fiz a brincadeira ontem, o intuito era ficar só entre os nossos alunos, mas viralizou e perdemos o controle”, disse o professor. “Tinham alguns comentários saindo do nosso foco, da nossa intenção que era promover um clima agradável entre os alunos, aumentar a interação entre eles.”

Gabriel resolveu tirar a postagem do ar e em seu lugar colocou uma nota esclarecendo o caso. “A nota dava uma alfinetadinha no rival Atlético. Na mesma hora, eu repensei e tirei.”

Nesta quarta-feira, muitos alunos chegaram à escola com a camisa do Cruzeiro, e alguns também foram com a do Atlético. Segundo o professor, o clima foi de tranquilidade e gozação sadia.

“A escola fica numa região carente, e os alunos aqui não têm acesso ao Mineirão por causa do preço dos ingressos. A postagem era uma forma deles confraternizarem com a gente. Mas mais pro fim do dia, recebi uma ligação de alguém se dizendo da Secretaria de Educação, e pelo tom acredito fielmente seja, ameaçando me denunciar ao Ministério Público Estadual por incitação à violência, dizendo que eu poderia ser exonerado. Eu respondi apenas: ‘Venha aqui à escola para saber o tamanho da violência que está aqui’.”

Gabriel disse lamentar a repercussão negativa que seu texto gerou e que tem recebido outras ameaças via redes sociais, o que o fez desativar os perfis. “Minha esposa está muito nervosa e chorando. Resolvi dar um tempo.”

Na página da escola, era possível ver momentos em que os estudantes praticavam esportes em campeonatos internos. Recentemente, o professor organizou uma “Libertadores” em que 16 salas vestiram a camisa de 16 equipes envolvidas na atual edição do torneio. Na final deu Grêmio x Boca, e a disputa de pênaltis foi narrada por Gabriel.

Além de sua própria versão da Libertadores, a escola já organizou as “Olimpíadas do Divino”, torneios de tênis de mesa e apresentações musicais envolvendo alunos e professores.

“Estamos em uma zona de vulnerabilidade social e com essas atividades temos alcançado resultados ótimos”, disse Gabriel, vice-diretor há dois anos. “A escola não tem depredação, não tem pichação, casos de roubo são raríssimos.”

Ele disse que já conversou com seus alunos, colegas e superiores sobre a brincadeira que fez, e classificou a repercussão negativa como uma “bobagem”. “Expliquei aos alunos o que estava acontecendo, pedi pra não irem de camisa de time amanhã, independente do resultado hoje. E estou aguardando uma notificação formal pra poder me defender, me explicar.”

Secretaria nega ameaça a professor, mas diz desaprovar provocação

Procurada pela reportagem, a secretaria disse que não entrou em contato com o professor e que portando não ameaçou denunciá-lo ao Ministério Público e nem a exonerá-lo. Mas a pasta disse que desaprova a postagem e prometeu falar com a direção para reforçar o estímulo à boa convivência entre os estudantes.

A secretaria de educação afirmou que recomenda o uso do uniforme entre os estudantes, e não camisas de clubes de futebol. 

Leia a nota da secretaria:

A Secretaria de Estado de Educação (SEE) esclarece que não aprova esse tipo de atitude e que vai apurar a situação junto à direção da Escola Estadual Divina Providência e reforçar as orientações em relação ao uso do uniforme escolar e manifestações dessa natureza no espaço da escola.
 
A orientação da SEE com relação à vestimenta utilizada pelos estudantes nas escolas estaduais é de que seja feito o uso do uniforme, preferencialmente, para melhor identificação e harmonização do ambiente, salvo os casos em que o estudante não tenha condições de adquiri-lo. O ambiente escolar deve ser um espaço de respeito às diferenças, com ações que promovam a convivência democrática e que não estimulem provocações, discriminação e conflitos de qualquer natureza.
 
A Secretaria salienta que não tem conhecimento de nenhum tipo de ameaça direcionada a servidores da unidade.